Ontem, na
volta do cinema, o ônibus demorou uma hora pra passar. Comigo nunca havia
acontecido nesse trajeto. Quando cheguei no ponto tinha uma moça, muito
atraente, claramente nervosa pela demora do seu ônibus. Fumava. Na vida
agitada, é tão raro termos tempo pra parar um pouco e pensar sozinhos que
procuro encarar a espera como uma oportunidades para olhar em volta e analisar
o mundo que me cerca. Mesmo reconhecendo que as pessoas tem razão em dizer que
eu penso demais, prefiro assim: acho que se eu pensar bastante vou enxergar
mais as sutilezas das diferentes tonalidades do mundo. Sério, fixei o olhar na
loira fumante.
A última
semana só poderia ser classificada como intensa. Boas notícias, surpresas, recompensas
e decepções. Diversas vezes quis relatar o que estava sentindo, mas,
felizmente, não consegui. Como disse um grande amigo, palavras de grande emoção
precisam ser ditas com grande razão. O filme de ontem falava um pouco da busca
por respostas, do eterno questionamento humano “Quem sou eu?”. Hoje, depois
dessa semana tão cheia de tons, percebi que eu estava sendo pedante, percebi
que, assim como em todos os filmes com esse tema, eu não podia estar tão certo
do que sou, do que sinto e ainda mais do que poderia sentir ou ser.
Enquanto
esperava o ônibus me surpreendi com a mudança na minha própria visão.
Pouquíssimo tempo atrás, aquele era um dos meus lugares favoritos, um dos
lugares que eu mais admirava, que eu mais achava bonito. Ontem, apesar das pessoas,
das luzes e de todas as lembranças fantásticas dos momentos que eu vivi ali,
percebi que já não é mais o meu lugar. Sorri. Talvez a linda mulher tenha
pensado que eu sorria para ela. Mandou-me um olhar enigmático e um sorriso
misterioso. Acendeu seu quarto cigarro. Lembrei que eu dizia que não
conseguiria viver longe dali. Ri. A gente fala tanta coisa do futuro com uma
certeza que parece até discurso de louco. Nunca imaginei minha vida assim, no
entanto, aqui estou eu, realizado. Ela deve ter pensado que eu era louco. Sorri
de novo, mas dessa vez, só porque estava feliz.
É necessária
muita sobriedade pra não afirmar algo baseado na convicção que temos daquilo
que julgamos conhecer. Ficar me perguntando quanto tempo mais meu ônibus
demoraria não faria com que ele chegasse mais rápido. Acender um cigarro atrás
do outro também não. Ainda assim, a gente continua se fazendo perguntas
desnecessárias e tomando atitudes sem sentido. Se não consigo prever nem os
horários tabelados de passagem dos ônibus, como é que quero prever os passos do
meu próprio eu? Por sinal, mesmo com a infinidade de linhas que atende aquele
ponto, acabamos pegando o mesmo ônibus, mas, sem trocar palavras, ela com sua
ansiedade e eu com meus pensamentos, descemos em paradas diferentes...
Max
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Cara, você sabe que sou fã de seus textos (acho que já te disse trocentas vezes). Sabe que esses dias eu tive uma certa "epifania", por assim se dizer?
Eu estava apaixonado por uma garota, que no começo era uma grande amiga, e depois que eu falei o que sentia, ela desapareceu. Fiquei numa bad trip um bom tempo, até uma certa noite quando fui tomar banho. Eu pensava nela enquanto ajustava a temperatura do chuveiro. Eu estava triste.
Coloquei a minha cabeça sobre o chuveiro e me foquei no tato das gotas caindo na minha cabeça. Era como se cada gota me consolasse, e comecei a achar aquele banho o melhor da minha vida. Queria que ele nunca acabasse. Mas daí a gente lembra que é mancada com o mundo fazer isso.
Saí pra me secar, e me foquei em como eu secava meu cabelo, meus pés com a toalha. Tinha sido a melhor secada da minha vida (bizarro falar isso). A tristeza fluiu pelo ralo.
No final, a vida é toda sobre o presente.
Saudades de você, meu velho! Um abraço das terras nórdicas!
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