domingo, 8 de junho de 2008

Uma árvore.

Olá! Tudo bem? Espero que você esteja melhor agora. Eu estou um tanto quanto deprimido. Não é nada de mais, só que agora a pouco me deu uma sensação estranha de vazio “por dentro”, sabe? Não se preocupe, é que em meio a tantos términos, tantas despedidas, eis que surge mais uma: talvez eu me mude nos próximos meses. Oficialmente eu moro em Campinas, mas considerando que ainda moro aqui em São Paulo mesmo passando a maior parte do tempo lá, fazendo as contas, já faz quase doze anos que moro nessa casa.

Cada cantinho tem uma história, eu cresci aqui, cada história tem um cantinho. Antigamente a casa vizinha da direita era uma clínica veterinária, um dia, ela deu uma planta pra minha mãe, num vaso. A planta cresceu, era um grande “arbusto” de folhas verde-claras rajadas de amarelo. Ele não tinha como crescer mais dentro do vaso, então, minha mãe pediu ajuda ao “seu José”, o jardineiro que anda por aqui, e plantou-se o “arbusto” na frente de casa, onde um dia, muito tempo antes de nós, havia uma árvore. Ele cresceu e se tornou uma bela arvorezinha. Claro, como na época eu devia ter os meus onze anos, aos meus olhos, aquela já era uma árvore enorme porque devia ser da altura dos meus pais. Agora, parei pra pensar como a gente muda de referencial com o passar dos tempos, grande, pequeno, magro, gordo, bonito, feio, tudo vai mudando conforme o tempo passa...

O tempo também passou e a pequena arvorezinha cresceu bastante num ano, porém, no carnaval, alguém maldoso partiu a frágil planta ao meio e as duas metades separaram-se como uma tesoura que se abre. Uma outra vizinha, com pena, tentou “arrumar” a arvorezinha e, depois de juntar as partes separadas, amarrou-as com cordão de varal e retalhos de pano. Contrariando todas as expectativas a árvore sobreviveu e continuou a crescer, até um dia, que parece ter sido ontem, mas que já passou há uns bons anos, quando eu pude vê-la pela janela do meu quarto sem precisar olhar para baixo: sua copa já tocava os fios de eletricidade. Lembro que nesse dia parei pra pensar em como eu havia crescido também, pensei na quantidade enorme de “folhas” de conhecimento que eu já possuía e me questionava quanto a profundidade a que haviam chegado minhas raízes.

Hoje a árvore está enorme, com o passar dos anos, pudemos perceber que, ao “arrumá-la”, a vizinha, sem querer, enxertou uma outra espécie de árvore junto da nossa, uma que outrora fora apenas uma folhinha de cor escura no vaso. Não sei que magia há nessa árvore ou talvez tenha havido naquela atitude bondosa da dona Lourdes, mas verificamos sem esforço algum e com grande espanto, que na metade da copa voltada para a minha janela predomina folhagem clara, enquanto que na metade oposta predomina folhagem escura. A junção não só deu nova vida à árvore como fê-la mais bela e diferente do que qualquer outra.

Você sabe que todos dizem que eu sou “Diferente”. Eu não gostava disso antes, não conseguia entender. Pensava que as pessoas só viam um lado da minha personalidade e ficava triste por isso. Com o passar do tempo, no entanto, percebi que muitos realmente vêem apenas um lado da copa árvore: aquele de que estão mais próximos. Entretanto, alguns olham por outro ângulo e podem admirar a beleza da união dos opostos que se completam. Descobri que esses são alguns que param na rua, olham pra árvore e tentam entender como ela pode ser assim, no fim, sorriem e continuam andando, pois não importa entender o porque, mas sim ver quão magnífico é ser diferente.

Estou feliz de novo, depois de ter escrito para você. Que coisa! Às vezes amigos nem precisam estar por perto, nem mesmo precisam se falar para ajudar um ao outro, às vezes, a simples ligação entre eles é suficiente. Muito obrigado por me ouvir, todas as vezes que eu preciso ser ouvido! Quando eu me mudar, apareça lá pra tomar um chá gelado, quem sabe a gente faz isso enquanto olha, da janela do meu quarto, pra uma nova árvore crescendo.

Abraços e beijos!

Max” - Guardião Triunfante

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Anônimo disse...

Cada história realmente tem um cantinho, irmãozinho... O cantinho da nossa história é um lar de velhinhos, uma casa de repouso, e não sei... talvez já tenhamos repousado bastante... Talvez seja hora de sacudir um pouco..
Como na sua outra carta, as coisas estão mudando mesmo... E não vou pensar que estao se acabando... Porque sempre poderemos achar um lugar onde repousar... E depois que deixarmos este lugar, ainda poderemos sacudir a vida juntos... os irmãos velhinhos num bailinho da terceira idade, rs...

Você é minha alma irmã, talvez alma pai... hauau... Muito obrigada por tudo!