terça-feira, 22 de novembro de 2011

Heróis ocupados


Ontem eu assisti ao filme “Forrest Gump” pela primeira vez. Como se não bastasse essa declaração absurda para os meus amigos cinéfilos, devo dizer que ouvi falar pelo filme pela primeira vez só há uns poucos anos, já depois de ter entrado na universidade. Acredito que todos somos um pouco como o tal Forrest, buscando nosso destino, nossa sina no mundo. Além disso, todos temos histórias de aventuras incríveis para contar, as marcas de uma existência fantástica guardada no coração.
Talvez você não conheça meus passos. Talvez você não conheça meus amigos, minha família ou minha casa. Talvez você sequer conheça minha face. No momento, só o que eu sei é que você não conhece meu coração. Isso, no entanto, não é culpa sua. Também não é culpa dos meus vizinhos, dos meus amigos ou dos professores da universidade. Hoje em dia poucos conseguem manter o foco para ver mais longe, sentir o mundo ao seu redor e ouvir mais atentamente. Estão todos ocupados.
Numa época de ocupações de e por todo lugar, é deprimente notar que a maioria está, todo o tempo, ocupada apenas consigo mesma. Diariamente leio textos que incitam os homens ordinários a se tornarem heróis memoráveis. Vivemos uma nova “era dos heróis da liberdade”, mas, diferentemente dos heróis das eras passadas, os libertários do presente ouvem palavras de ódio e intolerância e, sem pensar, sacam suas armas modernas em defesa de ideias sobre as quais sequer refletiram livremente.
Do meio da turbulência, quanto mais alto você gritar, quanto mais longe uma voz, que nem sua é, for ouvida, mais heróico você se sentirá, pois a função dos novos heróis é ser o eco da voz de um mundo oco. Não pensamos duas vezes antes de falar, como recomenda o provérbio, não pensamos nem mesmo uma vez! Falamos aquilo que nos chega torto ao pé do ouvido e não damos volume aos murmúrios de uma nova revolução gloriosa, mas replicamos as intrigas mesquinhas que nos são contadas.
Esquecemos de ouvir de verdade! Não fomos nós que perdemos o foco por nos terem tomado o tempo para prestar atenção às vozes que nos falam, fomos nós mesmos que amordaçamos nossos ouvidos em prol dessa heróica ilusão silenciosa. Pouco provável que os homens que não sabiam ouvir tenham se tornado heróis, acredito até que os que muito falaram sem nada escutar foram mesmo os grandes ditadores. Todos estão contando histórias num ponto de ônibus cheio de pessoas e vazio de ouvintes.
Então, sem ouvir as fábulas dos corações dos outros, nos tornamos completamente insensíveis, abafando cada uma das nossas ideias e sentimentos. O problema é que ideias e sentimentos são como a chama e a chama, sem ar, apaga. Ouvidos tapados, corações apagados, almas vazias do princípio essencial da mudança: fé. Só há mudança se houver fé de que o futuro será melhor do que o presente tem sido e só há fé se conseguirmos conhecer, minimamente, os corações dos professores da universidade, dos amigos, dos vizinhos, conhecer os nossos próprios corações.
Eu ainda gosto de sonhar. Nos meus sonhos, a gente consegue ouvir uns aos outros. Vamos fazer silêncio para tentar ouvir... Tem um som bonito não é? O silêncio...

Max