quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Você não tem medo de mim?

E aí, como vai a vida? Nada poderia substituir uma conversa nossa, mas já que isso não é tão simples (e o que é que tem sido simples nesses dias confusos?), estou escrevendo essa carta pra te contar as últimas novidades e acontecimentos, em especial, pra falar de um pensamento-sentimento que despertou em mim.

Ao contrário do que eu esperava, minhas férias estão sendo até que bem divertidas. Saindo algumas vezes, vendo muitos filmes, tendo experiências novas, tudo muito interessante. Um acontecimento dois dias atrás, entretanto, me deixou bastante perturbado. Aqui se faz necessário que eu peça, por gentileza, que você se esforce para compreender a versão resumida da história porque contar tudo seria enfadonho e trabalhoso demais. Estava numa estação de metrô aguardando uma pessoa junto às catracas, do lado “de fora”. Do lado “de dentro” uma garota, visivelmente preocupada, pedia informações à funcionária da estação e essa respondia: “Sim, essa estação tem duas entradas, a outra linha de bloqueios fica na outra ponta da plataforma de embarque”. A garota agradeceu e, rindo aquela risada de “ai, e agora?”, parou ao meu lado. Ela também estava esperando alguém, ela do lado “de dentro”, eu do lado “de fora”.

Por um motivo qualquer as pessoas que esperávamos estavam atrasadas, bem atrasadas ou, quem sabe, estivessem esperando na outra saída, do outro lado da estação. Nossa preocupação comum e uma mulher pedindo informação aos dois foram os fatos que nos deram chance de começar um diálogo. Muito simpática, a garota propôs uma estratégia para que ambos se ajudassem: descrevemos um ao outro as pessoas que esperávamos, fiquei aguardando onde estava e ela foi para a outra entrada procurá-los. Depois de alguns minutos ela voltou. Ninguém tinha aparecido, em nenhum dos lados. Eu, acostumado aos imprevistos de São Paulo e aos atrasos dos meus amigos, estava esperando bem tranqüilamente, já a garota, vinda do Distrito Federal, estava em pânico. Ela tinha um cartão telefônico, mas não havia telefone público dentro da estação, como ela não podia sair ou teria de pagar mais uma passagem, me perguntou se seria possível que eu fosse até a rua e telefonasse para sua amiga. Obviamente concordei, afinal, estava esperando, sem grande comprometimento com horários e não havia motivo para não ajudá-la.

A cena que vou descrever é a que, infelizmente, não está me deixando em paz. Estava subindo as escadas e me deparei com uma garota falando ao celular. Ela era muito parecida com a descrição que a moça me fizera de sua amiga e a ouvi dizer “já estou aqui na estação”.

“Com licença...” – disse eu.

“Eu não quero falar com você!” – me respondeu a garota, extremamente agressiva, fazendo um gesto com a mão livre, uma ameaça, algo como um sinal de que eu deveria me afastar.

“Mas eu só queria...” – tentei continuar, porém ela desceu alguns degraus falando, desesperada, ao celular.

“Eu vou desligar, não, não posso falar agora! Tem um cara me perseguindo...” – disse ela ao seu interlocutor enquanto descia correndo as escadas.

Tentei ir atrás dela para explicar o que estava acontecendo, porém imaginei que nada do que eu fizesse poderia resolver a situação, além disso, se ela fosse mesmo a amiga da garota, então quando eu telefonasse, da rua, a situação toda se esclareceria. Saí, telefonei e voltei. Não, a garota desesperada não era a amiga da moça da estação. No fim, bem, tudo acabou dando certo, a amiga da moça chegou primeiro, depois encontrei quem estava esperando. Mesmo assim, continuei estranhamente preocupado com o que aconteceu nas escadarias, não conseguia me esquecer de jeito nenhum.

Pode parecer pouco, pode parecer uma besteira, mas aquela cena não sai da minha cabeça. O gesto hostil, o “não quero”, a desesperada descrição “um cara me perseguindo” e o seu olhar... o seu olhar terrível, como fogo. Detesto situações mal resolvidas e mesmo sabendo que não há chances de encontrar aquela garota de novo, pensar que ela fez tão mau juízo de mim me deixou triste. Nem sequer sei o que ela pensou que eu fosse! Talvez nem ela tenha pensado em nada, o mais provável é que tenha agido assim por medo. O estranho é saber que eu também senti medo, tanto medo quanto ela deve ter sentido, não dela, mas sim um medo do medo que ela sentia, das atitudes absurdas e completamente impensadas que ela poderia tomar tão somente por não conhecer meus propósitos, por ignorar a razão.

Nossa! Essa carta já está enorme, preciso parar por aqui. Ainda tenho bastantes coisas pra te contar, coisas que eu estou pensando e sentindo, conseqüências dessa história e de outros acontecimentos. A princípio, o que eu tenho pra concluir está condensado nas palavras de um grande sábio: “o medo é apenas uma preguiça da vontade”.

Até breve! Seu amigo,

Max”

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