segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Dança dos passos perdidos


Estou tentando aprender a dançar. Acho que faz algum tempo que não encontro algo novo para me deixar tão empolgado. Eu sempre achei que seria impossível aprender e, por isso, nunca tentei. Devo dizer que experiência está sendo ótima (o que, definitivamente, não implica em ótimos resultados, mas com certeza algum progresso) e tenho notado que esse é um bom meio de mudar de ares e, de certa forma, conhecer novos passos para dar.
Acontece que se passou exatamente um ano da minha grande epifania, do momento em que eu me senti mais pleno, realizado e satisfeito em toda a minha vida. Naqueles dias, tudo pareceu absolutamente lindo, cada sabor, aroma, ruído e imagem compunham um verdadeiro espetáculo, foi mais marcante que um filme com roteiro fantástico, trilha sonora sublime e fotografia impecável: diferente de um filme, aquilo foi vivenciado, foi real.
Apesar das dificuldades, das incertezas e dos obstáculos pelo caminho, há um ano atrás eu ria e dançava despreocupado, saltava por sobre pedras do caminho, corria livre com o vento de encontro à face: sentia a realização como seiva brotando da própria Árvore da Vida e correndo, tranquila, dentro das minhas veias. A plenitude real não parte depois que a deixamos entrar, mas ela muda de forma, talvez, para dar mais emoção às cenas que sucedem. Depois de um ano, tudo continua a passar no mesmo filme incrivelmente belo e tão intenso como outrora, porém, composto de cores e sons completamente diferentes.
Hoje, aquele riso deu lugar a um sorriso sutil, os passos de dança tornaram-se mais bem marcados, agora fico sentado sobre as pedras refletindo sobre a paisagem, deixando a alma caminhar livre e vagarosa por campos desconhecidos. Bons filmes podem contar com cenas muito irreverentes e, depois, muitíssimo mais dramáticas, mas não menos emocionantes. Creio que eu esteja agora passando por uma cena dramática, sentindo o coração apertado e com olhos marejados por precisar abdicar de certas alegrias para evitar certos sofrimentos.
Meus passos não foram os mesmos que os seus, caminhamos em velocidades diferentes e sinto que estamos em pontos bem diversos da jornada. Gostaria que você conseguisse enxergar a beleza da plenitude do que eu tenho vivido e apesar de eu ser infinitamente grato por cada alegria e cada tristeza que temos vivenciado juntos, queria que você compreendesse minha decisão: não posso e não quero correr para lhe alcançar no caminho. Espero que você perceba que o único motivo para que eu esteja prefirindo abdicar de acompanhar-lhe numa dança é para que eu não me machuque por estar com os passos perdidos num rítmo que ainda não conheço e que eu preciso, ironicamente, aprender sozinho.
Mesmo que eu lhe negue a próxima dança, por favor, saiba que estarei aqui para dividir outras alegrias e outras tristezas, para ouvir e para falar, pois somos protagonistas de filmes de um mesmo Diretor e já atuamos juntos muitas vezes em verdadeiras obras primas. Um último pedido: na dúvida, não custa me tirar para dançar, pois prefiro a felicidade do convite que não posso aceitar à tristeza da possibilidade que me foi negada.
Do amigo que sempre lhe quer bem,

Max


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