sábado, 11 de outubro de 2008

Fiat Om.

Olá! Como vai você? Espero que as coisas estejam bem! Bom, estou te escrevendo porque comecei a ouvir um monte de músicas e acabei pensando em você. Daí vieram outras pessoas, lembranças, coisas que os sons me faziam sentir. Em cada nota havia algo diferente, novo e maravilhoso, a bela melodia da vida. Alguns acreditam que a base do Universo está no som, nas vibrações, nas ondas de cordas invisíveis. Seja para hindus ou cristãos a primeira manifestação do Todo veio a partir do som da voz do Criador.

Pra mim a música é uma forma da “Grande Arte”, é um meio de se chegar a essência das coisas, na essência de nós mesmos. Quando eu ouço uma música ela penetra no fundo do meu ser, me faz sentir o que ela tem pra dizer, cada nota é a manifestação de um sentimento vivo dentro de mim. Somos uma grandiosa música, que nunca pára. Você pode imaginar como seria a minha música?

Nasci num único som, a batida leve dum tambor. Minha mãe diz que não chorei logo, mas meu coração estava batendo dentro do peito. Assim começa minha sinfonia, só com um “tum-tum”, devagar, baixinho, sem perspectiva alguma, sem um rompante complexo, sem inúmeros acordes e notas. Eu vim ao mundo quase em silêncio.

As pessoas que nos cercam podem fazer planos sem conta e tentar prever nosso futuro, podem nos dizer como fazer certas coisas e nos obrigar muitas outras, no entanto, a próxima nota é a gente que toca. Somos os músicos da orquestra regida pelo Destino. Ele nos impõe ritmos, nós controlamos a melodia.

De repente eu me vejo aqui, já muito distante daquele quase silêncio. Uma partitura enorme ficou pra trás. Já toquei órgãos de tubo, guitarras elétricas, violinos e violões, um belo sitar indiano, uma bateria ensurdecedora, um piano... Nunca há um compasso de espera. Nossa essência não pára.

E a nossa música se entrelaça, se compõe mais e mais, nossas notas, sozinhas, se unem e formam acordes. É assim com a gente, essa carta é minha música tocando dentro de você. Feche os olhos e ouça. E se um dia nossos acordes se tornam dissonantes, se as vibrações sonoras das nossas músicas estão desarmônicas, o nosso maestro nos expulsa da banda e manda cada um ir tocar no seu canto. É assim, porém você não pode apagar a partitura e minha música segue com você, marcada junto da sua, pra sempre.

Claro que não posso e é até infantil falar sobre isso, mas se pudesse, escreveria lá adiante na minha partitura umas notas agudas, de violino talvez, colocaria um coro de muitas vozes, as palavras cantadas não importam, desde que fossem verdadeiras. Unir-se-iam a eles muitos instrumentos, todos com uma melodia belíssima e agradável, forte em sua suavidade como rugas num rosto infinitamente amado e amador. Então, de um em um, eles iriam calar-se, cada soprano e cada tenor, os alaúdes e as harpas, os pratos e também os violões, cada um pararia, delicadamente. Por fim, restaria um “tum-tum”, não num tambor, como no início, mas tocado com um único dedo no meu amado piano. Eu sorriria e assim, abruptamente, cessaria minha última nota.

Maximiliam

1 bilhete em resposta, escreva o seu!

Someone disse...

Definitivamente, uma morte muito mais bonita do que normalmente ocorre... Você só se esqueceu de dizer que depois disso há um outro ato, que não sabemos, não conhecemos e que é mais incerto do que a partitura que você acabou de me contar. Agradeço muito a oportunidade que você me deu de ter uma parte de sua múica em mim. Um monte de abraços e beijos cheios de notas musicais formando uma nova e linda melodia! =]