segunda-feira, 21 de julho de 2008

Para você,

Então é isto, você está indo. Eu sempre tive certeza que você iria, mas parecia algo muito distante até essa última sexta-feira. Não tivemos tanto tempo quanto eu gostaria pra trabalharmos juntos e menos tempo ainda pra aprontarmos juntos. A vida é assim, nunca sabemos onde é que leva a próxima curva do rio.

Há mais ou menos um ano eu comecei a entender melhor aquela história de missão. Já fazia um tempo que eu estava em dúvida, questionando qual seria o meu verdadeiro papel nesse mundo. De repente, eu estava sentado lá em cima, com mais poder e mais responsabilidades do que eu já desejara ter.

Foi difícil, você sabe o quanto é difícil. Não posso te dizer “você aprendeu tal coisa” porque a experiência é diferente pra cada um. Talvez você nunca entenda, mesmo eu já tendo dito centenas de vezes, mas eu sinto que entendi bem mais a minha função nessa vida de um ano pra cá e você teve um importante papel nisso tudo.

Enquanto eu estava lá em cima, queria, na verdade, estar onde você estava e conforme o tempo foi passando entendi que não preciso ser presidente pra ser líder. Nossos governantes têm assessores, auxiliares, todos esses estão em posição de liderança, mas não exatamente à frente de tudo. É isso que eu quero pra mim, esse é o caminho que eu escolhi: serviço. Eu não aprendi isso simplesmente estando à frente, aprendi isso quando te entreguei as responsabilidades e percebi que você precisava da minha ajuda. Eu queria muito poder te agradecer a altura do que você fez por mim e queria que você estivesse aqui quando chegasse o meu “dia derradeiro”. Você estará, eu sei, em pensamento e sentimento.

Esse semestre a gente se conheceu bem melhor e eu tenho orgulho de ser seu amigo. Lembra daquela pergunta “Se você saísse do país, qual a imagem que você gostaria de deixar de si mesmo?”, pois é, chegou a hora de dizer que a imagem que você me deixou foi de uma pessoa feliz, que está sempre querendo fazer o bem e tem humildade suficiente pra ser um eterno Buscador como todos devemos ser.

Eu vejo a sua estrada, com o olhar mágico de Hórus, eu vejo sua felicidade e seu ânimo encorajador resolvendo muitos problemas a frente. Jamais será fácil, as vezes, até mais difícil do que você espera, porém, quando você estiver em apuros, quando não souber que caminho tomar, então pare e lembre-se que em algum lugar tem alguém que já te ajudou um dia e estará sempre presente quando se fizer necessário.

Meus pais me fizeram Maximiliam, daí conheci grandes amigas que me fizeram Max, depois, alguns me fizeram entender as virtudes do mago e eu me tornei Guardião, então errei e sofri por ser orgulhoso demais, mas como o Faraó renascido, eu recebi o cetro, utilizei-o com o máximo de Sabedoria que há em mim para depois, passando-o a você, encontrar o caminho do Triunfante. Essa é a Lei, receber para dar e dar para receber. Um ciclo que você não deve quebrar. Aonde quer que você vá sempre vai ter alguém precisando daquilo que você recebeu, seja do seu carinho, da sua amizade, do seu conselho ou do seu saber. Para que você continue no bom caminho, dê aquilo que o seu próximo precisa e alerte-o para nunca quebrar essa corrente universal.

Pelo cristal a luz pode passar e distribuir-se em diversas cores, seja como ele, receba, multiplique e distribua. Sentirei saudades, mesmo que seja só por um tempo. Que a sua estrada seja iluminada como a minha, quando abdiquei de algumas coisas em detrimento do aprendizado. Você é grande, perceberá isso muito em breve. Vá em paz!

Um grande abraço, do seu Irmão,

Max”

domingo, 20 de julho de 2008

Gire a Roda da Fortuna!

Que saudade! As férias vieram, mas ainda não consegui ver nem metade das pessoas que eu queria! Vamos fazer o máximo pra ainda nos encontrarmos e fazermos alguma coisa pra descontrair antes da volta às aulas! Como você está? Espero que esteja tudo certo, faz tempo que não conversamos direito...

Sabe, esses últimos dias foram bem interessantes, tive algumas boas coisas pra resolver e outras tantas surgiram sob as quais eu não tinha domínio. Acabei tendo reunião, saindo, visitando tias, assistindo filme e arrumando as coisas pra futura mudança. Pensei muito também, influenciado por tudo o que tem acontecido, comigo e no meu velho mundinho novo em volta.

Sem querer assisti filmes sobre soberanos esse fim de semana. Pode parecer até meio infantil pra você, mas eu revi “O Rei Leão”. Olha, se você não vê desde a infância, um conselho: veja de novo! É muito bom e tem umas boas sacadas filosóficas. Acabei reparando que o Simba é um Triunfante, ele faz todo o percurso até isso! Também assisti “Batman Begins” e vi a luta do Bruce Wayne para compreender qual o seu papel ante a justiça, a sociedade e principalmente o influente império legado por sua família. Finalmente, contemplei uma rainha histórica: “Elizabeth” foi o filme de hoje.

Percebi que podemos fazer da nossa história uma história também de um soberano. Não estou te dizendo que todos seremos governantes de países ou donos de impérios econômicos, mas que podemos, no nosso dia a dia, ser grandes senhores de nossas vidas e de nosso destino. Isso é muito difícil, eu sei. Eu conheço o suficiente da sua história pra saber por quantos desafios você teve de passar antes de estar onde está e também sei que a sua vida não é moleza, mas acredite, é tudo parte de um “ciclo sem fim”, é a roda da Fortuna girando e hora nos colocando por baixo, hora nos levando ao topo.

Veja só os exemplos dos nossos personagens: Simba é consagrado pela velha Tradição ao seu destino de vitória logo que nasce, depois ele passa a aprender com os “mestres”, daí, tentado pelo poder, ele desobedece aos conselhos que lhe foram dados, e por isso cai em desgraça; por algum tempo, foge do problema que ele mesmo criou e esconde-se sob um manto de mediocridade. Só o despertar de antigos sentimentos lhe faz questionar sua situação e, reconhecendo humildemente seu erro, (numa das partes, a meu ver, mais emocionantes do filme) pede orientação à Sabedoria ancestral da qual recebe a simples resposta “Lembre-se de quem você é”. Só assim ele toma coragem para encarar seus medos, seus erros e finalmente assumir o reino que lhe era de direito.

Não sei se você assistiu Batman, então vou me ater a só comentar que essa também é uma grande questão pra ele “Quem sou eu e quais as minhas responsabilidades nessa vida?”. A rainha Elizabeth I assume o poder sendo odiada por praticamente toda a Inglaterra e passa um bom tempo vivendo impasses entre o dever, o coração e a sua própria consciência.

Concluí que não é nada fácil sermos senhores de nós. Durante o percurso vamos errar e vamos cair por nossos erros, vamos ser derrubados pelos erros (e mesmo acertos) dos outros, mas o que temos que ter sempre em mente, acima do que qualquer um a nossa volta pode dizer ou pensar, é quem somos nós em nossa essência. Ta certo que nunca nos conhecemos o suficiente pra afirmar um categórico “eu sou assim”, mas o questionamento, o desejo de encontrar nossa essência, de sentir nosso centro, isso tudo nos conduz a um controle da Roda da Fortuna: não somos capazes, muitas vezes, de evitar infortúnios, mas podemos girar a roda muito mais rápido nessas situações chegando facilmente ao topo e depois, nesse estado, podemos permanecer por muito tempo, diminuindo de novo a velocidade.

Eu estou sempre aqui viu? Não esqueça da pessoa maravilhosa que você é! Se esquecer, de onde eu estiver, vou tentar te lembrar! Seja Triunfante, vamos ser coroados reis de nós mesmos como todos nascemos pra ser! Não deixa de me responder! A gente se vê!

Beijos e abraços!

Max”

sábado, 12 de julho de 2008

Conhecer as respostas nas paredes da caverna

Não vou pedir desculpas por não ter escrito nos últimos tempos, não estava em condições de fazê-lo. Contudo, compreendo que talvez tivesse evitado certos sofrimentos se escrevesse. Estou certo de ter aprendido muito nas últimas semanas. Aprendi sobre mim e sobre você; você, sem saber, me ajudou muito. Agora, e só agora, entendo bem o significado da palavra resposta e posso te pedir que responda essa carta, com notícias suas, com novidades, com aquilo que você quiser responder.

Queria que você tivesse me visto no final de semana passado, queria ter você ao meu lado, ouvindo meus mais profundos pensamentos, sombrios e abomináveis. Você certamente diria que não se tratava do Max que você sempre julgou conhecer e se assombraria com as menores palavras de desespero e dúvida. Você não me conhece bem como acha que conhece, vou te provar isto. Quiçá, se for bem sucedido, eu acabe suprimindo alguns de seus preconceitos ou mesmo te faça tomar ciência deles para que possa domá-los de acordo com a sua Vontade.

Começo te dizendo que eu não me conheço e posso me surpreender comigo mesmo todos os dias se desejar. Não conheço nem a menor parte da minha verdadeira força e talvez possa enfrentar guerras mais infelizes do que aquelas que hoje me põem medo. Nunca conheci todos os meus medos e quem sabe tema coisas que ignore e ignore tantas outras coisas que temo. Acima de qualquer coisa, não conheço a Felicidade e nem sua mãe, a Tristeza, pois se elas não me fossem estranhas, seguramente já teria assassinado a mãe e desposado a filha.

Acontece que parei de fazer qualquer coisa pra estudar pras últimas provas porque, como não conheço meus limites, deixei-me levar pelo desejo de Triunfo e os livros gelados, tomaram o lugar dos tão inflamados sentimentos que você, que diz me conhecer, liga indissociavelmente a minha pessoa. Some a isso uma leve decepção amorosa, saudades antecipadas da casa que vou deixar, um medo infundado de perder tudo o que, a princípio, me torna feliz, além uma desgastante peleja espiritual. A união dessas coisas pode ter me deixado no estado em que fiquei. Ressalto o “pode” porque, não me conhecendo, como é que posso afirmar com certeza tudo o que se passa comigo? E você, será que me conhece tão bem pra dizer que eu nunca pensaria na morte como melhor caminho?

É, pode ser chocante, mas eu pensei na morte sim e havia toda uma lógica em meu raciocínio, lógica contra a qual não havia muitos argumentos. E não ache que estava louco, porque depois eu mesmo achei isso. Um louco pode, entretanto, curar-se miraculosamente de sua insanidade? Acho que não. Na verdade, a síntese de minhas justificativas está na dúvida, pode não ser uma justificativa plausível, mas me parece a mais acertada. Eu duvidava da existência da Felicidade, duvidava da beleza da vida, duvidava da Liberdade, do Amor e do Saber, com todas essas dúvidas juntas, fui obrigado a desacreditar. Desisti de acreditar em tudo isso e, por conseguinte, deixei de acreditar naquele que pensava ser a razão de todas as coisas: meu Deus.

Viu como não nos conhecemos tão bem? Nem eu a você, nem você a mim, nem eu a mim, nem você a si. Não diga que já imaginava que eu, rotulado como “o grande místico”, um dia, deixaria de ter fé. Pois é, aconteceu, durou pouco, mas aconteceu. A primeira frase que me veio à mente foi “Pedi e vos será dado; buscai e achareis”. Eu não estava nem recebendo nem encontrando! Onde é que estava Deus então?

Sofri, pois passei a me sentir vazio, um vento gelado acompanhava o pôr do sol que eu observava tentando encontrar uma resposta. Meu tão adorado poente já não passava dum momento a mais no dia, dolorosamente longo como todas as horas e minutos. Havia alguma resposta? Uma “mão invisível” a me guiar? Não! Estava sozinho e vazio. Naquele momento imagino que não me bastariam todos os meus amados amigos, nem minha família, nem ninguém, só queria respostas. Queria entender onde é que estavam liberdade, alegria e amor, mesmo o ódio e a tristeza, onde estavam? Durante aquele amargo Ocaso, estavam todos mortos.

Ah Max, dirá você, como foi tolo! E eu te responderei: sim, fui tolo e muito me puni por isso. No dia seguinte, no entanto, eu busquei o Deus de minha Verdade, tentei encontrar meus sentimentos e fazia o máximo para reavivar a chama de minha fé. Tudo em vão, parecia apelar às paredes e me desesperava o silêncio ensurdecedor. Estava apático e indiferente, depressivo e assim passei todo o final de semana. Por fim, varando a madrugada, consegui terminar todos os meus estudos e, ainda me punindo, implorava pelo perdão das “forças” que me haviam abandonado.

Foi no início da manhã de segunda feira, com os primeiros raios do Sol que fui levar o lixo à lixeira. No caminho de volta até minha casa eis que um sinal no céu me chama a atenção: uma nuvem estranha que parecia seguir em direção ao Sol nascente. Sem que me desse conta, pela primeira vez em dias, eu ri e lembrei de outra frase bíblica “Porque nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo.”. Nesse instante parei de andar e percebi que, de fato, a nuvem se movia com agilidade, pois não era uma nuvem: era um cometa.

Você deve saber que eu amo astronomia, mas não deve saber que eu nunca tinha visto um cometa e muito me surpreendeu a beleza da cena. Quando ele sumiu de vista, voltei sorrindo para casa. Ao entrar, me dei conta do sorriso e ele transformou-se numa gargalhada. Não conseguia conter a alegria de ter observado aquela maravilha, mas mais do que isso, voltava, aos poucos, a sentir o calor dos sentimentos, estava começando a entender o que precisava.

Depois de minha prova, uma vontade louca de ler e-mails: corri para os computadores. Desejando gritar ao mundo meus sentimentos cada vez mais incontidos, eis que leio uma carta. Sem dúvida a carta mais fantástica que já recebi. Ela disse-me tudo o que precisava ouvir naquele momento e, até agora, me arrepia pensar em todas aquelas respostas, todas aquelas palavras que eu mesmo usei sem ter dito a ninguém e, pasme, ela fora “coincidentemente” escrita naquela hora do poente de sexta-feira, sim, enquanto pedia respostas, sinais e ajuda alguém estava pensando em mim e me escrevendo uma carta sem nem saber porque. Uma carta mágica destinada única e especificamente a mim, uma resposta.

Foi difícil, mas entendi. O mito da caverna de Platão, o sinal dos “reis magos”, o “buscai e achareis”, a carta mágica, tudo isso me fez entender e querer te contar. Agora entra a sua parte nessa história, essa carta chega a você, quem sabe na hora em que você mais precisa e menos espera. Não vou te dizer mais nada. Entenda o que você quiser porque a compreensão que estava destinada a mim, assim como na carta, estava destinada somente a mim. Sou um desconhecido para você, assim como sou um desconhecido para mim mesmo. Consegui te provar isso? Se sim, pense: de que adianta um cego guiar a outro? Vai e vê com seus próprios olhos.

Ta certo, pra você não dizer que subestimo nossa amizade, preciso te dizer ao menos que apesar de ter entendido que nada conhecemos realmente, amar é isso, gostar é isso e ser amigo é isso: aceitar, confiar e se entregar àquilo que nunca saberemos de fato como é.

Fique muito bem! Beijos e abraços,

Max”

- Guardião: Buscador e Triunfante

PS: Desculpe o tamanho da carta, mas é que é sempre melhor quando eu conto com detalhes!