Difícil admitir
tanta coisa, principalmente pra alguém que sempre foi tão pressionado para ser “perfeito”.
Fechar os olhos para as imperfeições é perigoso porque certamente vai chegar uma
hora em que vamos precisar encarar os fatos, encarar a nós mesmos, encarar
aquilo de que procuramos nos esconder por tanto tempo. Hoje eu não quero
ensinar nada, nem tampouco provocar reflexões e muito menos assistir os desdobramentos
das palavras nas vidas de cada um. Não, hoje só o que eu quero é desabafar.
Dói encarar
os fatos e admitir que errei, que esqueci, admitir que ignorei tanta coisa no
meio do caminho. Agora, parece que o relógio soa badaladas graves e terríveis,
como se fosse o anúncio de um carrasco vindo com o machado afiado lançar sua sentença
pesada sobre o meu pescoço. As coisas fugiram do planejado, quem sabe até
tenham fugido do controle em algum lugar no passado que já não dá mais pra
mudar.
Hipocrisia
seria dizer que não me arrependo. Atire a primeira pedra quem acha que nunca se
arrependeu. Arrependimentos, todos têm, só que arrependimento não enche
barriga, nem cabeça, nem coração. Sigo em frente agora, mesmo sabendo que não
cheguei onde esperava, tento erguer a cabeça e encarar, com os sorrisos que me
restam, o cadafalso que me aguarda à frente.
Nunca me
senti tão velho e é incrível ver como apesar disso eu sinta que deixei tanta
coisa por fazer. Será que vai ser assim quando a velhice chegar? Talvez nós é
que sejamos eternos insatisfeitos com nossas conquistas. Quem dera fossemos
todos loucos, como Dom Quixote, sempre avante inspirados pela loucura.
O mais
difícil é aceitar que não importa com quem ou com quantos eu fale: ninguém mais
tem nenhuma resposta, ninguém mais tem nenhuma fórmula mágica, ninguém mais
pode fazer as coisas serem de outro jeito porque as coisas não são de outro
jeito e não depende de mim mudá-las. Agora, mesmo os mais cheios de fé me dizem
que não há o que fazer senão aceitar. O maior desafio para um sonhador é não
conseguir encontrar mais ninguém que compartilhe seu sonho louco em que tudo
acaba dando certo. Isso tudo porque o “certo” do sonho, no fim, é a loucura que
não consigo enxergar impossível, a realidade tem outro “certo” bem diferente do
que eu esperava.
Já não
importa mais se foi por minha culpa, por culpa dos outros ou por culpa de
ninguém, já não faz mais sentido tentar encontrar alguém para culpar. A
realidade me encontrou e o choque com ela explodiu na minha cabeça com a mesma
força do machado do carrasco. Decepou as ilusões com destreza e os sonhos jazem
caídos ali, ao lado de um corpo que precisa deixar-se ir para encontrar novos
sonhos para seguir adiante: sonhos sonhados com um olho aberto e o outro
fechado.
Sinto um
vazio esquisito de tristeza, já estou sentindo saudade, já entendi que chegou a
hora de me despedir do lado de cá, me despedir do sonho e partir. Adeus.
Max
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