A última
semana foi bem diferente. Acordei numa madrugada sentindo muita dor, dor de
dente. Meu dente siso se indispôs com a minha gengiva e a coisa ficou bem
chata. Felizmente, essa semana foi estranhamente boa e hoje a chuva cai lá fora
com a promessa de um novo ano tranquilo e mágico.

Ninguém pode
dizer que a gente perdeu (eu p.e.r.d.i. [1]) porque ninguém, além de nós
mesmos, sabe quantas vitórias existem dentro do nosso coração ainda que, do
lado de fora, nossos corpos jazam destruídos nas trincheiras da vida: o que
mais importa é a batalha da felicidade anunciada à própria alma, a única que
pode ser compartilhada em lágrima ou em sorriso. Esse ano,
muito embora alguns possam dizer e pensar o contrário, eu fui muito, muito
feliz.
A grande
habilidade que precisamos desenvolver (admito, eu mesmo preciso muito) é saber transformar
o adverso, mesmo que só de faz de conta, só pra gente poder fingir que está
vendo as estrelas caindo mesmo com o céu nublado, só pra não ficar triste por
perder a maior noite de chuva de meteoros do ano.
Tem dias que
a gente se sente só, se sente carente e não importam quantos beijos loucos a
gente dê em gente louca, quantas conversas superficiais a gente tenha ou quantas
besteiras a gente leia por aí, na internet: vazio não se preenche, vazio se ocupa.
Esses últimos tempos muita gente se revoltou, muita gente ocupou o mundo, mundo
a fora, mas acho que tem muita gente também que não está sabendo ocupar o vazio
que tem dentro de si mesmo. Esse vazio cada um ocupa do jeito que acha melhor, o
importante é saber que ele nunca estará completo e tentar enxergar não o meio
vazio, mas sempre o meio cheio.
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Foto de Davi Martins |
O dente doeu
muito, nossa, como doeu! Pra quem está sentindo dor, pode parecer o fim do
mundo e cada segundo pode parecer uma eternidade, mas toda dor passa, uma hora
sempre passa. Eu tive o privilégio de unir pessoas e eu mesmo senti a dor de me
separar de outras pessoas. Honra foi vivenciar ambos os sentimentos com atenção.
Por mais que isso já seja um clichê dos mais batidos, vou repetir que nos
acostumamos com as despedidas, pois chega uma hora na vida em que percebemos
que o sentimento é o mesmo dos encontros: é o nosso coração que saúda o coração
de quem a gente ama – Namastê! [2]
Eu estive um
longo tempo perdido, procurando a resposta para quem fui e o que me tornei. Acho
que nunca tropecei tanto, mas também sei que “se eu me perdi quando eu errei
(...)” [3] agora eu me encontrei errando mais ainda! Além de sua existência, um
homem deve agradecer por ter alguém para lhe apoiar nas quedas. Posso afirmar, com
total segurança, que nunca me faltou um ombro amigo para chorar e um braço
forte para me levantar quando eu caí (até literalmente). O curioso é que os
mesmo que nos seguram, são aqueles que sabem nos respeitar quando precisamos
ficar sozinhos, quando os caminhos que escolhemos nos conduzem por veredas que
precisamos trilhar com nossas próprias pernas.

Seu amigo,
seu irmão, seu garoto que escreve,
Max
[1] Para aqueles ridículos purbas
que estão no jogo.
[2] Um dos significados
difundidos pelos hindus para a palavra namastê
é “o Deus que há em mim saúda o Deus que há em ti”
[3] Extraído da música “Fugi
desse país” da banda Ludov
[4] Adaptação de uma saudação extraída
do livro “O Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel”, no idioma fictício quenya,
no qual se diz “Elen silá lúmenn omentielvo” (Uma estrela brilha na hora de nosso encontro).