Parece que
foi ontem que escrevi minha primeira carta. Foi escrita numa folha de monobloco
amarelada, dada pela minha “avó de coração”, por sinal, ela mesma era a
destinatária da carta. Eu devia ter uns dez anos de idade, no máximo. A carta
falava de amor, o amor puro e simplório de uma criança pelo mundinho à sua
volta. Lembro que, ao receber a carta, ela disse que meus “escritos” eram muito
bonitos e me deu o velho monobloco inteiro, para que eu continuasse a escrever.
De certa forma, aquelas folhas amareladas foram meu primeiro “caderninho”...
Parece que foi ontem, mas muitos anos já se passaram desde então. Muitos se
foram, muitos vieram, muito mudou e eu, no entanto, continuo escrevendo.
A gente
cresce e aprende tanta coisa que acaba esquecendo como eram simples as coisas
quando éramos crianças. Aprendemos milhares de novas palavras, porém,
banalizamos tanto os seus significados até a maioria delas se tornar um
conjunto de fórmulas vazias. Alguns aprendem a desenhar e, justamente por isso,
cortam as asas da própria imaginação, outros aprendem a fazer cálculos e passam
a quantificar coisas incontáveis. As coisas eram bem mais legais quando éramos
crianças, quando desenhar um inseto com giz de cera e dizer que era um
monstro-horrível-de-sete-cabeças era completamente lógico, quando amor era
simplesmente amor e não tinha explicação, nem tamanho, nem preço.
Esses dias eu
estava por aí, pelo mundo, em uma das minhas aventuras. Quem estava comigo deve
ter percebido como eu fiquei abobalhado com coisas pequenas, mas todo mundo
também deve ter notado que essas coisas pequenas, pra mim, tinham mais valor
que qualquer coisa naquele momento. Uma garotinha ordenava ao avião que
decolasse e aplaudia feliz conforme ele obedecia, em outro lugar, enquanto o
avião decolava, um garotinho gritava “Isso é adrenalina pura!” e ao mesmo tempo
levantava os braços como numa montanha russa. Pouco importa se o avião não pode
ouvir nossas ordens ou se a adrenalina é um hormônio secretado pelas glândulas
supra-renais, o importante mesmo é que, no mundo das crianças, tudo pode ser
como se deseja e, se não for, pode-se passar por cima de tudo para fingir que
é.
Fazemos
sacrifícios pra tentar nos concentrar nas obrigações, sem perceber que são as
obrigações que estão nos distraindo da vida. Passamos a correr em meio à
multidão sem nos perguntarmos onde é mesmo que queríamos chegar. É assim que
perdemos os olhos de ver e não notamos mais quando sorrisos irresistíveis estão
nos pedindo um beijo nem enxergamos que voltar não implica regredir, mas
retornar para o lugar de onde viemos quando éramos crianças. Disseram-me que a
água do Rio Doce é doce quando ele encontra o mar, mas bobo que sou, não
experimentei para sentir por mim mesmo. Se conseguíssemos sentir tudo de
verdade, um só caranguejo já nos faria felizes, só pelo trabalho, só pelas
caretas, só pela diversão.
É... não sou
mais criança, prova disso é que eu escrevi um texto enorme pra dizer algo que
antigamente eu diria com um sorriso, um abraço acanhado e uma palavra:
Obrigado!
Max
* Trecho do livro “O Hobbit” de J. R. R. Tolkien. O livro
narra a fantástica viagem de Bilbo Bolseiro, a qual mudou sua vida para sempre.
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3:30 am do dia 28/04/2012. Uma menininha de seus 3 ou 4 anos, sentada na poltrona 8A, voo 9040 Guarulhos para Vitória começa a falar assim que o avião se dirige para pista de decolagem: "Decoia avião, decoia! (pausa) Paiabéns!!!"
E entre um pedido e outro da mãe para que falasse mais baixo, a menina se empolgava e voltava a falar alto. Para o desespero daqueles pregados de sono, quando a mãe sugeriu que ela dormisse a menininha disse: "Mais eu não to com sono". Foi uma longa viagem...
nossa max palavras exatas q eu precisava ouvir (ler) hj....li ouvindo sua voz na minha mente....saudades!!!
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