domingo, 23 de novembro de 2008

Vê como eu vejo

É pouco provável que você leia essa carta, entretanto, eu preciso dela, pois os sentimentos que expresso através dessas palavras, se ficassem contidos em mim, renderiam frutos malditos, essa carta, portanto, apesar de destinada a você, é necessária a mim. Eu nunca lhe escrevi carta alguma e não porque não tivesse o que lhe dizer, mas por imaginar que nada do que eu dissesse faria diferença. Para mim, desde o tempo que me lembro de você, sua mente e seu coração estão completamente fechados, impenetráveis para quaisquer palavras ou atos.

Só posso imaginar que é sua falta de sensibilidade que faz com que você aja como age, pois sempre me parece que você nunca percebe nada, nunca vê nada de errado, nunca entende o que aconteceu. Queria que um dia você pudesse sentir o que eu sinto, o que os outros sentem, queria que você tivesse uma visão mais profunda do que me parece que tem, só assim imagino que você entenderia o que eu quero dizer.

Não consigo te culpar totalmente, afinal, estaria culpando um cego por não saber andar sozinho, mas não o isento de culpa, pois o cego que se dispõe, aprende a andar com sua bengala e então, para ele, o mundo escuro se torna tão vivo e visível quanto o nosso. Rogo a Deus que um dia você possa ter, mesmo que apenas por um segundo, um vislumbre da Visão e que perceba o quanto é estúpido vendar-se a si mesmo para esconder-se do feio da vida.

Há muitos meios de entrar num lugar, você pode bater à porta e esperar que seja aberta, pode pegar uma chave e abrir a porta por si mesmo, pode entrar escondido pela janela, como um gatuno, algumas pessoas, de tão conhecidas, já até encontram a porta aberta. Acredito que um dia a porta tenha estado aberta para você, mas sou um ser humano como qualquer outro e nossos instintos nos fazem guardar o que é nosso do perigo. Temendo que algo pudesse ser destruído, tranquei a porta, mas quando você batia, eu ia abri-la. Talvez um dia eu tenha demorado um pouco para atender e você, impaciente como é, resolveu entrar pela janela. Não foi uma surpresa agradável, seus meios me assustaram e, depois que você saiu, fechei também a janela. Então você conseguiu uma chave e trancou a porta pelo lado de fora. Eu nada podia fazer, mas você ia e vinha quando bem entendia. Ora suas visitas me alegravam, ora me entristeciam.

O tempo passou e as visitas de todos os meus outros amigos, conhecidos, familiares e mesmo aqueles desconhecidos que só “deram uma passadinha”, todas essas visitas me fizeram um Triunfante, um guerreiro mago, aspirante a senhor de mim. Certa vez, não quero nem me lembrar porque, você perdeu sua chave. Gritava do lado de fora, mas eu nada podia fazer, você trancara a porta pelo lado de fora. Então você tentou a última forma de entrar: resolveu arrombar a porta. Essa técnica poderia funcionar, mas fazia muito tempo que você não entrava, não sabia em que eu havia me transformado, não imaginava que sua força e sua brutalidade não seriam suficientes, porém, mesmo eu tentando dissuadi-lo, você tentou. Os golpes nunca me atingiram, afinal, nunca foram golpes físicos, mas eles causaram um estrago tal nos mecanismos da fechadura que seria impossível abrir aquela porta novamente. Você, não eu, se trancou do lado de fora, para sempre.

É triste sabe, de vez em quando eu gostaria que você estivesse aqui do lado de dentro, mas não está. Queria ao menos que as lembranças que tenho de você fossem as melhores, mas não são. No entanto, não me deixo levar por isso, não posso me martirizar por algo que você mesmo provocou. Passou um bom tempo para eu entender isso, afinal, as vezes você ainda tenta arrombar a porta. Hoje, quando eventualmente passo em frente à porta quebrada, nada desperta em mim a não ser indiferença. Sinto muito se isso te entristece, porque a mim, sinceramente, não mais.

É duro, no entanto, ver que você repete isso com muitas outras pessoas, que você não consegue se conter e, infelizmente, vejo que na mesma medida em que eu abro portas, você as fecha. Será que um dia você vai perceber a tempo? Espero que sim, afinal, se logo mais, com tanto ainda pela frente, você não tiver mais nem porta onde bater, perceberá que de nada adiantou o que deixou para trás. Aprendi com os magos que em casos assim há uma única solução, perigosa, poderosíssima e infalível: o fogo. As chamas purificam, pois consomem completamente, extinguem a treva através da luz que emanam, devolvem o pó ao pó de onde veio e queimam, queimam tudo aquilo de que se aproximam. Se estiver disposto a seguir esse caminho, saiba que não pode restar nada, terá de se deixar consumir por completo, pois se sobrar algo vivo, então haverá cicatrizes horríveis demais e um trauma insuportavelmente mortal.

Como teria sido bom se você tivesse dito palavras doces, se tivesse beijado um beijo amado, se tivesse chorado lágrimas verdadeiras e deixado alguém lhe consolar... como seria bom se você deixasse de lado esse seu orgulho e uma única vez em toda a sua vida pedisse, não a mim, mas a si mesmo, perdão... espero que um dia você consiga.

Maximiliam A. H. Ferreira

Chá de sumiço

Meus queridos amigos, Espero que vocês não tenham sentido muito a minha falta (mentira, espero que vocês tenham esperado ansiosamente por notícias rs). Bem, esse "chá" novo (de sumiço) que eu experimentei nesse exato um mês sem lhes escrever se deve (como vocês verão nas cartas que eu vou lhes enviar) a alguns dias menos fáceis que causaram alguns probleminhas e me fizeram não ter muita vontade de lhes escrever. Bom, estava ansioso para voltar e, finalmente, cá estou! Mandem um "oi" de vez em quando! Tenho muitas cartas para escrever, novidades para contar para os amigos, esclarecimentos a prestar, puxões de orelha pra dar... ufa! Quanta coisa! Não esqueço de vocês, nunca! Beijos e abraços, Max