domingo, 24 de outubro de 2010

A lição da abdicação

Quando dei por mim, o tempo havia passado. Os momentos que, num instante, davam a impressão de que se repetiriam indefinidamente, noutro, se tornaram lembranças amadas queimando dentro do peito. Estou lhe enviando essa carta, pois estou disposto a mostrar-lhe que apesar disso, aprendi que a abdicação – não o esquecimento – é necessária algumas vezes e que ela certamente será muito mais proveitosa e prazerosa do que o sofrimento do apego irracional a um passado mesmo que magnífico. Por favor, compreenda, desde já, que apesar de qualquer palavra poder, a princípio, demonstrar o contrário, o que sinto é uma grande felicidade, a felicidade de alguém que honra os aprendizados do ontem com seus olhos postos no amanhã.

É engraçado como nós, seres humanos, temos uma relação estranha com o tempo. Quando jovens, desejamos que ele passe rápido e que cheguem logo os dias de nossa maioridade. Quando nos tornamos adultos, desejamos conter ao máximo o fluxo das areias da ampulheta para que aquilo que vivemos nos bons momentos se torne eterno. O grande questionamento que devemos nos fazer é: quando estamos certos? E ainda mais profundamente: como saber se essas memoráveis situações não são eternas, já que o tempo nada mais é do que um conceito criado para explicarmos melhor a sucessão de eventos?

A Teoria da Relatividade Restrita, proposta por Einsten, demonstra claramente a fragilidade de nosso pobre conceito de tempo: pelos postulados propostos nessa teoria, dois eventos distintos podem ocorrer em ordens diferentes para observadores colocados em diferentes referenciais. Deixando de lado a Física, temos consciência que, ao menos para o coração e para a mente, cada instante tem uma duração diferente dependendo de quem o está vivenciando.

Se você é tão sedento e apaixonado quanto eu pelo conhecimento, deve perceber que tudo aquilo que vivemos nos permite aprender. Cada olhar trocado, cada passo dado, cada palavra dita e ainda mais ouvida, enfim, estamos em processo de constante aprendizagem e, se nos permitirmos, veremos beleza em todas as situações.

Do mesmo modo, se você é tão sensível quanto eu, certamente viverá cada segundo tentando extrair dele a mais maravilhosa vivência e o maior dos sentimentos. A consequencia mais imediata disso é: ser passível de sofrimento. Confesso que demorei muito para perceber isso e não aceitei imediatamente minhas conclusões. Diante de mim se colocavam dois caminhos opostos: empreender o grande esforço da mudança visando tornar-me mais frio e menos sensível àquilo que me cerca ou simplesmente aceitar os eventuais sofrimentos que viriam pelo caminho.

Depois de muitos questionamentos, tomei o caminho que julgo ser o mais sensato: viver ainda mais sensivelmente do que tenho vivido até agora e tornar cada impacto mais chocante, cada dor mais insuportável e cada decepção mais amarga, porém, também tornaria cada carinho ainda mais gostoso, cada sorriso ainda mais prazeroso e cada surpresa ainda mais maravilhosa.

Ontem oficializei um término que já há algum tempo ocorrera. De modo algum foi um rompimento, mas acredito que tenha sido uma transformação. A aceitação de que os bons momentos foram os melhores e que cada momento ruim serviu ainda mais para que eu aprendesse me mostrou como reconhecer que o “tempo” acabou e que chegou a hora de abdicar.

Não há contradição em se desapegar dos instantes, sejam eles bons ou ruins e, ao mesmo tempo, recordá-los para sempre, como as boas experiências que foram. E para você, uma última coisa que todos percebemos, quase sempre, tarde demais: independente daquilo em que acreditemos, a vida, como a conhecemos, acaba e seria realmente triste, como escreveu o filósofo Henry Thoreau “quando morrer, descobrir que não vivi”. Pense a respeito!

Até breve! E me mande uma resposta, se possível! Ficarei feliz em saber o que você pensou!

Max

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Someone disse...

Acho que esse caminho sensato, mas ao mesmo tempo, mais pesaroso em muitos sentidos, é o caminho que nos proporcionará sentir a felicidade, enquanto pelo outro caminho, será difícil definir um objetivo de vida, já que na maioria das vezes, os seres humanos vivem para serem felizes. E como seriam felizes, não é mesmo? =] Beijos, já estou com saudades! =P