quinta-feira, 12 de junho de 2008

Anjo no Inferno

Recebi a notícia de que meu tio Ricardo faleceu na última terça-feira. Ele foi uma das pessoas mais felizes que conheci. Ele viveu a vida com grande intensidade, fazia e dizia tudo aquilo que estava de acordo com sues desejos e, mesmo assim, nunca esqueceu seus princípios e sua moral. Alguns podem dizer que seus excessos lhe levaram à morte, porém, ele nunca esteve em falta com seus ideais e sua própria Verdade. Sua bondade e generosidade foram recompensados com uma vida plena e todos aqueles que tiveram o prazer de conhecê-lo aprenderam muito com ele, tanto com suas palavras, como com seus erros e, principalmente, com sua determinação.

Estou te falando tudo isso porque considero que a vida e, por que não a morte dele me ensinou uma coisa que talvez te faça pensar e talvez te ajude muito com o momento de dúvidas que você está vivendo. Há correntes de misticismo que dizem que Céu e Inferno são escolhas tomadas na vida, nem boas nem ruins, apenas escolhas. As opções que fazemos, tanto para Céu quanto para Inferno, nos conduzem por estradas de provações, graças, dificuldades e também boas surpresas, estradas trilhadas para que encontremos os tesouros que nos são destinados.

Você, como eu, pode tomar decisões e se arrepender depois, porém eu tenho pensado que qualquer que sejam nossas escolhas, se forem tomadas com consciência e levando em consideração nossos desejos e objetivos, nunca serão erradas, mas nos conduzirão ao Céu ou ao Inferno de que colheremos rosas preciosas. Os sábios também dizem que os caminhos acabam por encontrar-se no final e que alguns encontrarão o seu Anjo no Inferno.

Ao que parece, eu trilhei caminhos até então desconhecidos e os julgava escuros, mas tenho a sensação de ter encontrado aquilo que buscava. Você pode tomar a decisão que quiser, a vida é uma sucessão de escolhas e permanecer em dúvida na encruzilhada é entregar-se a morte. Não duvide de si! Sejamos soberanos o suficiente sobre nossas vontades para ousarmos decidir, não pela dúvida da morte, mas pela certeza da vida, sejam quais forem as consequências daquilo por que optarmos!

Espero que você, tanto quanto eu, encontre o que procura e se decida sobre o que e como quer viver esse momento. Saiba que eu sempre estarei aqui caso queira perguntar, caso esteja sofrendo, caso venha até mim como alguém que simplesmente quer um amigo. Ah! E claro, caso esteja esperando um certo telefonema, se o telefone não tocar, então me ligue, pra suspirar, pra rir ou pra chorar, mesmo pra não dizer nada, porque no silêncio de suas palavras, eu posso ouvir sua respiração.

Que lhe sejam dadas força, coragem e sabedoria!

Max” - Guardião Triunfante

domingo, 8 de junho de 2008

Uma árvore.

Olá! Tudo bem? Espero que você esteja melhor agora. Eu estou um tanto quanto deprimido. Não é nada de mais, só que agora a pouco me deu uma sensação estranha de vazio “por dentro”, sabe? Não se preocupe, é que em meio a tantos términos, tantas despedidas, eis que surge mais uma: talvez eu me mude nos próximos meses. Oficialmente eu moro em Campinas, mas considerando que ainda moro aqui em São Paulo mesmo passando a maior parte do tempo lá, fazendo as contas, já faz quase doze anos que moro nessa casa.

Cada cantinho tem uma história, eu cresci aqui, cada história tem um cantinho. Antigamente a casa vizinha da direita era uma clínica veterinária, um dia, ela deu uma planta pra minha mãe, num vaso. A planta cresceu, era um grande “arbusto” de folhas verde-claras rajadas de amarelo. Ele não tinha como crescer mais dentro do vaso, então, minha mãe pediu ajuda ao “seu José”, o jardineiro que anda por aqui, e plantou-se o “arbusto” na frente de casa, onde um dia, muito tempo antes de nós, havia uma árvore. Ele cresceu e se tornou uma bela arvorezinha. Claro, como na época eu devia ter os meus onze anos, aos meus olhos, aquela já era uma árvore enorme porque devia ser da altura dos meus pais. Agora, parei pra pensar como a gente muda de referencial com o passar dos tempos, grande, pequeno, magro, gordo, bonito, feio, tudo vai mudando conforme o tempo passa...

O tempo também passou e a pequena arvorezinha cresceu bastante num ano, porém, no carnaval, alguém maldoso partiu a frágil planta ao meio e as duas metades separaram-se como uma tesoura que se abre. Uma outra vizinha, com pena, tentou “arrumar” a arvorezinha e, depois de juntar as partes separadas, amarrou-as com cordão de varal e retalhos de pano. Contrariando todas as expectativas a árvore sobreviveu e continuou a crescer, até um dia, que parece ter sido ontem, mas que já passou há uns bons anos, quando eu pude vê-la pela janela do meu quarto sem precisar olhar para baixo: sua copa já tocava os fios de eletricidade. Lembro que nesse dia parei pra pensar em como eu havia crescido também, pensei na quantidade enorme de “folhas” de conhecimento que eu já possuía e me questionava quanto a profundidade a que haviam chegado minhas raízes.

Hoje a árvore está enorme, com o passar dos anos, pudemos perceber que, ao “arrumá-la”, a vizinha, sem querer, enxertou uma outra espécie de árvore junto da nossa, uma que outrora fora apenas uma folhinha de cor escura no vaso. Não sei que magia há nessa árvore ou talvez tenha havido naquela atitude bondosa da dona Lourdes, mas verificamos sem esforço algum e com grande espanto, que na metade da copa voltada para a minha janela predomina folhagem clara, enquanto que na metade oposta predomina folhagem escura. A junção não só deu nova vida à árvore como fê-la mais bela e diferente do que qualquer outra.

Você sabe que todos dizem que eu sou “Diferente”. Eu não gostava disso antes, não conseguia entender. Pensava que as pessoas só viam um lado da minha personalidade e ficava triste por isso. Com o passar do tempo, no entanto, percebi que muitos realmente vêem apenas um lado da copa árvore: aquele de que estão mais próximos. Entretanto, alguns olham por outro ângulo e podem admirar a beleza da união dos opostos que se completam. Descobri que esses são alguns que param na rua, olham pra árvore e tentam entender como ela pode ser assim, no fim, sorriem e continuam andando, pois não importa entender o porque, mas sim ver quão magnífico é ser diferente.

Estou feliz de novo, depois de ter escrito para você. Que coisa! Às vezes amigos nem precisam estar por perto, nem mesmo precisam se falar para ajudar um ao outro, às vezes, a simples ligação entre eles é suficiente. Muito obrigado por me ouvir, todas as vezes que eu preciso ser ouvido! Quando eu me mudar, apareça lá pra tomar um chá gelado, quem sabe a gente faz isso enquanto olha, da janela do meu quarto, pra uma nova árvore crescendo.

Abraços e beijos!

Max” - Guardião Triunfante

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Última chance

O futuro é muito incerto. Queria que você pudesse me dizer como vai ser meu amanhã. Você não pode, não é mesmo? Claro, você sempre me diz que vai ser maravilhoso, mas eu realmente gostaria de algo mais específico.

Estou em São Paulo enquanto te escrevo, vim hoje de Campinas. De manhã, eu ouvi uma música do Ludov, enquanto arrumava minhas malas. Transcrevo a música toda, porque tudo é relevante (e eu, como você sabe, não sou uma pessoa sucinta):

“Se eu me perdi

Quando eu errei

Quando eu senti

Que quase estraguei

Toda a construção

Fugi desse país e fui buscar

Qualquer outro lugar

Pra tentar ser feliz

Deu vontade de voltar

Pra te dizer que as opções ainda estão aqui

Vou construir uma família como a gente quis

Quem tem menos faz bem mais que nós por si

Essa cidade não conhecerá meu fim

O que procuro encontrarei dentro de mim

Se eu me enganei não foi por mal

Andei na contra-mão

Daquilo que previ

De tudo que é normal

Fugi desse país e fui buscar

Qualquer outro lugar

Pra tentar ser feliz

Senti vontade de voltar

Pra te dizer que as opções ainda estão aqui

Vou construir uma família como a gente quis

Quem tem menos faz bem mais que nós por si

Essa cidade não conhecerá meu fim

O que procuro encontrarei dentro de mim

Vou construir uma família como a gente quis

Pra te dizer que as opções ainda estão aqui

Quem tem menos faz bem mais que nós por si

Essa cidade sempre foi nosso jardim

O que procuro já encontrei dentro de mim”

Acho que você também deve pensar em algo quando lê esses versos. Tem tanta coisa acontecendo pra mim, pra você, pra todo mundo... Tudo junto, de uma vez, mágico demais, mas com pouco tempo pro cérebro processar. Amanhã, você deve saber, é um dia estranho pra mim, diria até bizarro, é um “último dia”, entre muitos outros que tem acontecido. Será que você entende o peso disso? Como podem tantos anos simplesmente “terminar” em um dia? É difícil entender, mas é belo pensar... Talvez porque nunca termine, só comece de novo, Diferente...

Às vezes a gente foge, foge dos problemas, das dificuldades, dos erros, não só alheios, mas dos nossos próprios erros. Daí a gente tenta ser feliz sem aquilo, achando que nossa felicidade pode ser encontrada em outras coisas e simplesmente “substituir” o que, apesar de todos os defeitos, sempre nos fez tão bem.

Eu posso até dizer que “fugi” uma vez, só que percebi que não podia deixar tudo desmoronar, senti essa “vontade de voltar”, pra ajudar, pra tentar fazer as coisas direito, pra tentar fazer as pessoas entenderem que as opções ainda estavam lá e, principalmente, que temos a faca e o queijo nas mãos, porque mesmo “quem tem menos faz bem mais que nós por si”.

É até engraçado... quando você entender, quando você perceber, talvez já seja o seu “último dia”, mas me ensinaram que mesmo no último dia, no último minuto, ainda dá pra virar o jogo, é só entender isso, é só perceber que o que você procurava você já encontrou dentro de si... Lembra de como eu me dediquei? É uma causa, entre tantas, mas é a minha causa. Eu tentei "construir uma família" pra provar isso pra você, pra te dizer que você não pode desistir. Não dá pra desistir! Espero que você fique bem, escolhendo aquilo que, sabiamente, quiser escolher. Se precisar de alguém pra desabafar, você sabe onde me encontrar. Só não esquece: mesmo que seja a última, você merece dar e "se dar" mais uma chance, ta bom?

Abraços e beijos!

Max” - Guardião Triunfante

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Estel

Tolkien fez uma bela metáfora quando disse que, para preservar sua linhagem real escondida, os elfos deram ao personagem Aragorn o falso nome “Estel” n’O Senhor dos Anéis. Este nome, na lenda criada pelo escritor, significa “Esperança”. O único que poderia reivindicar o poder sobre os homens e lutar contra a Treva que se levantava precisou viver escondido durante a infância, porém, o seu nome carregou seu segredo e o sinal de sua missão foi preservado: ele era a esperança de todos os povos livres da Terra.

Será que somos esperançosos? Será que temos a coragem de ostentar o signo de nossa fé em dias melhores? Acreditar, sem necessidade de explicações e testes, dar um “voto de confiança” àquilo que não se pode provar, isso é ter fé. Acho que poucos dentre nós sequer se aproximam dessa fé, pura e verdadeira, entretanto, aquilo que mais entristece é saber que mesmo a luz da esperança se apaga com grande facilidade.

Alguns dias atrás, pus em dúvida muitas coisas e entre elas estavam as dádivas. Não sei porque, depois de tantos anos, duvidei que algo realmente desejado, algo com que se sonha, pudesse, de fato, tornar-se realidade. Entristeci-me por tudo no mundo, pela decadência e pela fragilidade das coisas. Como se pode esperar algo bom observando as rosas mortas? Pensei em percorrer outros caminhos, até então desconhecidos, para obter aquilo que desejava.

Quando a estrela de minha esperança já se apagava é que eu entendi, quando tudo estava a um passo de desmoronar, então me foi mostrado que realmente há gloriosas dádivas no mundo e pude compreender realmente o significado profundo das palavras de um grande faraó egípcio: “o essencial é invisível para os olhos”.

A esperança renasceu em mim. Quem sabe até tenha experimentado daquela fé, tão sublime que me foi descrita. Aquilo que desejamos nem sempre é aquilo que precisamos, pois aquilo que nos é essencial é, em mesma medida, invisível para nossos olhos. Recebi dádivas que nunca imaginaria e o que tanto almejava conseguir simplesmente tornou-se ínfimo comparado à grandiosidade daquilo que me foi dado.

Dádivas não podem ser descritas, é preciso ter visão profunda para entendê-las. Você talvez nem entendesse qual a relevância daquilo que recebi, porém devo dizer-lhe: aprendi que não precisamos de mãos para nos guiar à nossa própria Verdade, nem de palavras para nos incentivar na caminhada, precisamos sim, ter ao menos a “esperança de um louco”, para arriscarmos errar nossos próprios erros e aprender com eles, somente assim nos tornaremos Triunfantes e seremos Soberanos de nossas próprias vidas.

Um grande beijo!

Max"