domingo, 22 de dezembro de 2013

Feitiçaria de verão

Trilhei muitos caminhos para aprender o que segredo do lado de lá do mar. Primeiro o mestre me mandou olhar o meu reflexo nas águas calmas da lagoa. Contemplei a mim mesmo, do nascer ao por do sol. Então a noite chegou, sem estrelas e sem luar, e eu já não via mais a mim mesmo. Perguntei ao mestre o que deveria fazer já que eu não reconhecia mais meu reflexo nas águas agitadas do lago. Fique quieto e vá embora, disse ele, vá caminhar.
Sozinho e em silêncio, caminhei por toda a terra. Cheguei à encruzilhada sem saber que rumo tomar. Voltei ao mestre e perguntei o que deveria fazer já que estava na encruzilhada, sem mapa para me orientar. Conhece a todos pelo caminho, disse ele, alguém há de te orientar.
Conheci e observei toda pessoa pelo caminho, escolhi, enfim, o rumo que deveria tomar. Novamente a noite chegou e eu não reconhecia o lugar em que estava. Voltei-me ao mestre e perguntei o que deveria fazer já que havia escurecido e eu não tinha certeza se estava onde deveria estar. Você agora é feiticeiro, disse ele, se tiver dúvida, a única solução é queimar.
Eu estava com medo do Fogo, mas estava determinado a prosseguir. Precisava refletir e descansar antes de continuar. Num lindíssimo dia de verão, cheguei à praia deserta e o barulho do mar foi o aconchego da alma cansada de tanto caminho. Com o coração tranquilo, sentia a areia sob meus pés e andava sem pressa, pelo tempo que me foi necessário. Então vi que, por mais que eu andasse na areia, as pegadas eram levadas pelas ondas quando a maré mudava e, do passado, restava apenas lembrança. Satisfeito, decidi que havia chegado a hora de queimar.

O mar está fervendo.

A fogueira foi quem esquentou a água do mar.
Eu acendi a fogueira pra fazer mandinga,
acendi a fogueira pra poder queimar.
Eu acendi o fogo nas águas do mar.
Eu dançava aquela dança insana,
aquela dança de roda,
aquela dança de rodar.
Eu rodava feito louco,
cantava em volta da fogueira,
rodava cantando,
cantava rodando,
rodava e cantava,
cantava e rodava,
queimando e queimando
nas águas do mar.

O mar está fervendo!

Depois de todo o Fogo, toda a dança, todo o feitiço de verão, não havia mais medo e o oceano que me separava daquele aprendizado estava seco. Atravessei a pé toda a distância e consegui chegar. Lá me esperava o Mestre. Você aprendeu, disse ele, aprendeu andando que você sempre teve asas para voar.


Max

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