sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Parábola da Aranha.

Nos últimos dias recebi notícias que me chocaram. Por maiores que sejam nossas cicatrizes, algumas vezes ainda trememos com a dor. Você e eu somos muito frágeis e isso me agrada. O mundo a nossa volta é perigoso e talvez por isso, não menos fantástico.

Havia uma minúscula aranha. Pouco importa de onde veio ou pra onde foi. No tempo de sua vida que nos interessa ela vivia dentro dum minúsculo furo, no canto de um grande salão vazio. Tal é a natureza de todas as coisas que a aranha começa a tecer um fio de uma estranha seda e a esse ela une outro e mais outro. Depois de centenas, talvez milhares de fios, a pequena aranha terminou sua teia. Aquela foi uma grande obra e consumiu muito tempo de sua curta vida de aranha, mas sua natureza lhe diz que isso é que lhe proverá o seu sustento.

Em dado momento, a famosa Maria incógnita, encarregada da limpeza, varre todo o salão. Sobe em cadeiras e escadas e, pouco a pouco, retira o pó dos lustres até finalmente chegar ao canto em que vivia a aranha. Maria utiliza seus instrumentos e arranca quase que de uma vez a pequena teia. Depois de se certificar que havia limpado tudo adequadamente, com seus produtos químicos perfumados, desce do banco e continua seu trabalho. Depois de encerar o chão, ela se vai. Ela faz isso porque é o que lhe proverá o seu sustento.

Tal é a natureza de todas as coisas que na presença de Maria a aranha escondeu-se em seu furo, porém os produtos químicos lhe fizeram mal e ela mudou-se para uma pequena fresta entre o lustre central e o teto. Ali, por sua natureza, começa a tecer nova teia. Ela tece e tece, fio após fio, porém é interrompida por um vento que não sabia de onde vinha. O vento é forte e destrói toda a teia. A pequena aranha quase cai ao chão do salão, mas prende-se, por um único fio, ao lustre enquanto o vento estranho a faz oscilar como se estivesse num pêndulo.

O salão está repleto de pessoas. Todas dançam. Pouco importa a música ou o ritmo, o importante é que os ventiladores de teto estejam ligados para que ninguém sinta calor. Isso é providenciado pelo gerente, afinal, a dança das pessoas lhe proverá o seu sustento.

E ali, sendo empurrada para lá e para cá, está a ínfima aranha, sustentada por um único fio. Não consegue subir por causa do movimento e nem tampouco pode descer, pois será esmagada pelos dançarinos que se movem muito rápido. A seda de seus fios é tão frágil que se mais um ventilador for ligado, talvez o próprio vento faça-o arrebentar. Talvez, num brinde, quando todos erguerem suas taças, seu fio acabe molhado de vinho e desfeito. Talvez o gerente note, miraculosamente, a presença de um fio de teia pendendo do teto e ordene a um garçom que, discretamente o remova.

A aranha não compreende o baile e talvez ninguém a compreenda, por ser tão pequena, mas todos, sem exceção, buscam seu próprio sustento. Não se pode prever o que acontecerá com a aranha se ela for privada do fio que lhe sustenta. Isso pouco nos importa saber, o importante é sabermos que tal é a natureza de todas as coisas que, maiores ou menores, somos todos aranhas.

Não lhe agrada imensamente essa bela cena?

Até breve.

Max – a menor das aranhas

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Someone disse...

Olha, Max, se não fosse meu imenso pavor de aranhas, eu responderia afirmativamente que agrada. Apesar de tudo, entendo a metáfora, e é a partir daí que espero o fio parar um pouco para que eu suba de volta a um lugar seguro e daonde eu possa continuar a viver, com todas as implicações que esse pequeno verbo acarreta. Um beijo bem grande e espero poder sair com vc o mais breve possivel. Acho que estão destruindo muitas vezes minha teia... Assim que achar alguma fresta mais segura, prometo te chamar e marcar algo, além de contar todas as aventuras de reconstruir as teias que vieram e virão. =*

Rubia disse...

Max, gostei muito de conhecer pessoalmente o remetente dessas cartas tão interessantemente belas. Essa parábola é fantástica... Aquela história da garota que fala ao celular e o repudia por medo, grosseria ou simples soberba (quem sabe, né? existem pessoas assim...) é profunda e angustiante. Vivi o seu sentimento.
Você escreve muito bem e transmite muito. Continue. Abraços.