domingo, 22 de fevereiro de 2009

IMPORTANTÍSSIMO

Meus caros amigos e leitores,
Escrevo pensando que, de alguma forma, minhas cartas ajudarão as pessoas. Muitas delas não tem destinatário, mas o faço com carinho na esperança de "mudar o mundo pelo menos um pouquinho". Tenho um amigo e ele está com leucemia. É sempre meio chocante quando ficamos sabendo que pessoas da nossa idade estão doentes e eu não fiquei menos surpreso quando fiquei sabendo do caso do Guto. Isso me fez pensar em quantas vezes eu disse "Nossa... eu podia ir doar sangue, isso ajuda as pessoas e não me custa nada" ou "Puxa... tem pessoas que morrem porque não conseguem um doador de medula óssea... bem que eu poderia me inscrever como doador..." e no fim, acabei me sentindo até um pouco egoísta por não pensar que uma coisa que não me traz nenhum prejuízo pode ser a diferença pra alguém que esteja doente. Bom, enfim, muitas outras pessoas pensaram nisso e criou-se uma campanha para colaborar com a AMEO (Associação da Medula Óssea). Olha, confesso que não imaginava que a coisa era tão simples, eu realmente achei que envolvia dores insuportáveis e coisas do tipo, mas não! É muito mais "confortável" do que se diz por aí. Então, assim, pra não tomar mais o tempo de vocês, estou colocando um link AQUI que vai dar num "folder" esclarecendo várias coisas e convidando para que vocês participem da campanha no próximo dia 7 de março (Claro, se você não puder ir, e ainda assim quiser ajudar não tem problema, é só se cadastrar na lista de possíveis doadores). Mesmo se você não puder ou não estiver afim por qualquer motivo, você ainda pode repassar isso e divulgar, porque já é uma grande ajuda! MUITO obrigado pela atenção de todos vocês!

Montanha de erros.

Da janela do meu quarto, bem ao longe, eu posso ver uma montanha. Como minha noção de localização não é das melhores, nem adianta me perguntar que lugar é aquele porque não sei dizer. Só sei que, pela primeira vez, ver aquela montanha lá longe me fez pensar. Pelo que dá pra ver, tem um caminho que leva até o alto, todo margeado de árvores, um caminho que eu me vejo trilhando. Posso imaginar os tempos antes dos homens, quando toda aquela região era uma floresta, ali não havia trilhas ou caminhos pré-estabelecidos e seria praticamente impossível chegar ao topo sem se perder.

O curioso é que agora essa carta parece bem mais importante do que quando pensei que deveria te escrever, uns dias atrás, espero que você entenda o que quero te dizer. Lá está minha montanha, pré-histórica, repleta de árvores gigantes, sem nenhuma trilha que leve até o topo. Imagine estar perdido no meio dessa floresta e que seu único objetivo seja prosseguir até o topo. Um bom geógrafo poderia explicar melhor, mas mesmo assim vou tentar... Minha montanha, na verdade, não é uma montanha muito íngreme, de modo que muitas vezes você pode não saber se está descendo ou subindo, mesmo devido à irregularidade do terreno em alguns locais.

A pergunta que faço é bem simples: sem conhecer a mata inexplorada, sem poder ver o céu e se guiar, por qualquer meio que fosse, haveria realmente algum caminho errado para chegar lá no alto? Estou ouvindo Vivaldi. Se ele não tivesse arriscado compor e criar seu próprio caminho, não poderíamos ouvir a beleza das quatro estações expressas na forma de sons.

Talvez essa seja a parte mais complexa do que estou tentando te dizer. Não quero que você pense que sou um revoltado, contrário a qualquer tipo de regra. Perceba que minha montanha é inexplorada, hoje, como posso ver de minha janela, há uma estrada que conduz direto ao topo. Sem um motivo razoável eu seria tolo em me embrenhar na mata para tentar encontrar um outro caminho.

A referência que faço é à montanha que está dentro de você, aquela que sua própria existência criou e impôs. Se não há nenhum caminho pré-estabelecido para chegar ao topo, então o caminho que escolhermos nunca será errado. Acumulamos arrependimentos por opções erradas, mas poucas vezes nos questionamos se conhecíamos outros caminhos e mais ainda, se conhecíamos os lugares onde esses caminhos poderiam nos levar. Também não tenho nenhuma noção de distâncias, então vou fingir que o caminho que sobe a montanha tem apenas um quilômetro. Estando perdidos, se andamos dezenas de quilômetros para chegar ao topo de nossas montanhas, ainda assim seremos vitoriosos, afinal, os médicos sempre dizem que caminhadas fazem muito bem à saúde...

Em tempo, vale lembrar que sou mais um perdido, não tenho respostas miraculosas para questões e nem tenho bússolas mágicas para guiar a todos. Conte comigo sim, quando precisar, mas não espere chegar lá em cima sem se cansar, como disse, não tenho muita noção espacial...

Até qualquer hora!

Max

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Parábola da Aranha.

Nos últimos dias recebi notícias que me chocaram. Por maiores que sejam nossas cicatrizes, algumas vezes ainda trememos com a dor. Você e eu somos muito frágeis e isso me agrada. O mundo a nossa volta é perigoso e talvez por isso, não menos fantástico.

Havia uma minúscula aranha. Pouco importa de onde veio ou pra onde foi. No tempo de sua vida que nos interessa ela vivia dentro dum minúsculo furo, no canto de um grande salão vazio. Tal é a natureza de todas as coisas que a aranha começa a tecer um fio de uma estranha seda e a esse ela une outro e mais outro. Depois de centenas, talvez milhares de fios, a pequena aranha terminou sua teia. Aquela foi uma grande obra e consumiu muito tempo de sua curta vida de aranha, mas sua natureza lhe diz que isso é que lhe proverá o seu sustento.

Em dado momento, a famosa Maria incógnita, encarregada da limpeza, varre todo o salão. Sobe em cadeiras e escadas e, pouco a pouco, retira o pó dos lustres até finalmente chegar ao canto em que vivia a aranha. Maria utiliza seus instrumentos e arranca quase que de uma vez a pequena teia. Depois de se certificar que havia limpado tudo adequadamente, com seus produtos químicos perfumados, desce do banco e continua seu trabalho. Depois de encerar o chão, ela se vai. Ela faz isso porque é o que lhe proverá o seu sustento.

Tal é a natureza de todas as coisas que na presença de Maria a aranha escondeu-se em seu furo, porém os produtos químicos lhe fizeram mal e ela mudou-se para uma pequena fresta entre o lustre central e o teto. Ali, por sua natureza, começa a tecer nova teia. Ela tece e tece, fio após fio, porém é interrompida por um vento que não sabia de onde vinha. O vento é forte e destrói toda a teia. A pequena aranha quase cai ao chão do salão, mas prende-se, por um único fio, ao lustre enquanto o vento estranho a faz oscilar como se estivesse num pêndulo.

O salão está repleto de pessoas. Todas dançam. Pouco importa a música ou o ritmo, o importante é que os ventiladores de teto estejam ligados para que ninguém sinta calor. Isso é providenciado pelo gerente, afinal, a dança das pessoas lhe proverá o seu sustento.

E ali, sendo empurrada para lá e para cá, está a ínfima aranha, sustentada por um único fio. Não consegue subir por causa do movimento e nem tampouco pode descer, pois será esmagada pelos dançarinos que se movem muito rápido. A seda de seus fios é tão frágil que se mais um ventilador for ligado, talvez o próprio vento faça-o arrebentar. Talvez, num brinde, quando todos erguerem suas taças, seu fio acabe molhado de vinho e desfeito. Talvez o gerente note, miraculosamente, a presença de um fio de teia pendendo do teto e ordene a um garçom que, discretamente o remova.

A aranha não compreende o baile e talvez ninguém a compreenda, por ser tão pequena, mas todos, sem exceção, buscam seu próprio sustento. Não se pode prever o que acontecerá com a aranha se ela for privada do fio que lhe sustenta. Isso pouco nos importa saber, o importante é sabermos que tal é a natureza de todas as coisas que, maiores ou menores, somos todos aranhas.

Não lhe agrada imensamente essa bela cena?

Até breve.

Max – a menor das aranhas