domingo, 1 de julho de 2012

Procura-se residência


Liguei a televisão ainda há pouco e vi alguns minutos de um filme que já estava pela metade. Não gosto muito de ver filmes pela metade, por isso deixei pra assistir em outra oportunidade. Filme famoso, no entanto nunca tive curiosidade suficiente para correr atrás até agora. Nos cinco minutos em que a TV permaneceu ligada, um curto diálogo me chamou atenção: uma mulher tibetana e um alpinista europeu compararam o conceito de grandiosidade para seus povos. Para ele, a glória consiste em estar no topo, acima de todos os homens, custe o que custar. Para ela, a glória, o ápice, é o abandono do ego.
Na vida cotidiana eu mesmo venho tendo dificuldade para seguir meu próprio conselho: um passo de cada vez. É muito difícil não ficar tentado a prestar mais atenção ao topo da escada do que ao próximo degrau. A consequência é óbvia até mesmo para uma criança aprendendo a subir escadas: corremos o risco de tropeçar ainda muito longe de onde queríamos chegar. Pular degraus? Bom, acho que essa é uma aventura que já custou belos machucados para todos quando crianças... Pra quê tanta pressa? A maioria não percebe que, enquanto passa correndo pela vida, deixa passar, incógnitos, verdadeiros mestres aos quais bastaria um pouco de cortesia para que nos deixassem conhecer os segredos da existência.
Tenho procurado, incessantemente, o meu canto, o meu lugar. Ainda não sei onde é, mas sei que não é onde estou. Preciso de um lugar com uma bela vista do mundo ao meu redor, como aquela que um sábio pode te mostrar da laje de algum prédio. Faço questão que seja silencioso o suficiente para que eu consiga ouvir meus pensamentos e meu coração. Não precisa ser grande porque se a gente prima pela leveza, não vai mesmo carregar muita coisa do passado além daquilo que é útil e essencial no presente.
Aconchegante, receptivo, acolhedor. Três características importantes de um lugar que eu desejo compartilhar com alguém. Seja para um filme com pipoca, uma pausa no meio da tarde, um jantar romântico ou um chá surpreendentemente filosófico e revelador. Meu canto é onde eu me sinto bem e, por isso mesmo, é um lugar no qual meus convidados se sentem bem. A decoração é minimalista porque não é preciso ter muito, desde que se tenha o suficiente para compartilhar.
Uma vizinhança, pouco importa se grande ou pequena, mas uma que saiba sorrir com sinceridade. Não custa lembrar que vizinhança nenhuma tem qualquer obrigação para comigo, então é importante ter sempre em mente que não posso esperar nada dos vizinhos além do que a gentileza deles esteja disposta a ofertar. Bons vizinhos, na maior parte das vezes, são bons vizinhos simplesmente porque nós mesmos estivemos dispostos a confiar neles.
Pode parecer uma morada muito utópica, mas acho que é essa vida que eu quero chamar de lar, onde quer que eu esteja. Um último ponto importante: a vista pro mar não é essencial, mas é altamente desejável.
Corretores de imóveis não precisam entrar em contato. Grato,
Max

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Barrozo disse...

Eu sempre vejo o teu blog como um daqueles guias de estudos sobre um livro. Você sempre colocando perguntas sobre algum capítulo do livro da vida.

Esses meses na Suécia me fez pensar muito nisso: o lugar que eu quero para mim. Por mais maravilhoso que seja esse país em termos de leis, serviços públicos, natureza, povo educado, mulheres lindas, sinto que este não é o meu lugar. Pelo menos até agora vejo que não é.

Cheguei à conclusão que o meu lugar não precisa ser perfeito. Barão Geraldo, com todos os seus problemas, foi onde eu passei os melhores anos da minha vida. Afinal, por que uma pessoa imperfeita tem que querer um lugar perfeito? É em lugares imperfeitos que pessoas imperfeitas evoluem mais, e vêem que não precisam de muito para serem felizes.

Boa sorte na sua jornada em busca pelo seu Nirvana.

Abração!