quinta-feira, 2 de julho de 2009

Lírio do Vale

Desculpe o tempo sem escrever. Muitas coisas aconteceram, estive muito ocupado, muito cansado, muito ansioso e muito triste. Tantas foram as coisas em excesso que julgo ter sido melhor assim. Quiçá, com a mente e o coração tão irrequietos, teria escrito palavras maldosas, vingativas ou até mesmo mentirosas e isso vai completamente contra o propósito das minhas cartas. Hoje, contudo, escrevo palavras que podem parecer duras, mas são seguramente verdadeiras, pois não vieram da turbulência, mas da serenidade e do equilíbrio.

Quando você se olha no espelho, o que vê? É uma pergunta difícil de ser respondida assim, tão abruptamente. As descrições de si mesmo são sempre incompletas e, portanto, totalmente falhas. Não há como sintetizar um ser como você em palavras, pois mesmo que elas componham um gigantesco livro, ainda assim a essência e a complexidade de seu ser não poderão nunca ser explicitadas. E então faço outra pergunta: Se não possuímos nem a capacidade de conhecer a nós mesmos, que direito temos de julgar pensamentos e sentimentos dos outros?

Lembro de algo que li n’O Senhor dos Anéis: “Muitos dos que vivem merecem morrer. E alguns dos que estão mortos mereciam estar vivos. Você tem o poder de dar-lhes a vida? Então não seja tão ávido em julgar e condenar alguém à morte. Mesmo os mais sábios não conseguem ver os dois lados.”. Não julgue ninguém a ponto de classificá-lo como apenas uma ou quantas sejam as características que conheça dele, você nunca conhecerá o todo. Ninguém é somente calmo ou nervoso, forte ou fraco, ninguém, em nenhuma situação, será somente digno de pena ou admiração, nem será unicamente sincero ou falso. Em especial, nenhuma pessoa pode ser resumida, de modo simplista, tolo e infinitamente cruel, a um mau ou bom coração.

Você acolheria em seu leito uma víbora venenosa porque ela nasceu sem patas? Você apertaria o caule de uma rosa contra sua mão nua porque ela é bela? Por que não encara diretamente o Sol? A víbora poderia matá-lo com seu veneno, os espinhos da rosa poderiam ferir-lhe e a luz do Sol poderia cegar seus olhos para sempre. Augusto dos Anjos diz “A mão que afaga é a mesma que apedreja” e nisso está a lição de não subestimar aquele que está ao seu lado rotulando-o como a pobre cobra, a bela rosa e o iluminado Sol, isso é um erro que pode custar muito caro, inclusive a você. O Lírio do Vale é uma flor frágil e delicada, como muitos de nós podemos parecer, ela também é chamada de “Lágrimas de Nossa Senhora”, assim como nós que podemos receber belos nomes e títulos, mas, especialmente semelhante a nós, ele possui um veneno letal e experimentar só um pouco já seria suficiente para matar.

“(...) Assim, que direito possuo de julgar, segundo minha própria lei, aquele cujos pensamentos não me são revelados? (...)” Espero que não se esqueça dessa frase, não por ela pertencer a algum poeta ou autor famoso, não obstante porque eu mesmo a escrevi em minha primeira carta...

Até breve! Seu amigo,

Maximiliam