O
pequeno aprendiz de feiticeiro subia aquela rua sinuosa como se fosse uma
estrada secreta. Subindo e subindo, cercado de árvores e casas misteriosas, a
curta distância se fazia incrível jornada na imaginação juvenil. A mágica, no
entanto, estava lá no alto. Como um tesouro escondido num castelo a ser descoberto,
há muitos e muitos anos, havia uma biblioteca.
Quando
minha mãe nos levou àquela biblioteca pela primeira vez, não sabíamos ler.
Mesmo assim, era fantástico encontrar tantos e tantos livros com desenhos
maravilhosos e imaginar as histórias incríveis que depois ela poderia ler pra
nós. Por muitos anos ela fez o caminho conosco, enquanto aguardávamos,
ansiosos, para o encontro com o maravilhoso. Aquele lugar se tornou meu
refúgio, mesmo depois, quando já podia seguir sozinho, pois era para lá que o
coração me dirigia quando precisava enfrentar os desafios de crescer. Foram os
livros que me ensinaram a sonhar.
Até
poucos dias, com incertezas tantas à frente, poucas novidades pareciam interessantes
para serem contadas nas cartas e mensagens que escrevo. Então alguém me disse
que minhas novidades são sempre fantásticas e que minha vida, em meio a de
tantas pessoas parecidas, é muito peculiar. Passei muitos dias refletindo sobre
isso e agora acredito que essa afirmação seja parcialmente verdadeira. Alimentados
pelas páginas de poetas, romancistas e dramaturgos, quantos e quantos sonhos surgiram
e como cada um deles tem feito da minha vida uma sucessão de aventuras!
De anos
e anos de sonhos, receio que tenha realizado pouquíssimos, quiçá, nenhum deles.
Pode parecer estranho, mas isso deixa meu coração, além de aliviado, muitíssimo
feliz. Entendi que os sonhos são nuvens, com formas que julgamos conhecer, contudo,
é bom lembrar que nenhuma nuvem é um castelo ou uma árvore ou um dragão: somos
nós que imaginamos essas coisas quando olhamos para elas. O mais importante não
é descobrir o lugar mais lindo do mundo numa viagem, formar a família mais
feliz e realizada, sermos presidentes que conduzem o povo à glória ou ganharmos
o prêmio Nobel que mudará o destino do mundo, o que realmente importa nos
sonhos são as aventuras às quais eles nos conduzem em cada um dos dias de
nossas vidas.
O
erro naquela afirmação não é sobre a minha vida, mas sobre as pessoas: ninguém
é tão parecido, o que ocorre é que alguns não aprenderam a sonhar os seus
próprios sonhos. O direito de sonhar tem sido tomado. Aquela biblioteca foi
fechada alguns anos atrás. Ela não alimentará mais os sonhos de ninguém. Talvez devêssemos lutar para que a todos fosse dado o privilégio que me foi dado. A nossa
verdadeira vontade é quase sempre desconhecida, por isso construímos barcos de
coragem e fazemos velas de sonhos. Gostaria que todos tivessem pano para suas
velas, acho que é por isso que eu continuo escrevendo, porque acredito que um
dia, o que eu escrevi, vai fazer alguém sonhar.
No princípio era o Sonho, e a Sonho estava
com a biblioteca e o Sonho era a biblioteca. Ela estava no princípio com o Sonho.
Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele, nada do que foi feito se fez.
Nele estava a vida, e a vida era a minha aventura...
Max
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Sabe que essa semana eu finalmente fiz o meu cartão da biblioteca municipal daqui. Eles tem uma porrada de livros sobre mitologia nórdica, e eu fiquei viajando demais só vendo as figuras (meu nível de sueco ainda não é suficiente para desfrutar da leitura).
Parece que as nuvens viajam do Brasil à Suécia e sintonizam nossos pensamentos e sonhos, meu velho.
Um grande abraço das terras de Odin!
Você me ganhou no "Para Gaga"...
;)
Brigada, Max. Mil beijos.
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