quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Vida em prelúdio.


Estou sozinho agora. Não sei há quanto tempo, nem por quanto tempo, só sei que estou sozinho. Esses dias, contudo, tem sido muito felizes. Uma vez li num texto de pedagogia1 uma pergunta que me fez pensar muito: “E haveria bem mais precioso que a vida vivida?”. Depois de pensar bastante, compreendi que não, nada é mais precioso que a vida vivida. Saber, porém, não é o mesmo que agir, pois se fosse, arrisco dizer que a maioria dos problemas do mundo não existiria. É preciso tempo para transformar as ideias em ações, tempo para provarmos para nós mesmos que estamos prontos para realizar aquilo em que acreditamos. É preciso tempo para ter coragem.
Nas últimas semanas tenho tentado por em prática esse ensinamento, tenho tentado fazer da “vida vivida” não só o maior dos tesouros, mas o maior dos compromissos, uma espécie de pacto comigo mesmo. Hoje vejo pessoas, já com a idade avançada, e sinto pena por carregarem, com tanto esforço, sobre suas costas curvadas, o peso de toda uma vida morta. Se é necessário carregar alguns pesos na vida, que sejam os pesos leves das lembranças pela vida vivida e não os fardos imensos da vida que poderia ter sido e não foi, a vida que passou morta.
Sabe, eu não sou uma pessoa de muitas certezas, por isso gosto de andar sozinho pra pensar bem sobre as minhas dúvidas. Analisando essas andanças, nos dias cinzentos e chuvosos de inverno, uma das maiores conclusões que tenho é que precisamos estar dispostos a mudar de rumo, de repente, dobrar uma esquina sem dar satisfação e tentar arriscar sermos felizes.
O pacto que sugiro é bem simples, não implica nada além de um pouco de atitude, viver arriscando ser feliz. Acaso alguém poderia me dizer se existe melhor risco que o risco de ser feliz? Aqueles que esperam encontrar sucesso na inércia, emoção no caminho sem percalços e amor em promessas da ausência estão, tristemente, deixando suas vidas em prelúdio, um prelúdio eterno do nada.
Então poderão me dizer que é preciso ser muito forte, muito corajoso e ter muito sangue frio para viver assim. Eu responderei da mesma forma que respondi à uma amiga ontem: força, coragem e sangue frio quem tem são os heróis, os bombeiros que salvam pessoas de desmoronamentos, apagam incêndios e escalam montanhas arriscando a própria vida, o que eu faço é só uma brincadeira de criança. Por sinal, é uma brincadeira bem divertida, você deveria tentar.
Max

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Namore um cara que lê

[Primeiro texto que publico aqui que não é de minha autoria, mas vale muito a pena, muito mesmo. Original do Bruno Palma e Silva, no "acepipes escritos". O grifo no final é meu]



  baseado no "Namore uma garota que lê",
          texto escrito pela Rosemary Urquico e
          traduzido e adaptado para o português
          pela Gabriela Ventura
          (espero que não se zanguem muito comigo)


    Namore um cara que se orgulha da biblioteca que tem, ao invés do carro, das roupas ou do penteado. Ele também tem essas coisas, mas sabe que não é isso que vai torná-lo interessante aos seus olhos. Namore um cara que tenha uma pilha de três ou quatro livros na cabeceira e que lembre do nome da professora que o ensinou as primeiras letras.
     Encontre um cara que lê. Não é difícil descobrir: ele é aquele que tem a fala mansa e os olhos inquietos. Ele é aquele que pede, toda vez que vocês saem para passear, para entrar rapidinho na livraria, só para olhar um pouco. Sabe aquele que às vezes fica calado porque sabe que as palavras são importantes demais para serem desperdiçadas? Esse é o que lê.
     Ele é o cara que não tem medo de se sentar sozinho num café, num bar, num restaurante. Mas, se você olhar bem, ele não está sozinho: tem sempre um livro por perto, nem que seja só no pensamento. O rosto pode ser sério, mas ele não morde, não. Sente-se na mesa ao lado, estique o olho para enxergar a capa, sorria de leve. É bem fácil saber sobre o quê conversar.
     Diga algo sobre o Nobel do Vargas Llosa. Fale sobre sobre as novas traduções que andam saindo por aí. Cuidado: certos best-sellers são assunto proibido. Peça uma dica. Pergunte o que ele está lendo –e tenha paciência para escutar, a resposta nunca é assim tão fácil.
     Namore um cara que lê, ele vai entender um pouco melhor seu universo, porque já leu Simone, Clarice e –talvez não admita– sabe de memória uns trechos de Jane Austen. Seja você mesma, você mesmíssima, porque ele sabe que são as complicações, os poréns que fazem uma grande heroína. Um cara que lê enxerga em você todas as personagens de todos os romances.
     Um cara que lê não tem pressa, sabe que as pessoas aprendem com os anos, que qualquer um dos grandes tem parágrafos ruins, que o Saramago começou já velho, que o Calvino melhorou a cada romance, que o Borges pode soar sem sentido e que os russos precisam de paciência.
     Um namorado que lê gosta de muita coisa, mas, na dúvida, é fácil presenteá-lo: livro no aniversário, livro no Natal, livro na Páscoa. E livro no Dia das Crianças, por que não? Um cara que lê nunca abandonará uma pontinha de vontade de ser Mogli, o menino lobo.
     E você também ganhará um ou outro livro de presente. No seu aniversário ou no Dia dos Namorados ou numa terça-feira qualquer. E já fique sabendo que o mais importante não é bem o livro, mas o que ele quis dizer quando escolheu justo esse. Um cara que lê não dá um livro por acaso. E escreve dedicatórias, sempre.
     Entenda que ele precisa de um tempo sozinho, mas não é porque quer fugir de você. Invariavelmente, ele vai voltar –com o coração aquecido– para o seu lado.
     Demonstre seu amor em palavras, palavras escritas, falas pausadas, discursos inflamados. Ou em silêncios cheios de significados; nem todo silêncio é vazio.
     Ele vai se dedicar a transformar sua vida numa história. Deixará post-its com trechos de Tagore no espelho, mandará parágrafos de Saint-Exupéry por SMS. Você poderá, se chegar de mansinho, ouví-lo lendo Neruda baixinho no quarto ao lado. Quem sabe ele recite alguma coisa, meio envergonhado, nos dias especiais. Um cara que lê vai contar aos seus filhos a História Sem Fim e esconder a mão na manga do pijama para imitar o Capitão Gancho.
     Namore um cara que lê porque você merece. Merece um cara que coloque na sua vida aquela beleza singela dos grandes poemas. Se quiser uma companhia superficial, uma coisinha só para quebrar o galho por enquanto, então talvez ele não seja o melhor. Mas se quiser aquela parte do "e eles viveram felizes para sempre", namore um cara que lê.
     Ou, melhor ainda, namore um cara que escreve.


domingo, 7 de agosto de 2011

Areia na margem do rio

A mente possui mil caminhos, portas, passagens, incontáveis segredos que cada um pode desejar guardar ou revelar. Os mistérios são como nuvens amorfas de neblina: turvam nossa visão, gelam nossa espinha e alimentam nossas dúvidas. Despertos de nossos sonhos ainda estamos sob domínio do nosso subconsciente e, muitas vezes, não temos a capacidade de compreender as escolhas que fazemos.
Independente de nossa idade, acredito que somos todos como crianças. Nossas ideias, nosso conhecimento e mesmo nossos desejos podem mudar e envelhecer, mas há atitudes comuns que compartilhamos e repetimos por toda a vida. Oportunidades aparecem no meio da noite, na mesa ao lado, e nós ainda as encaramos com receio, como se fossem fantasmas de névoa.
Tente parar, por alguns instantes, e pensar no que torna cada um realizado. Questione-se: o que cada pessoa no mundo almeja para sentir-se realizada? Quanto maior a abrangência desse questionamento, quanto mais pessoas forem envolvidas nesse seu jogo mental, você perceberá quão pequenas são as suas ambições. Uma família, fama, algum bem material, fortuna, saúde, poder, por maior que possa parecer, nada disso pode ser realmente encarado como algo absolutamente grandioso. Para além dos sonhos, a ilusão do desejo ainda é muito pequena. Somos crianças que se satisfazem com brinquedos simples, por mais reluzentes ou fantásticos que possam parecer.
Ajoelhado na beira do rio, o garoto recolhe a areia com as mãos. Olha para ela como se olhasse para o universo todo, como se tudo pudesse caber naqueles pequenos grãos. Ilusão, mas é a ilusão que satisfaz. Ele não precisa de nada além de seus grãos de areia e, satisfeito, sorri. Corre o rio. Enquanto ele sorria olhando a areia reluzindo na luz do sol, as águas carregaram a areia que escorria pelas suas pequenas mãos. O rio de águas doces sente o gosto salgado das lágrimas da criança. Logo, no entanto, ele voltará a recolher areia na margem do rio sorridente. Ele é criança, assim como nós.


[uma música: Ilusion – Julieta Venegas & Marisa Monte



“Uma vez eu tive uma ilusão
e não soube o que fazer
(...)
E ela se foi
Porque eu a deixei
Por que eu a deixei?
Não sei
Eu só sei que ela se foi”]

Max