sábado, 27 de dezembro de 2008

Boa sorte

Ontem me aconteceu algo curioso. Fui visitar minha antiga casa, passar em frente a ela, sentar-me um pouco na mureta, olhar para a árvore, a minha árvore, aquela que cresceu comigo e hoje é uma das maiores da rua. Bem, confesso que me entristeceu pensar na situação atual. As coisas mudaram abruptamente demais e não quero ainda julgar se as mudanças foram boas ou ruins. Alguns minutos depois de contemplar o passado, voltava para cá, pensando em todos os anos que se passaram no nº 63.

Os que sabem onde ficava minha casa devem saber também que havia uma grande confusão quanto a endereços, pois eu morava na praça que não existia. Algo meio complexo, coisas de alocação. Enfim, isso não importa. O que importa é que um pouco adiante de minha casa, havia outro nº 63, aquele que sempre era confundido com o meu. Em frente a esse, no dia de ontem, reparei que existia uma arvorezinha, curiosamente igual a minha amada árvore, mas menor, menor ainda que eu mesmo, assim como era a minha árvore quando ajudei a replantá-la. Aos pés daquela pequena arvorezinha havia um canteiro repleto de trevos. Abaixei-me para pegar um e continuei a caminhada.

Alguns passos depois, percebi que o trevo que estava em minhas mãos era um trevo de quatro folhas. Surpreso, disse ao meu irmão “vamos voltar e dar uma olhada, ali tem um canteiro de trevos de quatro folhas”. Ao retornarmos, percebemos então a “mágica”, pois todos os trevos do canteiro, sem exceção, tinham apenas três folhas. Dentre as centenas de trevos dali, eu encontrei um com quatro folhas, sem esforço ou busca, simplesmente arrancando-o aleatoriamente da terra. Lá estava ele, no canteiro que nunca foi meu, que fica em frente ao outro nº 63, no qual está hoje plantada uma muda da mais amada das árvores.

Aquele trevo ficará guardado, como símbolo da verdade contida nos ensinamentos dos antigos: eu guio a barca dos céus, eu sou o “Leme do Este”, sou o senhor que fala com a própria voz. Meu destino me pertence, aqui, lá ou em qualquer lugar para onde eu for. Foi muita “sorte” mesmo ter vivido tudo o que eu vivi até agora, muita “sorte”...

Maximiliam

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Sobre amanhã

Esse ano, como vocês que acompanham minhas cartas e minha vida devem saber, eu tenho aprendido muita coisa e algumas coisas, feliz ou infelizmente perderam o sentido. Percebi que amanhã deveria ser um dia especial, mas deveria ser tão especial quanto todos os outros dias do ano. Todos os dias deveriam significar, para os cristãos, o nascimento do Cristo em suas vidas e para todas as pessoas, todos os dias deveriam ser dias de confraternização e alegria. O Natal, nossos aniversários, o Ano Novo, tudo isso são marcos, mas marcos são pontos em que se decidiu relembrar a jornada até ali, sem uma jornada, contudo, não há o que relembrar. É por isso que amanhã não vou me esforçar mais do que em qualquer outro dia pra estar feliz, nem vou me esforçar mais do que em qualquer outro dia para me divertir, e não, não mesmo, de forma alguma vou amar alguém mais do que já amo todos os dias. Mesmo assim (e justamente por isso), desejo, como sempre desejo, que todos vocês, meus amigos e leitores, sejam muito felizes, e tenham um dia cheio de paz e alegria, não só hoje, nem só amanhã, mas sempre! Que as dádivas do Alto estejam sempre sobre vocês! Bjos e abçs! Seu amigo, Max"

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Cada folha que cai

Eu tenho inúmeras coisas pra fazer e muito pra estudar, mas minha mente não pára se meu coração estiver inquieto. Já estou escrevendo esta carta a algum tempo, se não terminasse e mandasse hoje, acho que acabaria nunca fazendo isso, então... Como foi o seu mês? Eu não escrevo muito, mas você também não manda notícias! Esse mês, pra mim, foi bem difícil. Foi um mês de mudanças, foi um mês pra aprender coisas novas, um mês de provações e, principalmente, um mês de abdicação. Saint Exupéry diz “a gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixou cativar...”. Acho que às vezes eu me deixo cativar muito facilmente e por isso tantas coisas são tão únicas, tão belas e insubstituíveis.

Há muitas escolhas difíceis, mas não pela dúvida, porque, de fato, para grandes questões, quase não existem questionamentos. As dúvidas reais, verdadeiramente sinceras, são pequenas, como uma garota escolhendo qual vestido usar naquela noite: o vermelho ou o azul (por favor, escolha o vermelho), mas para os grandes questionamentos, geralmente, sempre temos a resposta de antemão e a “dúvida” é, na verdade, pura manha. A minha dificuldade nesse mês foi tomar a iniciativa, fazer as escolhas deixarem de ser falsas dúvidas e tornarem-se atos. Certo dia aí, no começo do mês, um amigo meu me fez aprender que tão ruim quanto falar e não fazer é pensar e não agir. Torne seus pensamentos ações, assim fica tudo mais fácil.

Sabe, resistimos tanto a agir porque não sabemos as conseqüências, porque temos consciência de que somos responsáveis por todas as conseqüências dos nossos atos. No entanto, deixar de fazer por preocupar-se demais com o futuro é como pedir emprestada uma quantia que você sabe que nunca vai poder pagar. O futuro traz mudanças e mudanças nos dão medo por fazerem do comum dia-a-dia algo diferente.

Curiosamente já sou estereotipado como “diferente”. Então porque me preocupar se vou mudar? Acho que sou um dos poucos casos ambíguos em que me tornar comum seria diferente! De repente eu penso de novo na minha casa, sentirei falta das minhas roseiras, da minha árvore, do meu cachorro, até das crianças que brincam no parquinho da pré-escola em frente de casa. Eles me cativaram, o tempo que “gastei” com eles foi o que fez deles únicos para mim. Nos mudamos, finalmente. Tudo é novo, mas curiosamente familiar: também há uma praça em frente à janela da sala, nela há uma outra pré-escola, há muitas árvores por aqui e também há flores na entrada do prédio. Mesmo assim, as crianças, as árvores e as flores são para mim como mil outras crianças, árvores e flores: belos, mas vazios.

A mudança que me torna Diferente de todos os outros é a mesma mudança que transforma algo vazio em algo insubstituível. Será que existe mesmo algo insubstituível? Queria que você pudesse me responder. Eu sempre me pergunto acerca disso, pois se algo é único para mim, então deve ser insubstituível. Bem, o fato é que abdicar de algo que nos é caro, seja uma casa, seja uma rosa, seja um amigo, é sempre uma coisa muito difícil. A vida é efêmera e talvez nessa efemeridade esteja o segredo da abdicação: se não abdicarmos, então nada será diferente, nada mudará e nada será repleto de significado, único e querido. Como uma árvore que desejasse conservar cada uma de suas folhas para sempre, nós não suportaríamos o peso de uma copa tão frondosa, as folhas velhas e mortas nos coroariam da cor do outono sufocando o crescimento das mais jovens e verdes experiências, por fim, sem podermos respirar novos ares, definharíamos até a morte e, ainda de pé, esperaríamos que os vermes consumissem nossas raízes, o vento nos derrubasse ou, na melhor das hipóteses, que nos fizessem virar cinzas numa lareira cheia flamejante.

Se você fosse uma árvore, qual destino preferiria? Imagino que você aceitaria abdicar das folhas velhas. Todavia, como ser humano, ambíguo e completo por ser racional e sentimental, você faz o mesmo? A árvore é uma grande lição, mas muitos de nós damos atenção apenas àquilo que está acima da terra e se esquecem que nas profundezas estão as raízes, completamente indispensáveis e insubstituíveis: elas sim são únicas. Não que as folhas não tenham seu papel, claro que tem, tudo tem um papel a cumprir, mas poucas raízes são por toda a vida. As folhas caem, mas nada na natureza se perde, cada uma delas é consumida e se torna alimento para a própria árvore, nutre a terra onde estão suas raízes. A árvore cresce para cima e também para baixo, o que está embaixo é como o que está em cima, a vida é sempre vida.

Tudo isso é muito bonito não é? Entretanto cada um escolhe seus próprios caminhos, meu dever é só te falar das possibilidades que eu mesmo consigo enxergar, de repente há outras ou essas só servem para mim, não sei. Só tome cuidado para não agarrar demais as folhas mortas, de repente você acaba se sufocando. Espero que você fique bem! Não esqueça de me responder! Até logo!

Seu amigo,

Max

domingo, 23 de novembro de 2008

Vê como eu vejo

É pouco provável que você leia essa carta, entretanto, eu preciso dela, pois os sentimentos que expresso através dessas palavras, se ficassem contidos em mim, renderiam frutos malditos, essa carta, portanto, apesar de destinada a você, é necessária a mim. Eu nunca lhe escrevi carta alguma e não porque não tivesse o que lhe dizer, mas por imaginar que nada do que eu dissesse faria diferença. Para mim, desde o tempo que me lembro de você, sua mente e seu coração estão completamente fechados, impenetráveis para quaisquer palavras ou atos.

Só posso imaginar que é sua falta de sensibilidade que faz com que você aja como age, pois sempre me parece que você nunca percebe nada, nunca vê nada de errado, nunca entende o que aconteceu. Queria que um dia você pudesse sentir o que eu sinto, o que os outros sentem, queria que você tivesse uma visão mais profunda do que me parece que tem, só assim imagino que você entenderia o que eu quero dizer.

Não consigo te culpar totalmente, afinal, estaria culpando um cego por não saber andar sozinho, mas não o isento de culpa, pois o cego que se dispõe, aprende a andar com sua bengala e então, para ele, o mundo escuro se torna tão vivo e visível quanto o nosso. Rogo a Deus que um dia você possa ter, mesmo que apenas por um segundo, um vislumbre da Visão e que perceba o quanto é estúpido vendar-se a si mesmo para esconder-se do feio da vida.

Há muitos meios de entrar num lugar, você pode bater à porta e esperar que seja aberta, pode pegar uma chave e abrir a porta por si mesmo, pode entrar escondido pela janela, como um gatuno, algumas pessoas, de tão conhecidas, já até encontram a porta aberta. Acredito que um dia a porta tenha estado aberta para você, mas sou um ser humano como qualquer outro e nossos instintos nos fazem guardar o que é nosso do perigo. Temendo que algo pudesse ser destruído, tranquei a porta, mas quando você batia, eu ia abri-la. Talvez um dia eu tenha demorado um pouco para atender e você, impaciente como é, resolveu entrar pela janela. Não foi uma surpresa agradável, seus meios me assustaram e, depois que você saiu, fechei também a janela. Então você conseguiu uma chave e trancou a porta pelo lado de fora. Eu nada podia fazer, mas você ia e vinha quando bem entendia. Ora suas visitas me alegravam, ora me entristeciam.

O tempo passou e as visitas de todos os meus outros amigos, conhecidos, familiares e mesmo aqueles desconhecidos que só “deram uma passadinha”, todas essas visitas me fizeram um Triunfante, um guerreiro mago, aspirante a senhor de mim. Certa vez, não quero nem me lembrar porque, você perdeu sua chave. Gritava do lado de fora, mas eu nada podia fazer, você trancara a porta pelo lado de fora. Então você tentou a última forma de entrar: resolveu arrombar a porta. Essa técnica poderia funcionar, mas fazia muito tempo que você não entrava, não sabia em que eu havia me transformado, não imaginava que sua força e sua brutalidade não seriam suficientes, porém, mesmo eu tentando dissuadi-lo, você tentou. Os golpes nunca me atingiram, afinal, nunca foram golpes físicos, mas eles causaram um estrago tal nos mecanismos da fechadura que seria impossível abrir aquela porta novamente. Você, não eu, se trancou do lado de fora, para sempre.

É triste sabe, de vez em quando eu gostaria que você estivesse aqui do lado de dentro, mas não está. Queria ao menos que as lembranças que tenho de você fossem as melhores, mas não são. No entanto, não me deixo levar por isso, não posso me martirizar por algo que você mesmo provocou. Passou um bom tempo para eu entender isso, afinal, as vezes você ainda tenta arrombar a porta. Hoje, quando eventualmente passo em frente à porta quebrada, nada desperta em mim a não ser indiferença. Sinto muito se isso te entristece, porque a mim, sinceramente, não mais.

É duro, no entanto, ver que você repete isso com muitas outras pessoas, que você não consegue se conter e, infelizmente, vejo que na mesma medida em que eu abro portas, você as fecha. Será que um dia você vai perceber a tempo? Espero que sim, afinal, se logo mais, com tanto ainda pela frente, você não tiver mais nem porta onde bater, perceberá que de nada adiantou o que deixou para trás. Aprendi com os magos que em casos assim há uma única solução, perigosa, poderosíssima e infalível: o fogo. As chamas purificam, pois consomem completamente, extinguem a treva através da luz que emanam, devolvem o pó ao pó de onde veio e queimam, queimam tudo aquilo de que se aproximam. Se estiver disposto a seguir esse caminho, saiba que não pode restar nada, terá de se deixar consumir por completo, pois se sobrar algo vivo, então haverá cicatrizes horríveis demais e um trauma insuportavelmente mortal.

Como teria sido bom se você tivesse dito palavras doces, se tivesse beijado um beijo amado, se tivesse chorado lágrimas verdadeiras e deixado alguém lhe consolar... como seria bom se você deixasse de lado esse seu orgulho e uma única vez em toda a sua vida pedisse, não a mim, mas a si mesmo, perdão... espero que um dia você consiga.

Maximiliam A. H. Ferreira

Chá de sumiço

Meus queridos amigos, Espero que vocês não tenham sentido muito a minha falta (mentira, espero que vocês tenham esperado ansiosamente por notícias rs). Bem, esse "chá" novo (de sumiço) que eu experimentei nesse exato um mês sem lhes escrever se deve (como vocês verão nas cartas que eu vou lhes enviar) a alguns dias menos fáceis que causaram alguns probleminhas e me fizeram não ter muita vontade de lhes escrever. Bom, estava ansioso para voltar e, finalmente, cá estou! Mandem um "oi" de vez em quando! Tenho muitas cartas para escrever, novidades para contar para os amigos, esclarecimentos a prestar, puxões de orelha pra dar... ufa! Quanta coisa! Não esqueço de vocês, nunca! Beijos e abraços, Max

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Prato do dia: salada de borboletas

Campinas, 23 de outubro de 2008.

Bom dia! Espero que você esteja tendo um dia tão bom quanto o meu! Que dia gostoso! Faz sol, o calor está grande, mas até agradável. Eu estou tranqüilo, fiz prova na quarta-feira e a tensão rotineira passou, ao menos momentaneamente.

Já faz tempo que eu quero te escrever pra falar de borboletas, mas agora a pouco é que eu percebi que não adianta ver a planta, a borboleta, sentir a brisa, todas essas coisas inspiradoras e depois me fechar numa sala isolada da natureza, com um ar condicionado construindo todo o clima e tentar escrever, isso seria artificial demais. Compreendi que até poderia escrever sobre belezas naquela sala, mas só poderia transmitir a sensação correta se estivesse num lugar como o que estou agora. Eu estou em meio às árvores, às plantas, aos pássaros, há uma brisinha leve que de vez em quando vira um vento gostoso batendo no rosto, belas pessoas passando, pra lá e pra cá, seguindo seus caminhos.

Tenho olhado bastante para as borboletas. Desde um almoço essa semana quando uma ficou me rondando. Será que ainda vai demorar muito pra nós sermos como borboletas? Vindo de mim, visto como a pessoa mais calma do mundo, pode até ser engraçado, mas eu acho que passamos rápido demais pela vida, precisávamos ir mais devagar. Daí você ri e diz “Max, se você for mais devagar você pára!”, só que eu queria que você visse de outra forma, abstraindo completamente a minha condição de físico ouso dizer que esse devagar não tem absolutamente nada a ver com tempo e muito menos com velocidade, tem a ver sim com sabor.

Os biólogos sabem melhor, mas eu chutaria que uma borboleta tem um tempo de vida extremamente curto. Mesmo assim elas voam de uma forma tão saborosa, tão cheia de leveza. Coincidentemente ou não, acabo de ver uma borboleta morrer. Suas asas batiam desesperadamente contra as folhas secas a minha volta fazendo um barulho que me chamou atenção. Parei de escrever pra olhar. Ela era forçada a parar, abruptamente. Alguns segundos depois, há alguns metros dali, reiniciava o barulho, parava de novo. Mais uma vez voltou, a última vez, o belo pássaro de penas da cor do sol poente acaba de engolir o que ainda restava seu corpo.

Eu não entendo nada de borboletas, mas uma vez tive uma experiência incrível. Uma lagarta entrou num quarto, eu a vi percorrer um longo caminho até parar num ponto na parede atrás da porta, por horas a fio. No dia seguinte ela era um casulo esquisito. Mais ou menos uma semana depois o casulo estava vazio e uma borboleta começava a se preparar para voar pela primeira vez. No final do dia ela partiu. Borboletas vivem pouco, mudam de forma, podem a qualquer momento ter a sua cabeça arrancada pelo bico de um pássaro e, mesmo assim, elas voam por aí, dançando, como se fossem eternas e inatingíveis.

Será que um dia nós seremos como elas? Poderemos saborear os momentos de nossa curta vida apreciando o gosto de cada u? Passar devagar pela vida não quer dizer ser calmo ou lerdo demais, quer dizer tentar sentir profundamente o gosto de cada segundo, se azedo ou doce, amargo ou dissabor, salgado ou picante, não importa, o que importa é degustação.

Preciso estudar. Estou com saudades de sentar num gramado só pra pensar, mas agora não dá, quem sabe outra hora, outro dia, com você. Não somos mais crianças, o futuro é muito incerto, pelo menos o suficiente pra não jantarmos tão rápido, só pensando na sobremesa. De repente, daqui a pouco, você vê que nem tem mais sobremesa pra você! Aprecie cada pedaço dessa salada de borboletas que eu cacei pra você. Até breve! Bom apetite!

Max

E aí blz?

Espero que você aproveite bem o feriado. Muito obrigado por me dar aquele sol. Durante a minha prova eu estava cansado, um pouco estressado, daí coloquei a mão no bolso e senti a sensação nova e encorajadora de segurar uma estrela. Dá a sensação de poder fazer tudo, absolutamente tudo desde que eu queira mesmo e me convença da minha Vontade. Foi uma sensação conhecida, mas ao mesmo tempo nova, me lembrou o que você disse sobre o ato de dar e receber ser só uma concretização de algo que já é real desde a intenção. Alguém me perguntou porque eu te dei o meu tempo já que ele me era tão querido, poderia explicar simplesmente lembrando uma frase do SdA: É meu para eu dar a quem quiser, como meu coração. É por isso que eu gosto desta nossa fraternidade misteriosa e surpreendente. Bom, vê se estuda também! Feriado não é só festa não! Rs... Abração!

MX

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Olhos nos olhos

Boa noite! Tudo bem com você? Ainda há pouco ocorreu algo interessante. Estava chegando em casa, com mala numa mão e guarda-chuva na outra. No meio da ampla calçada havia um gato. Eu percebi que ele estava olhando nos meus olhos. Comecei então a fitá-lo. Estava me aproximando cada vez mais. Ele não se movia. Quando parei ao lado dele, ele não esboçou reação, apenas continuou a me olhar. De repente seu olhar fica mais tenso, firme, então ele abaixa a cabeça. Fica olhando para o chão. Eu venho para casa.

Não sei realmente o que aquele gato estava fazendo ali, nem sei porque dei tanta importância ao fato. Posso não saber a cor dos seus olhos, não lembro a de quase ninguém, nem dos meus familiares e melhores amigos, no entanto, se você me pedir para descrever seu olhar eu farei um relato minucioso e verdadeiro como poucos poderiam. Apesar de meu símbolo favorito ser um olho, meu amor não é pelos olhos, mas pelos olhares. A sedução está no olhar. Olhos de gato numa noite escura. Deixe os olhos abertos então todos poderão ver dentro da sua Alma.

Queria que você me fizesse um favor, se puder. Será que você conseguiria o original, em inglês, desses versos:

“Fui para os bosques para viver livremente.

Para sugar todo o néctar da vida,

para aniquilar tudo o que não era vida,

e para quando morrer, não descobrir que não vivi.”

Eles estão no filme “Sociedade dos Poetas Mortos”. Já faz uns bons anos que eu assisti. Se não viu, veja, é um ótimo filme. Foi muito bom relembrar esse texto. Ele é uma das melhores mostras do que é a minha felicidade. Eu tenho aprendido e, devo muito disso a você, me ensinando a aniquilar tudo o que não é vida. E como isso dá trabalho! No entanto basta querer para conseguir. Além disso, qualquer sacrifício ainda é bem melhor do que morrer e descobrir que não se viveu, não é mesmo?

No bosque tem gatos a espreita. Prontos pra nos fitarem com seu olhar de julgamento e censura. Gatos pretos, gatos brancos, gatos com pelos brilhantes e foscos sob a luz do luar. Pelo jogo de olhares me deixo guiar. Eu observo olhares quentes, provocantes, olhares sob a luz do luar antigo. A mesma Lua que você vê nessa noite quente. A Lua que liga olhares distantes por um sorriso. Quarto crescente. Você tem medo de deixar os olhares se encontrarem? Tem medo do que possam ver? Acho que na verdade você tem mais medo do que você possa ver: Verdade. Ora, estar no bosque de olhares é estar no mundo selvagem: descobrir segredos pra poder provar do néctar da vida, vida livre, vida real. Quer tentar? Olhe pra mim... Vê se vive hein! Olha pra viver, vive pra olhar! Ah... Esse seu olhar!

Beijos (de olhos bem abertos),

Max

sábado, 11 de outubro de 2008

Fiat Om.

Olá! Como vai você? Espero que as coisas estejam bem! Bom, estou te escrevendo porque comecei a ouvir um monte de músicas e acabei pensando em você. Daí vieram outras pessoas, lembranças, coisas que os sons me faziam sentir. Em cada nota havia algo diferente, novo e maravilhoso, a bela melodia da vida. Alguns acreditam que a base do Universo está no som, nas vibrações, nas ondas de cordas invisíveis. Seja para hindus ou cristãos a primeira manifestação do Todo veio a partir do som da voz do Criador.

Pra mim a música é uma forma da “Grande Arte”, é um meio de se chegar a essência das coisas, na essência de nós mesmos. Quando eu ouço uma música ela penetra no fundo do meu ser, me faz sentir o que ela tem pra dizer, cada nota é a manifestação de um sentimento vivo dentro de mim. Somos uma grandiosa música, que nunca pára. Você pode imaginar como seria a minha música?

Nasci num único som, a batida leve dum tambor. Minha mãe diz que não chorei logo, mas meu coração estava batendo dentro do peito. Assim começa minha sinfonia, só com um “tum-tum”, devagar, baixinho, sem perspectiva alguma, sem um rompante complexo, sem inúmeros acordes e notas. Eu vim ao mundo quase em silêncio.

As pessoas que nos cercam podem fazer planos sem conta e tentar prever nosso futuro, podem nos dizer como fazer certas coisas e nos obrigar muitas outras, no entanto, a próxima nota é a gente que toca. Somos os músicos da orquestra regida pelo Destino. Ele nos impõe ritmos, nós controlamos a melodia.

De repente eu me vejo aqui, já muito distante daquele quase silêncio. Uma partitura enorme ficou pra trás. Já toquei órgãos de tubo, guitarras elétricas, violinos e violões, um belo sitar indiano, uma bateria ensurdecedora, um piano... Nunca há um compasso de espera. Nossa essência não pára.

E a nossa música se entrelaça, se compõe mais e mais, nossas notas, sozinhas, se unem e formam acordes. É assim com a gente, essa carta é minha música tocando dentro de você. Feche os olhos e ouça. E se um dia nossos acordes se tornam dissonantes, se as vibrações sonoras das nossas músicas estão desarmônicas, o nosso maestro nos expulsa da banda e manda cada um ir tocar no seu canto. É assim, porém você não pode apagar a partitura e minha música segue com você, marcada junto da sua, pra sempre.

Claro que não posso e é até infantil falar sobre isso, mas se pudesse, escreveria lá adiante na minha partitura umas notas agudas, de violino talvez, colocaria um coro de muitas vozes, as palavras cantadas não importam, desde que fossem verdadeiras. Unir-se-iam a eles muitos instrumentos, todos com uma melodia belíssima e agradável, forte em sua suavidade como rugas num rosto infinitamente amado e amador. Então, de um em um, eles iriam calar-se, cada soprano e cada tenor, os alaúdes e as harpas, os pratos e também os violões, cada um pararia, delicadamente. Por fim, restaria um “tum-tum”, não num tambor, como no início, mas tocado com um único dedo no meu amado piano. Eu sorriria e assim, abruptamente, cessaria minha última nota.

Maximiliam

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Sonho vermelho de rosas e vinho

Acabei de acordar com um telefonema do meu pai para tratar assuntos pessoais. Não são nem oito horas da manhã. O fato é que o telefonema interrompeu um sonho. Era um sonho tão marcante que minha primeira reação depois de desligar o telefone foi levantar, num pulo, e escrever essa carta. Sinceramente não sei quem é que vai recebê-la, isso não é importante no momento, no entanto sinto que é importantíssimo que eu escreva logo, enquanto o sonho ainda está queimando um pouco dentro da minha cabeça.

Havia uma festa, num navio, como se fosse um cruzeiro ou algo assim. Alguns amigos e amigas estavam presentes. Não importa quem sejam. Uma amiga tinha uma garrafa de certo “vinho cubano”, uma bebida completamente transparente, como água, numa garrafa com essas duas únicas palavras escritas:

V I N H O

C U B A N O

Só o que lembro é que ela me oferecia e eu dizia “Não, obrigado, não consigo beber nada que não seja vinho tinto”. A garrafa havia sido trazida para dentro do tal cruzeiro. Isso era completamente legal. Só o que não se podia fazer era sair com ela ou guardá-la no bar depois de ter entrado com ela. Ela teria que ser consumida ou simplesmente descartada. Faltava pouco para acabar. Minha amiga (que por sinal não bebe) se desfaz da garrafa.

Cenas aleatórias, coisas de sonho, então, uma discussão. Uma das garotas acaba brava ou magoada com alguém. Todas elas somem. Já era noite. Pelo que percebo iríamos embora logo, o passeio havia acabado. Numa outra parte do tal navio, quiçá em frente aos quartos, alguns garotos estão sentados e atrás deles há roseiras diferentes, caules longos e grossos se estendendo pelo chão, uma única rosa gigantesca em cada ramo. Então eles começam a conversar, sobre as garotas, sobre o que havia “dado errado”.

Não entendo porque, porém começo tentar a cortar as rosas. Algo me diz que queria que uma delas fosse minha. Elas estavam em alta conta com sua dona (sim, elas pertenciam a alguma das garotas). Eram flores raras, lindíssimas, rosas como eu nunca teria oportunidade de ver novamente. Não participava da conversa dos garotos, ficava de um lado para o outro tentando cortar uma rosa. Penso agora que talvez quisesse dá-la a alguma das garotas.

Algo finalmente me chama a atenção na conversa dos amigos. A garota que possuía as rosas queria se desfazer delas, a todo custo. Talvez a lembrança daquele lugar fosse insuportável. Como eram muito caras, um dos garotos ofereceu um tênis que valia seis vezes menos e ela lhe vendeu a flor. Pelo que eles conversavam, cada uma delas deveria custar no mínimo R$300,00. Precisava saber quem era a garota, olho para eles como se os interrogasse. Eles dizem que ela está no quarto ao meu lado. Paro de cortar as rosas. Bato na porta. Ela abre, vê as rosas no chão, fecha a porta sem dizer uma palavra.

“Sabia que era ela” digo eu. Só não entendo porque sabia. Nem entendo porque isso era tão importante para mim. Continuava a tentar cortar a minha rosa. Era extremamente difícil. Os caules eram fortes, a roseira estava profundamente viva, agarrada a vida, agarrada a uma terra que não parecia existir. A tesoura não corta, não corta e eu preciso ir embora. Logo ela vai sair e talvez até ateie fogo às flores. Por quê? Não sei. Quero uma rosa, uma rosa rara! Está quase feito, falta pouco, quase, quase... Logo mais meu telefone tocou. Acordei. Acabou-se o sonho. Havia conseguido minha rosa? Não importa.

Talvez o que sinto nesse momento seja apenas uma grande bobagem. Porque um sonho assim, a princípio tão simples, me marcou tanto? Não consigo entender. Tudo o que gostaria de dizer a você, meu caro destinatário incógnito, é que sinto que há uma rosa agarrada a vida, esperando por uma chance. Essa rosa é rara, é caríssima, é única. Contudo, se minha intuição estiver certa, você a está tentando cortar, por uma bobagem, por algo que eu não sei o que é. Talvez seja orgulho, talvez seja dúvida, talvez seja apenas medo. Meu conselho: não faça isso. Rosas são sagradas. Nenhuma riqueza que possam te oferecer por ela valerá tanto quanto destina-la a alguém que vá amá-la como você ama. A verdade vale mais que tudo.

Carta estranha de se receber, não? Bem, é só isso. Espero que ela chegue no tempo certo, seja você quem for. Saudações!

Maximiliam

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Ser ou não ser não é bem a questão...

Essa carta deve estar lhe chegando às mãos na hora certa. Poderia ter escrito antes, poderia ter escrito depois, mas muitas coisas me influenciaram para que escrevesse agora. Podemos nos separar por um mês, uma semana, talvez até por anos, mas quando nos reencontrarmos seremos, um para o outro, amigos, ouvintes e conselheiros.

Você já leu Shakespeare? Muito embora ele não esteja na minha lista de “grandes sábios”, tenho que admitir que alguns de seus personagens são verdadeiros mestres. Isso não significa que eles sempre digam coisas boas, nem que agem sempre perfeitamente, eles representam humanos e, como tal, falham. “Há mais coisas no céu e na terra, Horácio, do que sonha sua filosofia” disse Hamlet. Não é no racionalismo da filosofia Humanista de Horácio que Shakespeare antevê sua Verdade, mas na análise do Todo como fruto do equilíbrio entre o conhecido e o oculto.

Você não pode ver agora a finalidade do que está se passando. Talvez não veja nunca, não sei. Mesmo assim, você já percebeu que as mudanças, crises e provações, tudo isso te conduz pela “boa estrada”. Talvez você esteja sofrendo mais do que tenha dito e talvez mais até do que eu possa ter lido no seu olhar. O sofrimento, no entanto, passa. Se nem mesmo coisas maravilhosas como amor podem durar eternamente, é certo que o sofrimento não será para sempre.

Falando em amor (e como é bom falar de amor!), não ligue para o que dizem os racionais, eles não crêem simplesmente porque não desejam amar. Acreditar é possuir. Sei, por nossa amizade, que você acredita muito nisso. Ele pode te provar de vez em quando, te fazer sofrer, mas assim deve ser, precisamos colocar nossa fé a prova para crer mais.

Não se assuste com o sofrimento, com as surpresas, não tenha medo do desconhecido, nem de você. Vêm vindo ventos muito bons por aí, ventos fortes, talvez até uma tempestadezinha pra arrancar você do chão. Eu nem precisava te avisar, você já percebeu isso, só estou dizendo que sim, você deve acreditar, afinal, pela cor das nuvens lá em cima, até eu já notei...

Não espere, viva! Esperar é ficar inerte enquanto o mundo passa. Um sábio me falou outro dia que a felicidade não é uma finalidade que devemos tentar alcançar, mas a estrada eterna pela qual estamos passando.

Até breve! Se quiser conversar, contar, ouvir, me procure, você sabe onde me encontrar, sempre...

Maximiliam

sábado, 4 de outubro de 2008

Carta das muitas lendas das "Lágimas dos Anjos"

A chuva da primavera é uma benção. Ela me faz lembrar. Lembro dum lugar antigo, de coisas que não sei explicar e no entanto, nunca consigo esquecer. O sopro do vento na copa das árvores, o som das gotas de chuva caindo, o cheiro de terra molhada, tudo me faz sentir saudade daquela terra. Sei que você também sente, não pode fingir que não, afinal, já nos encontramos outra vez ali, longe no tempo e no espaço.

De repente, uma sensação de vazio, mas um vazio estranhamente prazeroso, daí vem uma angústia, inexplicavelmente parecida com uma ansiedade benéfica, como o suspense de um primeiro encontro. Então o coração aperta, um arrepio ardente corre pela espinha, fecho os olhos, abro os outros olhos. Estou na beira do mar.

Começo a andar pela praia, é cedo e os barqueiros estão içando as velas para saírem a pescar. Pisar naquelas areias brancas de novo é muito bom. Sentir o vento vindo do mar, o vento batendo no rosto para me receber de volta. Preciso ir para a cidade. Caminho pela antiga estrada de pedras. Pergunto-me quem será que a construiu. Acho que ninguém mais deve se lembrar.

O caminho faz muitas curvas e em vários pontos se encontra com estradas e trilhas menores, vindas do interior do país. Viajantes vão, aos poucos, se juntando a mim. A floresta vai se adensando ao redor e já não se pode mais ouvir os brados dos barqueiros nem tampouco ver a praia. Depois de muita caminhada, eu encontro a fonte na clareira. Bebo um pouco daquela água, o aroma das amoreiras em volta parece adocicá-la. Você se lembra do cheiro das árvores? Parecia haver magia até mesmo ali.

Andando por mais algum tempo a floresta vai novamente abrindo espaço. Chego ao grande arco de pedras que marca a entrada. Sorrio enquanto releio o que está gravado desde tempos imemoriáveis: “A vida é todos os caminhos”. É bom estar de volta.

As pessoas passam, gentilmente sorriem e fazem o sinal de nossa saudação. A cordialidade nos espanta um pouco, não é? Aqui as pessoas já se esqueceram da irmandade do mundo, sentimos falta disso. Na praça, a grande Torre do Olho se eleva, imutável, inatingível, imortal. Talvez ela seja a construção mais antiga depois da biblioteca sagrada, na cidade dos sábios. Na entrada, os centuriões aguardam minha chegada. Pedem-me que suba, o Conselho espera. Depois de subir por todos os andares a escadaria se estreita e chego enfim à porta de madeira na qual o Olho está gravado. Já fazia muito tempo que não ia até aquele lugar.

Uma batida: olho para ver o externo do mundo. Outra batida: vejo o externo do mundo para ver o interior de mim. Fecho os olhos e dou uma última batida: vejo dentro de mim para poder ver dentro do mundo. A porta se abre. Todos me saúdam e logo nos sentamos à mesa de pedra para conversar. O Conselho vê o lado de fora e o lado de dentro do mundo, mas não decide pelo povo que vive no mundo: uma decisão se baseia nas três visões e somente o indivíduo pode ver dentro de si mesmo.

Eles me falam sobre o que vêem. Passamos bastante tempo conversando. Eu mais ouvindo que dizendo. Finalmente eles se levantam. A audiência acabou. Devo tomar minha decisão, mas ela cabe só a mim, não lhes interessa saber o que farei: sou o senhor de meus caminhos. Entretanto, os abraços da despedida me delatam. Todos sorriem e saúdam-me com o grande sinal. A porta se fecha atrás de mim.

Desço as escadas. Encontro um ou outro conhecido. Ando sozinho pela cidade. Bato à porta de amigos e eles me recebem para uma refeição. Mesa farta de pães e bolos de cravo, chá adoçado com mel. Conversamos alegremente de tarde. Despeço-me. Ando ainda mais um pouco pela cidade. Vou a um ponto alto, no norte, para olhar a silhueta da biblioteca, longe, na cidade dos sábios. Suspiro. Preciso ir.

No caminho até o arco de pedra uma leve brisa faz cair uma chuva dourada sobre mim: é primavera e as árvores estão em flor. Você se lembra de como é a cidade na primavera? Salpicada de cores, tanta flor forma tapetes pelas ruas. Na saída da cidade, paro sob o arco e releio o que está escrito do lado de dentro: “Segue em paz por teus caminhos”. Tomo a estrada e o caminho de volta parece mais curto que nunca, logo estarei no cais. Vinda do mar, cai uma chuva fina e a terra exala seu aroma de folha e flor.

Chego na praia no horário certo, o Sol já se põe do lado oposto. Olho para o Ocidente e me viro. Caminho em direção ao barco, alguns outros também irão, inclusive você. Subimos a bordo. Zarpamos. Volto-me para o poente, faço o nosso grande sinal para alguém, qualquer um que vá permanecer, na verdade, aceno para aquela terra que estou deixando. O barco se afasta rápido da costa. Fechamos os olhos, abrimos os outros olhos. Estou de volta. Minha escolha foi feita naquele dia, longe, no tempo e no espaço. Você também se lembra?

Maximiliam

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Só eu.

Olá! Tudo bem? Espero que esteja tudo certo. As duas últimas semanas foram um tanto quanto conturbadas pro pessoal. Espero que a fase de transtornos tenha passado para todo mundo. Claro que eu não posso me colocar no lugar de todos os que sofrem, por isso não desejo nenhum sofrimento a ninguém, mas sinceramente acho que algumas tempestades de vez em quando nos fazem muito bem. Vejo que aquilo que eu vivi no meio do semestre me mostrou coisas tão maravilhosas, me ofereceu lições tão mágicas que hoje já não encaro o ocorrido como algo ruim, mas como uma oportunidade de recomeçar: um dos melhores acontecimentos da minha vida.

Resolvi te escrever pra falar de sentimentos, não de problemas. Precisava contextualizar a maior lição que aprendi sobre sentimentos nessa vida, porque ela aconteceu no meio dos problemas todos. Em algum momento, marcante e terrível da minha tempestade, precisava pensar, só pensar. Não poderia ficar muito tempo pensando, ou enlouqueceria de só pensar. Precisava pensar, pensar rápido, só pensar. Precisava de mais tempo, precisava de ajuda, precisava de muita coisa pra pensar, só pensar. Percebi então que estava só. Não havia ninguém, por mais que houvesse muitos, para agir por mim, nem havia conselho, nem auxílio, nem nada que alguém, que não eu, pudesse fazer por mim. Tudo o que precisava resumiu-se em espaço. Precisava de espaço para só pensar.

Então, sozinho, sem querer, esvaziei meu coração de qualquer sentimento. Pensei no que precisava pensar. Entendi e agi. Não sabia ainda qual seria o resultado de minha ação e, apesar de ter sido positivo, isso não importava, o que mais me chocava era o que tinha percebido. Com a Alma vazia, vazada por mim mesmo, percebi que o coração não pensa, só sente. Essa foi a minha grande descoberta. Tão lógica, tão simples, mas ao mesmo tempo tão surpreendente. O nosso Todo é harmonioso, então não podemos sobrepor as funções de cada parte. Mente deve pensar e só pensar, coração deve sentir e só sentir.

Eu mudei depois dessa conclusão, pela minha “auto-avaliação”, mudei pra melhor. Você pode achar absurdo tendo em vista tudo o que tenho feito, mas me acho mais puro de uns tempos pra cá. Minhas ações não têm desacordo com minha Verdade porque não tem preconceitos sentimentais revestidos de idéias ou falsos ideais revestidos de sentimentos, são puros, como eu. A minha pureza me faz bem e me surpreende não tê-la descoberto antes, porque sou muitíssimo mais feliz assim. Quiçá o Destino já tivesse tudo planejado, pois talvez não aproveitasse tanto a descoberta em outros tempos.

Não era só isso que queria te escrever, além disso, nem era sobre isso que queria escrever, mas percebi que não podia deixar de te falar dessas coisas que estão fazendo tanta diferença e que, quem sabe, façam alguma diferença pra você. A carta já está se estendendo, infelizmente tenho que parar por aqui. Por favor, me escreva você também! Nem que seja só pra dar um “oi”. Gosto de saber como vão as coisas “fora de mim”. Até qualquer hora!

Beijos e abraços!

Max”

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Voltando a ativa

Olá pessoas!
Estou mandando esse bilhete pra avisar que depois de um longo tempo sem cartas, vou voltar a ativa. Espero poder me corresponder com todos vocês muito e sempre mais. A página teve algumas mudanças estéticas depois de uma pequena batalha para recordar um pouquinho de programção. Gostaria que vocês me dissessem se gostaram ou não. A nova "modelagem" do blog vem com algumas mudanças de conteúdo também. Cartas são muito boas de se receber, mas as vezes deixar um recadinho pode fazer toda a diferença, pensando nisso decidi agregar posts menores, até mesmo com informações do mundo "nem tão abstrato" que eu considero que possam ser úteis. Quero começar já com alguns lembretes:
  • Hoje começam as inscrições pra teste de proficiência/classificatório para disciplinas de línguas na Unicamp. Quem estiver interessado deve fazer inscrição até dia 19, às 17h. Informações no site do CEL: http://www.unicamp.br/cel/testeclass.htm
  • As incrições do vestibular da Unicamp já começaram e vão até dia 07/10, mas pelo que foi divulgado no site, aconselho fazer inscrição com pelo menos uma semana de "folga", para ter a possibilidade de "consertar" uma eventual falha do sistema: http://www.comvest.unicamp.br/
É isso! Aproveito pra convidá-los a se convidarem para um chá, qualquer hora dessas, na minha casa. Beijos e abraços, Max"

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Para você,

Então é isto, você está indo. Eu sempre tive certeza que você iria, mas parecia algo muito distante até essa última sexta-feira. Não tivemos tanto tempo quanto eu gostaria pra trabalharmos juntos e menos tempo ainda pra aprontarmos juntos. A vida é assim, nunca sabemos onde é que leva a próxima curva do rio.

Há mais ou menos um ano eu comecei a entender melhor aquela história de missão. Já fazia um tempo que eu estava em dúvida, questionando qual seria o meu verdadeiro papel nesse mundo. De repente, eu estava sentado lá em cima, com mais poder e mais responsabilidades do que eu já desejara ter.

Foi difícil, você sabe o quanto é difícil. Não posso te dizer “você aprendeu tal coisa” porque a experiência é diferente pra cada um. Talvez você nunca entenda, mesmo eu já tendo dito centenas de vezes, mas eu sinto que entendi bem mais a minha função nessa vida de um ano pra cá e você teve um importante papel nisso tudo.

Enquanto eu estava lá em cima, queria, na verdade, estar onde você estava e conforme o tempo foi passando entendi que não preciso ser presidente pra ser líder. Nossos governantes têm assessores, auxiliares, todos esses estão em posição de liderança, mas não exatamente à frente de tudo. É isso que eu quero pra mim, esse é o caminho que eu escolhi: serviço. Eu não aprendi isso simplesmente estando à frente, aprendi isso quando te entreguei as responsabilidades e percebi que você precisava da minha ajuda. Eu queria muito poder te agradecer a altura do que você fez por mim e queria que você estivesse aqui quando chegasse o meu “dia derradeiro”. Você estará, eu sei, em pensamento e sentimento.

Esse semestre a gente se conheceu bem melhor e eu tenho orgulho de ser seu amigo. Lembra daquela pergunta “Se você saísse do país, qual a imagem que você gostaria de deixar de si mesmo?”, pois é, chegou a hora de dizer que a imagem que você me deixou foi de uma pessoa feliz, que está sempre querendo fazer o bem e tem humildade suficiente pra ser um eterno Buscador como todos devemos ser.

Eu vejo a sua estrada, com o olhar mágico de Hórus, eu vejo sua felicidade e seu ânimo encorajador resolvendo muitos problemas a frente. Jamais será fácil, as vezes, até mais difícil do que você espera, porém, quando você estiver em apuros, quando não souber que caminho tomar, então pare e lembre-se que em algum lugar tem alguém que já te ajudou um dia e estará sempre presente quando se fizer necessário.

Meus pais me fizeram Maximiliam, daí conheci grandes amigas que me fizeram Max, depois, alguns me fizeram entender as virtudes do mago e eu me tornei Guardião, então errei e sofri por ser orgulhoso demais, mas como o Faraó renascido, eu recebi o cetro, utilizei-o com o máximo de Sabedoria que há em mim para depois, passando-o a você, encontrar o caminho do Triunfante. Essa é a Lei, receber para dar e dar para receber. Um ciclo que você não deve quebrar. Aonde quer que você vá sempre vai ter alguém precisando daquilo que você recebeu, seja do seu carinho, da sua amizade, do seu conselho ou do seu saber. Para que você continue no bom caminho, dê aquilo que o seu próximo precisa e alerte-o para nunca quebrar essa corrente universal.

Pelo cristal a luz pode passar e distribuir-se em diversas cores, seja como ele, receba, multiplique e distribua. Sentirei saudades, mesmo que seja só por um tempo. Que a sua estrada seja iluminada como a minha, quando abdiquei de algumas coisas em detrimento do aprendizado. Você é grande, perceberá isso muito em breve. Vá em paz!

Um grande abraço, do seu Irmão,

Max”

domingo, 20 de julho de 2008

Gire a Roda da Fortuna!

Que saudade! As férias vieram, mas ainda não consegui ver nem metade das pessoas que eu queria! Vamos fazer o máximo pra ainda nos encontrarmos e fazermos alguma coisa pra descontrair antes da volta às aulas! Como você está? Espero que esteja tudo certo, faz tempo que não conversamos direito...

Sabe, esses últimos dias foram bem interessantes, tive algumas boas coisas pra resolver e outras tantas surgiram sob as quais eu não tinha domínio. Acabei tendo reunião, saindo, visitando tias, assistindo filme e arrumando as coisas pra futura mudança. Pensei muito também, influenciado por tudo o que tem acontecido, comigo e no meu velho mundinho novo em volta.

Sem querer assisti filmes sobre soberanos esse fim de semana. Pode parecer até meio infantil pra você, mas eu revi “O Rei Leão”. Olha, se você não vê desde a infância, um conselho: veja de novo! É muito bom e tem umas boas sacadas filosóficas. Acabei reparando que o Simba é um Triunfante, ele faz todo o percurso até isso! Também assisti “Batman Begins” e vi a luta do Bruce Wayne para compreender qual o seu papel ante a justiça, a sociedade e principalmente o influente império legado por sua família. Finalmente, contemplei uma rainha histórica: “Elizabeth” foi o filme de hoje.

Percebi que podemos fazer da nossa história uma história também de um soberano. Não estou te dizendo que todos seremos governantes de países ou donos de impérios econômicos, mas que podemos, no nosso dia a dia, ser grandes senhores de nossas vidas e de nosso destino. Isso é muito difícil, eu sei. Eu conheço o suficiente da sua história pra saber por quantos desafios você teve de passar antes de estar onde está e também sei que a sua vida não é moleza, mas acredite, é tudo parte de um “ciclo sem fim”, é a roda da Fortuna girando e hora nos colocando por baixo, hora nos levando ao topo.

Veja só os exemplos dos nossos personagens: Simba é consagrado pela velha Tradição ao seu destino de vitória logo que nasce, depois ele passa a aprender com os “mestres”, daí, tentado pelo poder, ele desobedece aos conselhos que lhe foram dados, e por isso cai em desgraça; por algum tempo, foge do problema que ele mesmo criou e esconde-se sob um manto de mediocridade. Só o despertar de antigos sentimentos lhe faz questionar sua situação e, reconhecendo humildemente seu erro, (numa das partes, a meu ver, mais emocionantes do filme) pede orientação à Sabedoria ancestral da qual recebe a simples resposta “Lembre-se de quem você é”. Só assim ele toma coragem para encarar seus medos, seus erros e finalmente assumir o reino que lhe era de direito.

Não sei se você assistiu Batman, então vou me ater a só comentar que essa também é uma grande questão pra ele “Quem sou eu e quais as minhas responsabilidades nessa vida?”. A rainha Elizabeth I assume o poder sendo odiada por praticamente toda a Inglaterra e passa um bom tempo vivendo impasses entre o dever, o coração e a sua própria consciência.

Concluí que não é nada fácil sermos senhores de nós. Durante o percurso vamos errar e vamos cair por nossos erros, vamos ser derrubados pelos erros (e mesmo acertos) dos outros, mas o que temos que ter sempre em mente, acima do que qualquer um a nossa volta pode dizer ou pensar, é quem somos nós em nossa essência. Ta certo que nunca nos conhecemos o suficiente pra afirmar um categórico “eu sou assim”, mas o questionamento, o desejo de encontrar nossa essência, de sentir nosso centro, isso tudo nos conduz a um controle da Roda da Fortuna: não somos capazes, muitas vezes, de evitar infortúnios, mas podemos girar a roda muito mais rápido nessas situações chegando facilmente ao topo e depois, nesse estado, podemos permanecer por muito tempo, diminuindo de novo a velocidade.

Eu estou sempre aqui viu? Não esqueça da pessoa maravilhosa que você é! Se esquecer, de onde eu estiver, vou tentar te lembrar! Seja Triunfante, vamos ser coroados reis de nós mesmos como todos nascemos pra ser! Não deixa de me responder! A gente se vê!

Beijos e abraços!

Max”

sábado, 12 de julho de 2008

Conhecer as respostas nas paredes da caverna

Não vou pedir desculpas por não ter escrito nos últimos tempos, não estava em condições de fazê-lo. Contudo, compreendo que talvez tivesse evitado certos sofrimentos se escrevesse. Estou certo de ter aprendido muito nas últimas semanas. Aprendi sobre mim e sobre você; você, sem saber, me ajudou muito. Agora, e só agora, entendo bem o significado da palavra resposta e posso te pedir que responda essa carta, com notícias suas, com novidades, com aquilo que você quiser responder.

Queria que você tivesse me visto no final de semana passado, queria ter você ao meu lado, ouvindo meus mais profundos pensamentos, sombrios e abomináveis. Você certamente diria que não se tratava do Max que você sempre julgou conhecer e se assombraria com as menores palavras de desespero e dúvida. Você não me conhece bem como acha que conhece, vou te provar isto. Quiçá, se for bem sucedido, eu acabe suprimindo alguns de seus preconceitos ou mesmo te faça tomar ciência deles para que possa domá-los de acordo com a sua Vontade.

Começo te dizendo que eu não me conheço e posso me surpreender comigo mesmo todos os dias se desejar. Não conheço nem a menor parte da minha verdadeira força e talvez possa enfrentar guerras mais infelizes do que aquelas que hoje me põem medo. Nunca conheci todos os meus medos e quem sabe tema coisas que ignore e ignore tantas outras coisas que temo. Acima de qualquer coisa, não conheço a Felicidade e nem sua mãe, a Tristeza, pois se elas não me fossem estranhas, seguramente já teria assassinado a mãe e desposado a filha.

Acontece que parei de fazer qualquer coisa pra estudar pras últimas provas porque, como não conheço meus limites, deixei-me levar pelo desejo de Triunfo e os livros gelados, tomaram o lugar dos tão inflamados sentimentos que você, que diz me conhecer, liga indissociavelmente a minha pessoa. Some a isso uma leve decepção amorosa, saudades antecipadas da casa que vou deixar, um medo infundado de perder tudo o que, a princípio, me torna feliz, além uma desgastante peleja espiritual. A união dessas coisas pode ter me deixado no estado em que fiquei. Ressalto o “pode” porque, não me conhecendo, como é que posso afirmar com certeza tudo o que se passa comigo? E você, será que me conhece tão bem pra dizer que eu nunca pensaria na morte como melhor caminho?

É, pode ser chocante, mas eu pensei na morte sim e havia toda uma lógica em meu raciocínio, lógica contra a qual não havia muitos argumentos. E não ache que estava louco, porque depois eu mesmo achei isso. Um louco pode, entretanto, curar-se miraculosamente de sua insanidade? Acho que não. Na verdade, a síntese de minhas justificativas está na dúvida, pode não ser uma justificativa plausível, mas me parece a mais acertada. Eu duvidava da existência da Felicidade, duvidava da beleza da vida, duvidava da Liberdade, do Amor e do Saber, com todas essas dúvidas juntas, fui obrigado a desacreditar. Desisti de acreditar em tudo isso e, por conseguinte, deixei de acreditar naquele que pensava ser a razão de todas as coisas: meu Deus.

Viu como não nos conhecemos tão bem? Nem eu a você, nem você a mim, nem eu a mim, nem você a si. Não diga que já imaginava que eu, rotulado como “o grande místico”, um dia, deixaria de ter fé. Pois é, aconteceu, durou pouco, mas aconteceu. A primeira frase que me veio à mente foi “Pedi e vos será dado; buscai e achareis”. Eu não estava nem recebendo nem encontrando! Onde é que estava Deus então?

Sofri, pois passei a me sentir vazio, um vento gelado acompanhava o pôr do sol que eu observava tentando encontrar uma resposta. Meu tão adorado poente já não passava dum momento a mais no dia, dolorosamente longo como todas as horas e minutos. Havia alguma resposta? Uma “mão invisível” a me guiar? Não! Estava sozinho e vazio. Naquele momento imagino que não me bastariam todos os meus amados amigos, nem minha família, nem ninguém, só queria respostas. Queria entender onde é que estavam liberdade, alegria e amor, mesmo o ódio e a tristeza, onde estavam? Durante aquele amargo Ocaso, estavam todos mortos.

Ah Max, dirá você, como foi tolo! E eu te responderei: sim, fui tolo e muito me puni por isso. No dia seguinte, no entanto, eu busquei o Deus de minha Verdade, tentei encontrar meus sentimentos e fazia o máximo para reavivar a chama de minha fé. Tudo em vão, parecia apelar às paredes e me desesperava o silêncio ensurdecedor. Estava apático e indiferente, depressivo e assim passei todo o final de semana. Por fim, varando a madrugada, consegui terminar todos os meus estudos e, ainda me punindo, implorava pelo perdão das “forças” que me haviam abandonado.

Foi no início da manhã de segunda feira, com os primeiros raios do Sol que fui levar o lixo à lixeira. No caminho de volta até minha casa eis que um sinal no céu me chama a atenção: uma nuvem estranha que parecia seguir em direção ao Sol nascente. Sem que me desse conta, pela primeira vez em dias, eu ri e lembrei de outra frase bíblica “Porque nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo.”. Nesse instante parei de andar e percebi que, de fato, a nuvem se movia com agilidade, pois não era uma nuvem: era um cometa.

Você deve saber que eu amo astronomia, mas não deve saber que eu nunca tinha visto um cometa e muito me surpreendeu a beleza da cena. Quando ele sumiu de vista, voltei sorrindo para casa. Ao entrar, me dei conta do sorriso e ele transformou-se numa gargalhada. Não conseguia conter a alegria de ter observado aquela maravilha, mas mais do que isso, voltava, aos poucos, a sentir o calor dos sentimentos, estava começando a entender o que precisava.

Depois de minha prova, uma vontade louca de ler e-mails: corri para os computadores. Desejando gritar ao mundo meus sentimentos cada vez mais incontidos, eis que leio uma carta. Sem dúvida a carta mais fantástica que já recebi. Ela disse-me tudo o que precisava ouvir naquele momento e, até agora, me arrepia pensar em todas aquelas respostas, todas aquelas palavras que eu mesmo usei sem ter dito a ninguém e, pasme, ela fora “coincidentemente” escrita naquela hora do poente de sexta-feira, sim, enquanto pedia respostas, sinais e ajuda alguém estava pensando em mim e me escrevendo uma carta sem nem saber porque. Uma carta mágica destinada única e especificamente a mim, uma resposta.

Foi difícil, mas entendi. O mito da caverna de Platão, o sinal dos “reis magos”, o “buscai e achareis”, a carta mágica, tudo isso me fez entender e querer te contar. Agora entra a sua parte nessa história, essa carta chega a você, quem sabe na hora em que você mais precisa e menos espera. Não vou te dizer mais nada. Entenda o que você quiser porque a compreensão que estava destinada a mim, assim como na carta, estava destinada somente a mim. Sou um desconhecido para você, assim como sou um desconhecido para mim mesmo. Consegui te provar isso? Se sim, pense: de que adianta um cego guiar a outro? Vai e vê com seus próprios olhos.

Ta certo, pra você não dizer que subestimo nossa amizade, preciso te dizer ao menos que apesar de ter entendido que nada conhecemos realmente, amar é isso, gostar é isso e ser amigo é isso: aceitar, confiar e se entregar àquilo que nunca saberemos de fato como é.

Fique muito bem! Beijos e abraços,

Max”

- Guardião: Buscador e Triunfante

PS: Desculpe o tamanho da carta, mas é que é sempre melhor quando eu conto com detalhes!

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Anjo no Inferno

Recebi a notícia de que meu tio Ricardo faleceu na última terça-feira. Ele foi uma das pessoas mais felizes que conheci. Ele viveu a vida com grande intensidade, fazia e dizia tudo aquilo que estava de acordo com sues desejos e, mesmo assim, nunca esqueceu seus princípios e sua moral. Alguns podem dizer que seus excessos lhe levaram à morte, porém, ele nunca esteve em falta com seus ideais e sua própria Verdade. Sua bondade e generosidade foram recompensados com uma vida plena e todos aqueles que tiveram o prazer de conhecê-lo aprenderam muito com ele, tanto com suas palavras, como com seus erros e, principalmente, com sua determinação.

Estou te falando tudo isso porque considero que a vida e, por que não a morte dele me ensinou uma coisa que talvez te faça pensar e talvez te ajude muito com o momento de dúvidas que você está vivendo. Há correntes de misticismo que dizem que Céu e Inferno são escolhas tomadas na vida, nem boas nem ruins, apenas escolhas. As opções que fazemos, tanto para Céu quanto para Inferno, nos conduzem por estradas de provações, graças, dificuldades e também boas surpresas, estradas trilhadas para que encontremos os tesouros que nos são destinados.

Você, como eu, pode tomar decisões e se arrepender depois, porém eu tenho pensado que qualquer que sejam nossas escolhas, se forem tomadas com consciência e levando em consideração nossos desejos e objetivos, nunca serão erradas, mas nos conduzirão ao Céu ou ao Inferno de que colheremos rosas preciosas. Os sábios também dizem que os caminhos acabam por encontrar-se no final e que alguns encontrarão o seu Anjo no Inferno.

Ao que parece, eu trilhei caminhos até então desconhecidos e os julgava escuros, mas tenho a sensação de ter encontrado aquilo que buscava. Você pode tomar a decisão que quiser, a vida é uma sucessão de escolhas e permanecer em dúvida na encruzilhada é entregar-se a morte. Não duvide de si! Sejamos soberanos o suficiente sobre nossas vontades para ousarmos decidir, não pela dúvida da morte, mas pela certeza da vida, sejam quais forem as consequências daquilo por que optarmos!

Espero que você, tanto quanto eu, encontre o que procura e se decida sobre o que e como quer viver esse momento. Saiba que eu sempre estarei aqui caso queira perguntar, caso esteja sofrendo, caso venha até mim como alguém que simplesmente quer um amigo. Ah! E claro, caso esteja esperando um certo telefonema, se o telefone não tocar, então me ligue, pra suspirar, pra rir ou pra chorar, mesmo pra não dizer nada, porque no silêncio de suas palavras, eu posso ouvir sua respiração.

Que lhe sejam dadas força, coragem e sabedoria!

Max” - Guardião Triunfante

domingo, 8 de junho de 2008

Uma árvore.

Olá! Tudo bem? Espero que você esteja melhor agora. Eu estou um tanto quanto deprimido. Não é nada de mais, só que agora a pouco me deu uma sensação estranha de vazio “por dentro”, sabe? Não se preocupe, é que em meio a tantos términos, tantas despedidas, eis que surge mais uma: talvez eu me mude nos próximos meses. Oficialmente eu moro em Campinas, mas considerando que ainda moro aqui em São Paulo mesmo passando a maior parte do tempo lá, fazendo as contas, já faz quase doze anos que moro nessa casa.

Cada cantinho tem uma história, eu cresci aqui, cada história tem um cantinho. Antigamente a casa vizinha da direita era uma clínica veterinária, um dia, ela deu uma planta pra minha mãe, num vaso. A planta cresceu, era um grande “arbusto” de folhas verde-claras rajadas de amarelo. Ele não tinha como crescer mais dentro do vaso, então, minha mãe pediu ajuda ao “seu José”, o jardineiro que anda por aqui, e plantou-se o “arbusto” na frente de casa, onde um dia, muito tempo antes de nós, havia uma árvore. Ele cresceu e se tornou uma bela arvorezinha. Claro, como na época eu devia ter os meus onze anos, aos meus olhos, aquela já era uma árvore enorme porque devia ser da altura dos meus pais. Agora, parei pra pensar como a gente muda de referencial com o passar dos tempos, grande, pequeno, magro, gordo, bonito, feio, tudo vai mudando conforme o tempo passa...

O tempo também passou e a pequena arvorezinha cresceu bastante num ano, porém, no carnaval, alguém maldoso partiu a frágil planta ao meio e as duas metades separaram-se como uma tesoura que se abre. Uma outra vizinha, com pena, tentou “arrumar” a arvorezinha e, depois de juntar as partes separadas, amarrou-as com cordão de varal e retalhos de pano. Contrariando todas as expectativas a árvore sobreviveu e continuou a crescer, até um dia, que parece ter sido ontem, mas que já passou há uns bons anos, quando eu pude vê-la pela janela do meu quarto sem precisar olhar para baixo: sua copa já tocava os fios de eletricidade. Lembro que nesse dia parei pra pensar em como eu havia crescido também, pensei na quantidade enorme de “folhas” de conhecimento que eu já possuía e me questionava quanto a profundidade a que haviam chegado minhas raízes.

Hoje a árvore está enorme, com o passar dos anos, pudemos perceber que, ao “arrumá-la”, a vizinha, sem querer, enxertou uma outra espécie de árvore junto da nossa, uma que outrora fora apenas uma folhinha de cor escura no vaso. Não sei que magia há nessa árvore ou talvez tenha havido naquela atitude bondosa da dona Lourdes, mas verificamos sem esforço algum e com grande espanto, que na metade da copa voltada para a minha janela predomina folhagem clara, enquanto que na metade oposta predomina folhagem escura. A junção não só deu nova vida à árvore como fê-la mais bela e diferente do que qualquer outra.

Você sabe que todos dizem que eu sou “Diferente”. Eu não gostava disso antes, não conseguia entender. Pensava que as pessoas só viam um lado da minha personalidade e ficava triste por isso. Com o passar do tempo, no entanto, percebi que muitos realmente vêem apenas um lado da copa árvore: aquele de que estão mais próximos. Entretanto, alguns olham por outro ângulo e podem admirar a beleza da união dos opostos que se completam. Descobri que esses são alguns que param na rua, olham pra árvore e tentam entender como ela pode ser assim, no fim, sorriem e continuam andando, pois não importa entender o porque, mas sim ver quão magnífico é ser diferente.

Estou feliz de novo, depois de ter escrito para você. Que coisa! Às vezes amigos nem precisam estar por perto, nem mesmo precisam se falar para ajudar um ao outro, às vezes, a simples ligação entre eles é suficiente. Muito obrigado por me ouvir, todas as vezes que eu preciso ser ouvido! Quando eu me mudar, apareça lá pra tomar um chá gelado, quem sabe a gente faz isso enquanto olha, da janela do meu quarto, pra uma nova árvore crescendo.

Abraços e beijos!

Max” - Guardião Triunfante