sábado, 27 de dezembro de 2008

Boa sorte

Ontem me aconteceu algo curioso. Fui visitar minha antiga casa, passar em frente a ela, sentar-me um pouco na mureta, olhar para a árvore, a minha árvore, aquela que cresceu comigo e hoje é uma das maiores da rua. Bem, confesso que me entristeceu pensar na situação atual. As coisas mudaram abruptamente demais e não quero ainda julgar se as mudanças foram boas ou ruins. Alguns minutos depois de contemplar o passado, voltava para cá, pensando em todos os anos que se passaram no nº 63.

Os que sabem onde ficava minha casa devem saber também que havia uma grande confusão quanto a endereços, pois eu morava na praça que não existia. Algo meio complexo, coisas de alocação. Enfim, isso não importa. O que importa é que um pouco adiante de minha casa, havia outro nº 63, aquele que sempre era confundido com o meu. Em frente a esse, no dia de ontem, reparei que existia uma arvorezinha, curiosamente igual a minha amada árvore, mas menor, menor ainda que eu mesmo, assim como era a minha árvore quando ajudei a replantá-la. Aos pés daquela pequena arvorezinha havia um canteiro repleto de trevos. Abaixei-me para pegar um e continuei a caminhada.

Alguns passos depois, percebi que o trevo que estava em minhas mãos era um trevo de quatro folhas. Surpreso, disse ao meu irmão “vamos voltar e dar uma olhada, ali tem um canteiro de trevos de quatro folhas”. Ao retornarmos, percebemos então a “mágica”, pois todos os trevos do canteiro, sem exceção, tinham apenas três folhas. Dentre as centenas de trevos dali, eu encontrei um com quatro folhas, sem esforço ou busca, simplesmente arrancando-o aleatoriamente da terra. Lá estava ele, no canteiro que nunca foi meu, que fica em frente ao outro nº 63, no qual está hoje plantada uma muda da mais amada das árvores.

Aquele trevo ficará guardado, como símbolo da verdade contida nos ensinamentos dos antigos: eu guio a barca dos céus, eu sou o “Leme do Este”, sou o senhor que fala com a própria voz. Meu destino me pertence, aqui, lá ou em qualquer lugar para onde eu for. Foi muita “sorte” mesmo ter vivido tudo o que eu vivi até agora, muita “sorte”...

Maximiliam

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Sobre amanhã

Esse ano, como vocês que acompanham minhas cartas e minha vida devem saber, eu tenho aprendido muita coisa e algumas coisas, feliz ou infelizmente perderam o sentido. Percebi que amanhã deveria ser um dia especial, mas deveria ser tão especial quanto todos os outros dias do ano. Todos os dias deveriam significar, para os cristãos, o nascimento do Cristo em suas vidas e para todas as pessoas, todos os dias deveriam ser dias de confraternização e alegria. O Natal, nossos aniversários, o Ano Novo, tudo isso são marcos, mas marcos são pontos em que se decidiu relembrar a jornada até ali, sem uma jornada, contudo, não há o que relembrar. É por isso que amanhã não vou me esforçar mais do que em qualquer outro dia pra estar feliz, nem vou me esforçar mais do que em qualquer outro dia para me divertir, e não, não mesmo, de forma alguma vou amar alguém mais do que já amo todos os dias. Mesmo assim (e justamente por isso), desejo, como sempre desejo, que todos vocês, meus amigos e leitores, sejam muito felizes, e tenham um dia cheio de paz e alegria, não só hoje, nem só amanhã, mas sempre! Que as dádivas do Alto estejam sempre sobre vocês! Bjos e abçs! Seu amigo, Max"

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Cada folha que cai

Eu tenho inúmeras coisas pra fazer e muito pra estudar, mas minha mente não pára se meu coração estiver inquieto. Já estou escrevendo esta carta a algum tempo, se não terminasse e mandasse hoje, acho que acabaria nunca fazendo isso, então... Como foi o seu mês? Eu não escrevo muito, mas você também não manda notícias! Esse mês, pra mim, foi bem difícil. Foi um mês de mudanças, foi um mês pra aprender coisas novas, um mês de provações e, principalmente, um mês de abdicação. Saint Exupéry diz “a gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixou cativar...”. Acho que às vezes eu me deixo cativar muito facilmente e por isso tantas coisas são tão únicas, tão belas e insubstituíveis.

Há muitas escolhas difíceis, mas não pela dúvida, porque, de fato, para grandes questões, quase não existem questionamentos. As dúvidas reais, verdadeiramente sinceras, são pequenas, como uma garota escolhendo qual vestido usar naquela noite: o vermelho ou o azul (por favor, escolha o vermelho), mas para os grandes questionamentos, geralmente, sempre temos a resposta de antemão e a “dúvida” é, na verdade, pura manha. A minha dificuldade nesse mês foi tomar a iniciativa, fazer as escolhas deixarem de ser falsas dúvidas e tornarem-se atos. Certo dia aí, no começo do mês, um amigo meu me fez aprender que tão ruim quanto falar e não fazer é pensar e não agir. Torne seus pensamentos ações, assim fica tudo mais fácil.

Sabe, resistimos tanto a agir porque não sabemos as conseqüências, porque temos consciência de que somos responsáveis por todas as conseqüências dos nossos atos. No entanto, deixar de fazer por preocupar-se demais com o futuro é como pedir emprestada uma quantia que você sabe que nunca vai poder pagar. O futuro traz mudanças e mudanças nos dão medo por fazerem do comum dia-a-dia algo diferente.

Curiosamente já sou estereotipado como “diferente”. Então porque me preocupar se vou mudar? Acho que sou um dos poucos casos ambíguos em que me tornar comum seria diferente! De repente eu penso de novo na minha casa, sentirei falta das minhas roseiras, da minha árvore, do meu cachorro, até das crianças que brincam no parquinho da pré-escola em frente de casa. Eles me cativaram, o tempo que “gastei” com eles foi o que fez deles únicos para mim. Nos mudamos, finalmente. Tudo é novo, mas curiosamente familiar: também há uma praça em frente à janela da sala, nela há uma outra pré-escola, há muitas árvores por aqui e também há flores na entrada do prédio. Mesmo assim, as crianças, as árvores e as flores são para mim como mil outras crianças, árvores e flores: belos, mas vazios.

A mudança que me torna Diferente de todos os outros é a mesma mudança que transforma algo vazio em algo insubstituível. Será que existe mesmo algo insubstituível? Queria que você pudesse me responder. Eu sempre me pergunto acerca disso, pois se algo é único para mim, então deve ser insubstituível. Bem, o fato é que abdicar de algo que nos é caro, seja uma casa, seja uma rosa, seja um amigo, é sempre uma coisa muito difícil. A vida é efêmera e talvez nessa efemeridade esteja o segredo da abdicação: se não abdicarmos, então nada será diferente, nada mudará e nada será repleto de significado, único e querido. Como uma árvore que desejasse conservar cada uma de suas folhas para sempre, nós não suportaríamos o peso de uma copa tão frondosa, as folhas velhas e mortas nos coroariam da cor do outono sufocando o crescimento das mais jovens e verdes experiências, por fim, sem podermos respirar novos ares, definharíamos até a morte e, ainda de pé, esperaríamos que os vermes consumissem nossas raízes, o vento nos derrubasse ou, na melhor das hipóteses, que nos fizessem virar cinzas numa lareira cheia flamejante.

Se você fosse uma árvore, qual destino preferiria? Imagino que você aceitaria abdicar das folhas velhas. Todavia, como ser humano, ambíguo e completo por ser racional e sentimental, você faz o mesmo? A árvore é uma grande lição, mas muitos de nós damos atenção apenas àquilo que está acima da terra e se esquecem que nas profundezas estão as raízes, completamente indispensáveis e insubstituíveis: elas sim são únicas. Não que as folhas não tenham seu papel, claro que tem, tudo tem um papel a cumprir, mas poucas raízes são por toda a vida. As folhas caem, mas nada na natureza se perde, cada uma delas é consumida e se torna alimento para a própria árvore, nutre a terra onde estão suas raízes. A árvore cresce para cima e também para baixo, o que está embaixo é como o que está em cima, a vida é sempre vida.

Tudo isso é muito bonito não é? Entretanto cada um escolhe seus próprios caminhos, meu dever é só te falar das possibilidades que eu mesmo consigo enxergar, de repente há outras ou essas só servem para mim, não sei. Só tome cuidado para não agarrar demais as folhas mortas, de repente você acaba se sufocando. Espero que você fique bem! Não esqueça de me responder! Até logo!

Seu amigo,

Max