sábado, 31 de dezembro de 2011

Ensaio sobre dor de dente.


A última semana foi bem diferente. Acordei numa madrugada sentindo muita dor, dor de dente. Meu dente siso se indispôs com a minha gengiva e a coisa ficou bem chata. Felizmente, essa semana foi estranhamente boa e hoje a chuva cai lá fora com a promessa de um novo ano tranquilo e mágico.
Acho que hoje todos gostariam de ter um vislumbre do futuro, de saber o que vai ser de amanhã em diante, mas sabe, a conclusão a qual eu estou chegando hoje é que não importa se aqui, em São Paulo, chove uma chuva fria e fina, se no Espírito Santo, em Vitória, faz um dia lindo ou mesmo se em Hamburgo, na Alemanha, neva de leve, o que realmente importa é o que a gente faz com os nossos dias, faça chuva ou faça sol.
Ninguém pode dizer que a gente perdeu (eu p.e.r.d.i. [1]) porque ninguém, além de nós mesmos, sabe quantas vitórias existem dentro do nosso coração ainda que, do lado de fora, nossos corpos jazam destruídos nas trincheiras da vida: o que mais importa é a batalha da felicidade anunciada à própria alma, a única que pode ser compartilhada em lágrima ou em sorriso. Esse ano, muito embora alguns possam dizer e pensar o contrário, eu fui muito, muito feliz.
A grande habilidade que precisamos desenvolver (admito, eu mesmo preciso muito) é saber transformar o adverso, mesmo que só de faz de conta, só pra gente poder fingir que está vendo as estrelas caindo mesmo com o céu nublado, só pra não ficar triste por perder a maior noite de chuva de meteoros do ano.
Tem dias que a gente se sente só, se sente carente e não importam quantos beijos loucos a gente dê em gente louca, quantas conversas superficiais a gente tenha ou quantas besteiras a gente leia por aí, na internet: vazio não se preenche, vazio se ocupa. Esses últimos tempos muita gente se revoltou, muita gente ocupou o mundo, mundo a fora, mas acho que tem muita gente também que não está sabendo ocupar o vazio que tem dentro de si mesmo. Esse vazio cada um ocupa do jeito que acha melhor, o importante é saber que ele nunca estará completo e tentar enxergar não o meio vazio, mas sempre o meio cheio.
Foto de Davi Martins
O dente doeu muito, nossa, como doeu! Pra quem está sentindo dor, pode parecer o fim do mundo e cada segundo pode parecer uma eternidade, mas toda dor passa, uma hora sempre passa. Eu tive o privilégio de unir pessoas e eu mesmo senti a dor de me separar de outras pessoas. Honra foi vivenciar ambos os sentimentos com atenção. Por mais que isso já seja um clichê dos mais batidos, vou repetir que nos acostumamos com as despedidas, pois chega uma hora na vida em que percebemos que o sentimento é o mesmo dos encontros: é o nosso coração que saúda o coração de quem a gente ama – Namastê! [2]
Eu estive um longo tempo perdido, procurando a resposta para quem fui e o que me tornei. Acho que nunca tropecei tanto, mas também sei que “se eu me perdi quando eu errei (...)” [3] agora eu me encontrei errando mais ainda! Além de sua existência, um homem deve agradecer por ter alguém para lhe apoiar nas quedas. Posso afirmar, com total segurança, que nunca me faltou um ombro amigo para chorar e um braço forte para me levantar quando eu caí (até literalmente). O curioso é que os mesmo que nos seguram, são aqueles que sabem nos respeitar quando precisamos ficar sozinhos, quando os caminhos que escolhemos nos conduzem por veredas que precisamos trilhar com nossas próprias pernas.
Nesse dia eu desejo boa sorte, para todos os viajantes, tanto os de passos curtos que levaram pra longe como os de passos longos que ficaram por perto. Se eu aprendi a dançar, acho que agora continuar caminhando não deve ser tão difícil. Adeus, só quem pode dar, são os privilegiados que além de um vislumbre, tiveram toda uma visão do futuro, então até mais, até quando, certamente, uma estrela brilhar na hora de nosso encontro [3]!
Seu amigo, seu irmão, seu garoto que escreve,

Max

[1] Para aqueles ridículos purbas que estão no jogo.
[2] Um dos significados difundidos pelos hindus para a palavra namastê é “o Deus que há em mim saúda o Deus que há em ti”
[3] Extraído da música “Fugi desse país” da banda Ludov
[4] Adaptação de uma saudação extraída do livro “O Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel”, no idioma fictício quenya, no qual se diz “Elen silá lúmenn omentielvo” (Uma estrela brilha na hora de nosso encontro).


sábado, 3 de dezembro de 2011

Vou voltar


Difícil admitir tanta coisa, principalmente pra alguém que sempre foi tão pressionado para ser “perfeito”. Fechar os olhos para as imperfeições é perigoso porque certamente vai chegar uma hora em que vamos precisar encarar os fatos, encarar a nós mesmos, encarar aquilo de que procuramos nos esconder por tanto tempo. Hoje eu não quero ensinar nada, nem tampouco provocar reflexões e muito menos assistir os desdobramentos das palavras nas vidas de cada um. Não, hoje só o que eu quero é desabafar.
Dói encarar os fatos e admitir que errei, que esqueci, admitir que ignorei tanta coisa no meio do caminho. Agora, parece que o relógio soa badaladas graves e terríveis, como se fosse o anúncio de um carrasco vindo com o machado afiado lançar sua sentença pesada sobre o meu pescoço. As coisas fugiram do planejado, quem sabe até tenham fugido do controle em algum lugar no passado que já não dá mais pra mudar.
Hipocrisia seria dizer que não me arrependo. Atire a primeira pedra quem acha que nunca se arrependeu. Arrependimentos, todos têm, só que arrependimento não enche barriga, nem cabeça, nem coração. Sigo em frente agora, mesmo sabendo que não cheguei onde esperava, tento erguer a cabeça e encarar, com os sorrisos que me restam, o cadafalso que me aguarda à frente.
Nunca me senti tão velho e é incrível ver como apesar disso eu sinta que deixei tanta coisa por fazer. Será que vai ser assim quando a velhice chegar? Talvez nós é que sejamos eternos insatisfeitos com nossas conquistas. Quem dera fossemos todos loucos, como Dom Quixote, sempre avante inspirados pela loucura.
O mais difícil é aceitar que não importa com quem ou com quantos eu fale: ninguém mais tem nenhuma resposta, ninguém mais tem nenhuma fórmula mágica, ninguém mais pode fazer as coisas serem de outro jeito porque as coisas não são de outro jeito e não depende de mim mudá-las. Agora, mesmo os mais cheios de fé me dizem que não há o que fazer senão aceitar. O maior desafio para um sonhador é não conseguir encontrar mais ninguém que compartilhe seu sonho louco em que tudo acaba dando certo. Isso tudo porque o “certo” do sonho, no fim, é a loucura que não consigo enxergar impossível, a realidade tem outro “certo” bem diferente do que eu esperava.
Já não importa mais se foi por minha culpa, por culpa dos outros ou por culpa de ninguém, já não faz mais sentido tentar encontrar alguém para culpar. A realidade me encontrou e o choque com ela explodiu na minha cabeça com a mesma força do machado do carrasco. Decepou as ilusões com destreza e os sonhos jazem caídos ali, ao lado de um corpo que precisa deixar-se ir para encontrar novos sonhos para seguir adiante: sonhos sonhados com um olho aberto e o outro fechado.
Sinto um vazio esquisito de tristeza, já estou sentindo saudade, já entendi que chegou a hora de me despedir do lado de cá, me despedir do sonho e partir. Adeus.

Max