sábado, 12 de julho de 2008

Conhecer as respostas nas paredes da caverna

Não vou pedir desculpas por não ter escrito nos últimos tempos, não estava em condições de fazê-lo. Contudo, compreendo que talvez tivesse evitado certos sofrimentos se escrevesse. Estou certo de ter aprendido muito nas últimas semanas. Aprendi sobre mim e sobre você; você, sem saber, me ajudou muito. Agora, e só agora, entendo bem o significado da palavra resposta e posso te pedir que responda essa carta, com notícias suas, com novidades, com aquilo que você quiser responder.

Queria que você tivesse me visto no final de semana passado, queria ter você ao meu lado, ouvindo meus mais profundos pensamentos, sombrios e abomináveis. Você certamente diria que não se tratava do Max que você sempre julgou conhecer e se assombraria com as menores palavras de desespero e dúvida. Você não me conhece bem como acha que conhece, vou te provar isto. Quiçá, se for bem sucedido, eu acabe suprimindo alguns de seus preconceitos ou mesmo te faça tomar ciência deles para que possa domá-los de acordo com a sua Vontade.

Começo te dizendo que eu não me conheço e posso me surpreender comigo mesmo todos os dias se desejar. Não conheço nem a menor parte da minha verdadeira força e talvez possa enfrentar guerras mais infelizes do que aquelas que hoje me põem medo. Nunca conheci todos os meus medos e quem sabe tema coisas que ignore e ignore tantas outras coisas que temo. Acima de qualquer coisa, não conheço a Felicidade e nem sua mãe, a Tristeza, pois se elas não me fossem estranhas, seguramente já teria assassinado a mãe e desposado a filha.

Acontece que parei de fazer qualquer coisa pra estudar pras últimas provas porque, como não conheço meus limites, deixei-me levar pelo desejo de Triunfo e os livros gelados, tomaram o lugar dos tão inflamados sentimentos que você, que diz me conhecer, liga indissociavelmente a minha pessoa. Some a isso uma leve decepção amorosa, saudades antecipadas da casa que vou deixar, um medo infundado de perder tudo o que, a princípio, me torna feliz, além uma desgastante peleja espiritual. A união dessas coisas pode ter me deixado no estado em que fiquei. Ressalto o “pode” porque, não me conhecendo, como é que posso afirmar com certeza tudo o que se passa comigo? E você, será que me conhece tão bem pra dizer que eu nunca pensaria na morte como melhor caminho?

É, pode ser chocante, mas eu pensei na morte sim e havia toda uma lógica em meu raciocínio, lógica contra a qual não havia muitos argumentos. E não ache que estava louco, porque depois eu mesmo achei isso. Um louco pode, entretanto, curar-se miraculosamente de sua insanidade? Acho que não. Na verdade, a síntese de minhas justificativas está na dúvida, pode não ser uma justificativa plausível, mas me parece a mais acertada. Eu duvidava da existência da Felicidade, duvidava da beleza da vida, duvidava da Liberdade, do Amor e do Saber, com todas essas dúvidas juntas, fui obrigado a desacreditar. Desisti de acreditar em tudo isso e, por conseguinte, deixei de acreditar naquele que pensava ser a razão de todas as coisas: meu Deus.

Viu como não nos conhecemos tão bem? Nem eu a você, nem você a mim, nem eu a mim, nem você a si. Não diga que já imaginava que eu, rotulado como “o grande místico”, um dia, deixaria de ter fé. Pois é, aconteceu, durou pouco, mas aconteceu. A primeira frase que me veio à mente foi “Pedi e vos será dado; buscai e achareis”. Eu não estava nem recebendo nem encontrando! Onde é que estava Deus então?

Sofri, pois passei a me sentir vazio, um vento gelado acompanhava o pôr do sol que eu observava tentando encontrar uma resposta. Meu tão adorado poente já não passava dum momento a mais no dia, dolorosamente longo como todas as horas e minutos. Havia alguma resposta? Uma “mão invisível” a me guiar? Não! Estava sozinho e vazio. Naquele momento imagino que não me bastariam todos os meus amados amigos, nem minha família, nem ninguém, só queria respostas. Queria entender onde é que estavam liberdade, alegria e amor, mesmo o ódio e a tristeza, onde estavam? Durante aquele amargo Ocaso, estavam todos mortos.

Ah Max, dirá você, como foi tolo! E eu te responderei: sim, fui tolo e muito me puni por isso. No dia seguinte, no entanto, eu busquei o Deus de minha Verdade, tentei encontrar meus sentimentos e fazia o máximo para reavivar a chama de minha fé. Tudo em vão, parecia apelar às paredes e me desesperava o silêncio ensurdecedor. Estava apático e indiferente, depressivo e assim passei todo o final de semana. Por fim, varando a madrugada, consegui terminar todos os meus estudos e, ainda me punindo, implorava pelo perdão das “forças” que me haviam abandonado.

Foi no início da manhã de segunda feira, com os primeiros raios do Sol que fui levar o lixo à lixeira. No caminho de volta até minha casa eis que um sinal no céu me chama a atenção: uma nuvem estranha que parecia seguir em direção ao Sol nascente. Sem que me desse conta, pela primeira vez em dias, eu ri e lembrei de outra frase bíblica “Porque nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo.”. Nesse instante parei de andar e percebi que, de fato, a nuvem se movia com agilidade, pois não era uma nuvem: era um cometa.

Você deve saber que eu amo astronomia, mas não deve saber que eu nunca tinha visto um cometa e muito me surpreendeu a beleza da cena. Quando ele sumiu de vista, voltei sorrindo para casa. Ao entrar, me dei conta do sorriso e ele transformou-se numa gargalhada. Não conseguia conter a alegria de ter observado aquela maravilha, mas mais do que isso, voltava, aos poucos, a sentir o calor dos sentimentos, estava começando a entender o que precisava.

Depois de minha prova, uma vontade louca de ler e-mails: corri para os computadores. Desejando gritar ao mundo meus sentimentos cada vez mais incontidos, eis que leio uma carta. Sem dúvida a carta mais fantástica que já recebi. Ela disse-me tudo o que precisava ouvir naquele momento e, até agora, me arrepia pensar em todas aquelas respostas, todas aquelas palavras que eu mesmo usei sem ter dito a ninguém e, pasme, ela fora “coincidentemente” escrita naquela hora do poente de sexta-feira, sim, enquanto pedia respostas, sinais e ajuda alguém estava pensando em mim e me escrevendo uma carta sem nem saber porque. Uma carta mágica destinada única e especificamente a mim, uma resposta.

Foi difícil, mas entendi. O mito da caverna de Platão, o sinal dos “reis magos”, o “buscai e achareis”, a carta mágica, tudo isso me fez entender e querer te contar. Agora entra a sua parte nessa história, essa carta chega a você, quem sabe na hora em que você mais precisa e menos espera. Não vou te dizer mais nada. Entenda o que você quiser porque a compreensão que estava destinada a mim, assim como na carta, estava destinada somente a mim. Sou um desconhecido para você, assim como sou um desconhecido para mim mesmo. Consegui te provar isso? Se sim, pense: de que adianta um cego guiar a outro? Vai e vê com seus próprios olhos.

Ta certo, pra você não dizer que subestimo nossa amizade, preciso te dizer ao menos que apesar de ter entendido que nada conhecemos realmente, amar é isso, gostar é isso e ser amigo é isso: aceitar, confiar e se entregar àquilo que nunca saberemos de fato como é.

Fique muito bem! Beijos e abraços,

Max”

- Guardião: Buscador e Triunfante

PS: Desculpe o tamanho da carta, mas é que é sempre melhor quando eu conto com detalhes!

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