domingo, 30 de outubro de 2011

Curiosa trilha amarela.


Moro perto de uma lagoa, no meio dela há uma passagem para pedestres que a divide em duas. Na última sexta feira, estava atravessando a passagem quando olhei para o lado esquerdo e, maravilhado, vi uma trilha amarela sobre as águas calmas. Eram pequenas flores de uma árvore que há no meio da passagem que caíram durante a noite sobre a água. Resolvi fotografar, mas além de minhas parcas habilidades como fotógrafo, acredito que a beleza daquilo só pudesse ser realmente apreciada ao vivo.


Obviamente, aquilo me fez pensar (um amigo vive me dizendo que eu penso demais, talvez ele tenha razão... mesmo assim, não me desfaço dos meus pensamentos). Fez pensar que no mundo a maior parte das coisas está indefinida, que embora a flor nasça dos altos galhos da árvore com um possível objetivo biológico, ninguém pode dizer ao certo qual será o fim ao qual ela se prestará.
Florzinhas amarelas... Completamente efêmeras, assim como nossos sentimentos, assim como nossos desejos. Se apenas uma delas estivesse flutuando no lago eu não acho que teria notado. Só o rastro de milhares delas me fez parar e até arriscar uma fotografia. A raiva de um dia, as palavras caladas ou as ditas inconsequentemente, um atraso, um fracasso ou uma derrota, sozinhos, eles nada significam. Deveriam ser, portanto, efêmeros em nossas vidas.
Somos meio bobos às vezes, achamos que valemos mais ou menos que as flores que caíram no caminho ou que aquelas que caíram na água, ou mesmo que aquelas que ainda estão na copa da árvore. Fato: uma hora ou outra, toda flor irá murchar, apodrecer e voltar ao pó de onde veio. Assim é com todas as coisas, assim é conosco.
O engraçado é que enquanto a maioria passa apressada, tem sempre algum maluco pra parar e olhar com bons olhos pra paisagem do lago. Sorri e estava guardando a câmera quando me virei de volta para frente, mirando no meu próprio caminho. Acabei tirando outra fotografia:


Gostei das duas cenas. E agora, pensando mais um pouco sobre tudo isso, percebo que não há muita diferença entre a flor que cai no caminho e a que cai no lago: um lago não é um rio que corre, então, qualquer dos grupos de flores está sujeito às mesmas duas condições: o vento e o movimento dos seres que passam. Conclusão curiosa...

Max 

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Dança dos passos perdidos


Estou tentando aprender a dançar. Acho que faz algum tempo que não encontro algo novo para me deixar tão empolgado. Eu sempre achei que seria impossível aprender e, por isso, nunca tentei. Devo dizer que experiência está sendo ótima (o que, definitivamente, não implica em ótimos resultados, mas com certeza algum progresso) e tenho notado que esse é um bom meio de mudar de ares e, de certa forma, conhecer novos passos para dar.
Acontece que se passou exatamente um ano da minha grande epifania, do momento em que eu me senti mais pleno, realizado e satisfeito em toda a minha vida. Naqueles dias, tudo pareceu absolutamente lindo, cada sabor, aroma, ruído e imagem compunham um verdadeiro espetáculo, foi mais marcante que um filme com roteiro fantástico, trilha sonora sublime e fotografia impecável: diferente de um filme, aquilo foi vivenciado, foi real.
Apesar das dificuldades, das incertezas e dos obstáculos pelo caminho, há um ano atrás eu ria e dançava despreocupado, saltava por sobre pedras do caminho, corria livre com o vento de encontro à face: sentia a realização como seiva brotando da própria Árvore da Vida e correndo, tranquila, dentro das minhas veias. A plenitude real não parte depois que a deixamos entrar, mas ela muda de forma, talvez, para dar mais emoção às cenas que sucedem. Depois de um ano, tudo continua a passar no mesmo filme incrivelmente belo e tão intenso como outrora, porém, composto de cores e sons completamente diferentes.
Hoje, aquele riso deu lugar a um sorriso sutil, os passos de dança tornaram-se mais bem marcados, agora fico sentado sobre as pedras refletindo sobre a paisagem, deixando a alma caminhar livre e vagarosa por campos desconhecidos. Bons filmes podem contar com cenas muito irreverentes e, depois, muitíssimo mais dramáticas, mas não menos emocionantes. Creio que eu esteja agora passando por uma cena dramática, sentindo o coração apertado e com olhos marejados por precisar abdicar de certas alegrias para evitar certos sofrimentos.
Meus passos não foram os mesmos que os seus, caminhamos em velocidades diferentes e sinto que estamos em pontos bem diversos da jornada. Gostaria que você conseguisse enxergar a beleza da plenitude do que eu tenho vivido e apesar de eu ser infinitamente grato por cada alegria e cada tristeza que temos vivenciado juntos, queria que você compreendesse minha decisão: não posso e não quero correr para lhe alcançar no caminho. Espero que você perceba que o único motivo para que eu esteja prefirindo abdicar de acompanhar-lhe numa dança é para que eu não me machuque por estar com os passos perdidos num rítmo que ainda não conheço e que eu preciso, ironicamente, aprender sozinho.
Mesmo que eu lhe negue a próxima dança, por favor, saiba que estarei aqui para dividir outras alegrias e outras tristezas, para ouvir e para falar, pois somos protagonistas de filmes de um mesmo Diretor e já atuamos juntos muitas vezes em verdadeiras obras primas. Um último pedido: na dúvida, não custa me tirar para dançar, pois prefiro a felicidade do convite que não posso aceitar à tristeza da possibilidade que me foi negada.
Do amigo que sempre lhe quer bem,

Max