domingo, 14 de novembro de 2010

O fim de todos os medos


Contraditoriamente, eu começo escrevendo sobre o fim. Todo final é emocionante: quando terminamos algo em que empreendemos grandes esforços, quando desvendamos um mistério que, há muito, nos intrigava, quando abandonamos o peso de uma obrigação realizada, quando rompemos relações, seja por realmente desejarmos ou por forças maiores do que nós, quando chegamos onde gostaríamos de estar ou quando nossos passos são interrompidos por alguma razão. Tudo isso nos emociona. Podemos ficar tristes, felizes, aliviados ou conformados com o fim, mas é certo que poderemos ver mudanças em nós mesmos em relação àqueles que éramos quando iniciamos a caminhada. Acredito que, quando percorremos uma trilha, há duas grandes recompensas: a primeira são todas as vivências desse percurso e a segunda é, sem sombra de dúvida, as mudanças que se operam em nós durante o trajeto.
Como você deve saber pelo que tem lido nas minhas últimas cartas, eu venci muitas batalhas e encontrei minha realização como fruto da liberdade. Passei a sentir que não conheço ainda uma barreira que, com alguma vontade e esforço, eu não possa transpor. Nas vezes em que não somente o término, mas a escolha de quando irá ocorrer, dependem unicamente de nossa vontade, podemos sentir medo, no entanto, notei que esse medo é despropositado, tendo em vista que, independentes de nossas escolhas, o futuro e suas consequências não podem ser plenamente conhecidos, mas somente imaginados.
Foi com essa idéia em mente que, três dias atrás, eu mesmo finalizei algo que começara há alguns meses, como uma forma de me ajudar a superar minhas crises. Não há nada que possa pagar ou demonstrar a minha mais profunda gratidão às pessoas que me ouviram, que me aconselharam e estiveram presentes durante meu encontro, face a face, com os medos mais profundos de minha alma, e sou grato, ainda mais especialmente àquela voz da qual me despedi há três dias e que talvez nunca mais encontre, mas que gostaria que soubesse que carregarei sempre dentro de mim.
Já há quase dez anos, eu passei a trilhar uma senda e essa senda me conduziu por lugares maravilhosos. No entanto, há poucas semanas, oficializou-se não o fim, mas a mudança de forma dessa jornada, o término de uma fase. Em meio a um período de tantos términos e metamorfoses, ontem, pude reviver um início: fui convidado a falar a um grupo de dezesseis garotos que iniciaria sua própria caminhada na mesma senda que eu percorrera. Isso muito me emocionou, pois pude ver, em cada um deles, tanto aquilo que fui, como aquilo que sou e aquilo que poderei ser.
Observei em seus olhares certa ansiedade e certo receio pelo desconhecido. Poucos dentre eles se conheciam, mas alertei-lhes que em nenhum momento eles estariam sós e que, cada um deles, dali em diante, seria parte de algo muito maior e, por isso, deveriam sempre zelar uns pelos outros e contar uns com os outros. É claro que eles enfrentarão dificuldades, mas, na mesma proporção em que se apresentarem os problemas, surgirão pessoas dispostas a auxiliá-los. Disse-lhes que eles tem muito que aprender, muito que sentir e muito com que se emocionar na estrada que ontem iniciaram.
É incrível poder dizer que, apesar de estarmos vivendo os mesmos dias no tempo, eu e eles estamos inseridos em diferentes momentos: eles ainda se encontram no amanhecer e eu já atingi o meio-dia. Apesar da diferença, notei que sim, sentados naquelas cadeiras enquanto me ouviam, eles representavam tudo aquilo que eu já fui. Também percebi que eles eram muito semelhantes àquilo que sou, pois nenhum de nós conhece o futuro e, por mais planejado que ele esteja, ainda é incerto. Além disso, eles são símbolos do que eu serei: alguém que, a cada instante, iniciará uma jornada.
A vida é um ciclo, ora estamos de fronte ao desconhecido, ora precisamos deixar aquilo que nos é caro. Sempre haverá quem nos ajude e, portanto, o mais sensato é não temer. O medo pode surgir ante o desconhecido e podar nossa liberdade, todavia eu aprendi que para dar cabo dele é necessário apenas aceitar os riscos de dar o próximo passo. Quando eu hesitava avançar, por temer aquilo que poderia encontrar, me privava de experiências, se boas ou ruins, não sei, mas certamente experiências vividas. A ousadia é o fim de todos os medos.
Agradeço a todos vocês por me mostrarem tanto o fim quanto o princípio e por se mostrarem presentes, sempre, em cada um desses momentos! Muito obrigado!
Seu amigo,

Max

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Unknown disse...

Cara, estou num momento de início de uma jornada definitiva na minha vida, e sabe, este texto veio muito a calhar. Uma frase tua pegou fundo: "A ousadia é o fim de todos os medos."
Você é o cara, Max!

Abração!

LOL disse...

Suas cartas são inspiradoras, e ler seus textos é uma experiência única de leitura. E em especial, o penúltimo parágrafo é muito inspirador. Parabéns e continue sempre escrevendo. Até mais!