domingo, 24 de abril de 2011

Aromas sutis

Ontem bebi um bom chá. Gosto deles pela experiência de apreciá-los. Logo que se entra em contato com o “mundo dos chás”, nota-se a fascinante diversidade de aromas e sabores que existem. Depois de algum tempo, os mais apaixonados procurarão as temperaturas mais adequadas para acentuar o gosto de cada um, buscarão conhecer as propriedades, quase mágicas, de cada erva e tratarão de examinar quais as combinações que mais lhes agradam o paladar em cada situação. Tudo isso só é possível com atenção posta nos menores detalhes: a essência do chá traduz-se na palavra sutileza.
Apesar disso, um chá menosprezado em seus detalhes será apenas um chá desperdiçado, porém, há outras situações nas quais a desatenção pode ter consequências catastróficas. Os orgulhosos se gabavam de suas enormes fortificações, ignoravam as pequenas artimanhas de seus inimigos imaginando que a pequenez nunca poderia fazer frente à grandiosidade. O tempo, no entanto, sempre provou o poder da persistência e, horrorizados, os soberanos viram ruir suas imponentes torres, corroídas por eras de arrogância. Todos nós construímos castelos, o castelo mais seguro poderá ser feito de pedras ou de cartas, não importa. O que nos garantirá a segurança serão os olhos que colocaremos a vigiar, por cada canto e em cada torre. A atenção dispensada aos detalhes é o guarda fiel das maiores obras.
Há dois dias, o pôr do sol fez pousar sobre a cidade um tom de dourado que pareceu transformar em ouro as pedras, os telhados e as copas das árvores. Tudo parecia tranquilo, em harmonia, sem exacerbações tanto para felicidade quanto para tristeza, a pureza do equilíbrio verdadeiro. Aquela cena me ajudou a afastar os pensamentos eufóricos, a pressa e a agressividade que procuram açoitar o tempo ao invés de aproveitá-lo. Contemplei-a enquanto durou e, mesmo efêmera, compreendi que durou o suficiente. Lembro-me agora de tantas e tantas coisas sutis, aparentemente efêmeras, que nós negligenciamos sem nos darmos conta da importância que têm...
Deparo-me, pois, com o dilema da sanidade e da loucura. Atentar a um detalhe em detrimento de algo que parece saltar às vistas não é absurdo? Discernir nunca é fácil, mas é necessário. Loucura é caminhar como o ébrio, que não consegue ver detalhadamente aonde vai e, no entanto, deixa-se levar pelas pernas frouxas de juízo. É preciso paciência para aprender a apreciar as sutilezas da estrada sem se desviar irremediavelmente do caminho. O louco não consegue parar um instante para apreciar a beleza do ocidente em chamas no entardecer, mas volta-se ao Oeste e gira o mundo tentando alcançar o brilho dourado do poente, sem se lembrar de dois importantes detalhes: o Sol não cai do alto e a Terra é redonda.

Max