terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Cada folha que cai

Eu tenho inúmeras coisas pra fazer e muito pra estudar, mas minha mente não pára se meu coração estiver inquieto. Já estou escrevendo esta carta a algum tempo, se não terminasse e mandasse hoje, acho que acabaria nunca fazendo isso, então... Como foi o seu mês? Eu não escrevo muito, mas você também não manda notícias! Esse mês, pra mim, foi bem difícil. Foi um mês de mudanças, foi um mês pra aprender coisas novas, um mês de provações e, principalmente, um mês de abdicação. Saint Exupéry diz “a gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixou cativar...”. Acho que às vezes eu me deixo cativar muito facilmente e por isso tantas coisas são tão únicas, tão belas e insubstituíveis.

Há muitas escolhas difíceis, mas não pela dúvida, porque, de fato, para grandes questões, quase não existem questionamentos. As dúvidas reais, verdadeiramente sinceras, são pequenas, como uma garota escolhendo qual vestido usar naquela noite: o vermelho ou o azul (por favor, escolha o vermelho), mas para os grandes questionamentos, geralmente, sempre temos a resposta de antemão e a “dúvida” é, na verdade, pura manha. A minha dificuldade nesse mês foi tomar a iniciativa, fazer as escolhas deixarem de ser falsas dúvidas e tornarem-se atos. Certo dia aí, no começo do mês, um amigo meu me fez aprender que tão ruim quanto falar e não fazer é pensar e não agir. Torne seus pensamentos ações, assim fica tudo mais fácil.

Sabe, resistimos tanto a agir porque não sabemos as conseqüências, porque temos consciência de que somos responsáveis por todas as conseqüências dos nossos atos. No entanto, deixar de fazer por preocupar-se demais com o futuro é como pedir emprestada uma quantia que você sabe que nunca vai poder pagar. O futuro traz mudanças e mudanças nos dão medo por fazerem do comum dia-a-dia algo diferente.

Curiosamente já sou estereotipado como “diferente”. Então porque me preocupar se vou mudar? Acho que sou um dos poucos casos ambíguos em que me tornar comum seria diferente! De repente eu penso de novo na minha casa, sentirei falta das minhas roseiras, da minha árvore, do meu cachorro, até das crianças que brincam no parquinho da pré-escola em frente de casa. Eles me cativaram, o tempo que “gastei” com eles foi o que fez deles únicos para mim. Nos mudamos, finalmente. Tudo é novo, mas curiosamente familiar: também há uma praça em frente à janela da sala, nela há uma outra pré-escola, há muitas árvores por aqui e também há flores na entrada do prédio. Mesmo assim, as crianças, as árvores e as flores são para mim como mil outras crianças, árvores e flores: belos, mas vazios.

A mudança que me torna Diferente de todos os outros é a mesma mudança que transforma algo vazio em algo insubstituível. Será que existe mesmo algo insubstituível? Queria que você pudesse me responder. Eu sempre me pergunto acerca disso, pois se algo é único para mim, então deve ser insubstituível. Bem, o fato é que abdicar de algo que nos é caro, seja uma casa, seja uma rosa, seja um amigo, é sempre uma coisa muito difícil. A vida é efêmera e talvez nessa efemeridade esteja o segredo da abdicação: se não abdicarmos, então nada será diferente, nada mudará e nada será repleto de significado, único e querido. Como uma árvore que desejasse conservar cada uma de suas folhas para sempre, nós não suportaríamos o peso de uma copa tão frondosa, as folhas velhas e mortas nos coroariam da cor do outono sufocando o crescimento das mais jovens e verdes experiências, por fim, sem podermos respirar novos ares, definharíamos até a morte e, ainda de pé, esperaríamos que os vermes consumissem nossas raízes, o vento nos derrubasse ou, na melhor das hipóteses, que nos fizessem virar cinzas numa lareira cheia flamejante.

Se você fosse uma árvore, qual destino preferiria? Imagino que você aceitaria abdicar das folhas velhas. Todavia, como ser humano, ambíguo e completo por ser racional e sentimental, você faz o mesmo? A árvore é uma grande lição, mas muitos de nós damos atenção apenas àquilo que está acima da terra e se esquecem que nas profundezas estão as raízes, completamente indispensáveis e insubstituíveis: elas sim são únicas. Não que as folhas não tenham seu papel, claro que tem, tudo tem um papel a cumprir, mas poucas raízes são por toda a vida. As folhas caem, mas nada na natureza se perde, cada uma delas é consumida e se torna alimento para a própria árvore, nutre a terra onde estão suas raízes. A árvore cresce para cima e também para baixo, o que está embaixo é como o que está em cima, a vida é sempre vida.

Tudo isso é muito bonito não é? Entretanto cada um escolhe seus próprios caminhos, meu dever é só te falar das possibilidades que eu mesmo consigo enxergar, de repente há outras ou essas só servem para mim, não sei. Só tome cuidado para não agarrar demais as folhas mortas, de repente você acaba se sufocando. Espero que você fique bem! Não esqueça de me responder! Até logo!

Seu amigo,

Max

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