domingo, 20 de janeiro de 2013

No Princípio era o Sonho...

- Para Gaga.


O pequeno aprendiz de feiticeiro subia aquela rua sinuosa como se fosse uma estrada secreta. Subindo e subindo, cercado de árvores e casas misteriosas, a curta distância se fazia incrível jornada na imaginação juvenil. A mágica, no entanto, estava lá no alto. Como um tesouro escondido num castelo a ser descoberto, há muitos e muitos anos, havia uma biblioteca.
Quando minha mãe nos levou àquela biblioteca pela primeira vez, não sabíamos ler. Mesmo assim, era fantástico encontrar tantos e tantos livros com desenhos maravilhosos e imaginar as histórias incríveis que depois ela poderia ler pra nós. Por muitos anos ela fez o caminho conosco, enquanto aguardávamos, ansiosos, para o encontro com o maravilhoso. Aquele lugar se tornou meu refúgio, mesmo depois, quando já podia seguir sozinho, pois era para lá que o coração me dirigia quando precisava enfrentar os desafios de crescer. Foram os livros que me ensinaram a sonhar.
Até poucos dias, com incertezas tantas à frente, poucas novidades pareciam interessantes para serem contadas nas cartas e mensagens que escrevo. Então alguém me disse que minhas novidades são sempre fantásticas e que minha vida, em meio a de tantas pessoas parecidas, é muito peculiar. Passei muitos dias refletindo sobre isso e agora acredito que essa afirmação seja parcialmente verdadeira. Alimentados pelas páginas de poetas, romancistas e dramaturgos, quantos e quantos sonhos surgiram e como cada um deles tem feito da minha vida uma sucessão de aventuras!
De anos e anos de sonhos, receio que tenha realizado pouquíssimos, quiçá, nenhum deles. Pode parecer estranho, mas isso deixa meu coração, além de aliviado, muitíssimo feliz. Entendi que os sonhos são nuvens, com formas que julgamos conhecer, contudo, é bom lembrar que nenhuma nuvem é um castelo ou uma árvore ou um dragão: somos nós que imaginamos essas coisas quando olhamos para elas. O mais importante não é descobrir o lugar mais lindo do mundo numa viagem, formar a família mais feliz e realizada, sermos presidentes que conduzem o povo à glória ou ganharmos o prêmio Nobel que mudará o destino do mundo, o que realmente importa nos sonhos são as aventuras às quais eles nos conduzem em cada um dos dias de nossas vidas.
O erro naquela afirmação não é sobre a minha vida, mas sobre as pessoas: ninguém é tão parecido, o que ocorre é que alguns não aprenderam a sonhar os seus próprios sonhos. O direito de sonhar tem sido tomado. Aquela biblioteca foi fechada alguns anos atrás. Ela não alimentará mais os sonhos de ninguém. Talvez devêssemos lutar para que a todos fosse dado o privilégio que me foi dado. A nossa verdadeira vontade é quase sempre desconhecida, por isso construímos barcos de coragem e fazemos velas de sonhos. Gostaria que todos tivessem pano para suas velas, acho que é por isso que eu continuo escrevendo, porque acredito que um dia, o que eu escrevi, vai fazer alguém sonhar.

No princípio era o Sonho, e a Sonho estava com a biblioteca e o Sonho era a biblioteca. Ela estava no princípio com o Sonho. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele, nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a minha aventura...

Max