terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O preço do orgulho

- para dab

Muito embora seja grande nosso conhecimento, não é fácil acolher a dor de braços abertos. Essa irmã, bela e terrível, veio visitar-me, como sempre, repentina e inesperada. Mesmo sendo cautelosos, estaremos sempre desprevenidos quando ela bater à nossa porta e sofreremos, cada qual ao seu modo. Claro que as palavras podem ser verdadeiras, mas enquanto não as experimentarmos, serão apenas belezas vazias. Naquele momento, logo depois de tê-la glorificado com palavras, eu talvez julgasse estar tão alto que ela não mais poderia me alcançar. Ela me sorriu, com a compaixão maliciosa dos que triunfam sobre as vãs ilusões, e então empurrou-me, fazendo-me precipitar, assustado e surpreso ao reconhecer minha fragilidade.
Quanto maior a altura, maior a queda, prega o dito popular. Mais do que nunca agradeço à dor por ter deixado gravada essa máxima na forma de cicatrizes das feridas abertas quando caí com o rosto prostrado ao chão. A queda foi rápida e estarrecedora, contudo, enquanto tombava tomado pelo desespero, meus olhos se abriram para notar, ao meu redor, o esplendor e a grandiosidade das coisas: das montanhas de topos aos quais nunca chegarei, acima de todas as nuvens de mistérios, da luz insondável proveniente do sol das verdades que não me serão conhecidas, da perfeição que, tão obviamente, me está infinitamente distante. A dor do despencar é menor do que a dor de perceber-se pequeno. Agora que o percebi, sorrio.
Os imperadores da Antiguidade, os reis absolutistas, os revolucionários do passado, os comandantes dos maiores exércitos, os rebeldes do presente, o velho vivido e o infante por viver, todos, inevitavelmente abraçarão o orgulho e dentre esses, poucos salvar-se-ão de sua traição. Não é à toa que Agostinho outorgava-lhe o título de pecado supremo, pois, aceitemos ou não, é ele quem corrói a alma do homem e lhe abre as portas à todos os crimes. Ninguém pode fugir à dor, ninguém é intocável ou infalível, ninguém é grande o suficiente para tocar o firmamento, ainda que, livres, possamos alcançar as estrelas. E, mesmo sabendo todas essas limitações, em algum momento o orgulho parecerá nos elevar acima de todas elas.
Nunca fugiremos do orgulho. Tentaremos até mesmo revesti-lo em belas peles de cordeiro, diferenciando orgulho e vaidade enquanto que uma análise mais profunda são completamente idênticos. Chama-se vaidade à tudo aquilo que recebe mal juízo e imagina-se que sentir orgulho de nossa origem, de nossos filhos ou de nossas conquistas são virtudes e não vícios, porém os mais orgulhosos nacionalistas alimentaram preconceitos e fizeram guerras e holocaustos, os filhos mais enobrecidos tornaram-se gananciosos e incontroláveis, o simples enaltecimento das vitórias implica colocarmos uns acima de outros, enquanto que na realidade, sob este céu, são todos iguais. Grande verdade é que ninguém está acima do pó do qual todos viemos e ao qual tornaremos todos, mas sempre tentamos ser “o melhor pó”.
Quantos erros, completamente ignorados, cometemos por orgulho? Quantas mentiras contamos, quantas pessoas magoamos, quanto mal já não causamos a nós mesmos, sem ao menos nos darmos conta, simplesmente por sermos orgulhosos demais? Se refletirmos seriamente veremos, com pesar, que fazemos isso o tempo todo e chegaremos a conclusão de que o preço de nosso orgulho é alto por demais. Não sei viver sem orgulho, não creio que alguém saiba. Reconheço apenas que os mais virtuosos homens foram aqueles que conseguiram, a maior parte do tempo, aceitar sua pequenez. Acredito que já seremos mais felizes, ainda que longe da perfeição, se procurarmos imitar estes nobres homens da virtude: os humildes.

Max