Ontem eu
assisti ao filme “Forrest Gump” pela primeira vez. Como se não bastasse essa
declaração absurda para os meus amigos cinéfilos, devo dizer que ouvi falar
pelo filme pela primeira vez só há uns poucos anos, já depois de ter entrado na
universidade. Acredito que todos somos um pouco como o tal Forrest, buscando
nosso destino, nossa sina no mundo. Além disso, todos temos histórias de aventuras
incríveis para contar, as marcas de uma existência fantástica guardada no
coração.
Talvez você
não conheça meus passos. Talvez você não conheça meus amigos, minha família ou
minha casa. Talvez você sequer conheça minha face. No momento, só o que eu sei
é que você não conhece meu coração. Isso, no entanto, não é culpa sua. Também
não é culpa dos meus vizinhos, dos meus amigos ou dos professores da
universidade. Hoje em dia poucos conseguem manter o foco para ver mais longe, sentir
o mundo ao seu redor e ouvir mais atentamente. Estão todos ocupados.
Numa época de
ocupações de e por todo lugar, é deprimente notar que a maioria está, todo o
tempo, ocupada apenas consigo mesma. Diariamente leio textos que incitam os
homens ordinários a se tornarem heróis memoráveis. Vivemos uma nova “era dos
heróis da liberdade”, mas, diferentemente dos heróis das eras passadas, os libertários
do presente ouvem palavras de ódio e intolerância e, sem pensar, sacam suas
armas modernas em defesa de ideias sobre as quais sequer refletiram livremente.
Do meio da
turbulência, quanto mais alto você gritar, quanto mais longe uma voz, que nem
sua é, for ouvida, mais heróico você se sentirá, pois a função dos novos heróis
é ser o eco da voz de um mundo oco. Não pensamos duas vezes antes de falar, como
recomenda o provérbio, não pensamos nem mesmo uma vez! Falamos aquilo que nos chega
torto ao pé do ouvido e não damos volume aos murmúrios de uma nova revolução
gloriosa, mas replicamos as intrigas mesquinhas que nos são contadas.
Esquecemos de
ouvir de verdade! Não fomos nós que perdemos o foco por nos terem tomado o tempo
para prestar atenção às vozes que nos falam, fomos nós mesmos que amordaçamos
nossos ouvidos em prol dessa heróica ilusão silenciosa. Pouco provável que os homens
que não sabiam ouvir tenham se tornado heróis, acredito até que os que muito falaram
sem nada escutar foram mesmo os grandes ditadores. Todos estão contando
histórias num ponto de ônibus cheio de pessoas e vazio de ouvintes.
Então, sem
ouvir as fábulas dos corações dos outros, nos tornamos completamente insensíveis,
abafando cada uma das nossas ideias e sentimentos. O problema é que ideias e
sentimentos são como a chama e a chama, sem ar, apaga. Ouvidos tapados,
corações apagados, almas vazias do princípio essencial da mudança: fé. Só há
mudança se houver fé de que o futuro será melhor do que o presente tem sido e
só há fé se conseguirmos conhecer, minimamente, os corações dos professores da
universidade, dos amigos, dos vizinhos, conhecer os nossos próprios corações.
Eu ainda gosto
de sonhar. Nos meus sonhos, a gente consegue ouvir uns aos outros. Vamos fazer
silêncio para tentar ouvir... Tem um som bonito não é? O silêncio...
Max
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Cara, que lindo! Meus parabéns!! Acho que hoje em dia queremos, mais do que nunca, narrativizar nossa vida (onde cada fato tem um motivo e uma opinião) pra que possamos ter a impressão de controlar nossas próprias vidas. A obrigação de termos opinião nos sufoca e nos impede de ouvir os outros ou a si mesmo.
Mais uma vez, meus parabéns!
Grande abraço!
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