Moro perto de
uma lagoa, no meio dela há uma passagem para pedestres que a divide em duas. Na última sexta
feira, estava atravessando a passagem quando olhei para o lado esquerdo e,
maravilhado, vi uma trilha amarela sobre as águas calmas. Eram pequenas flores
de uma árvore que há no meio da passagem que caíram durante a noite sobre a água.
Resolvi fotografar, mas além de minhas parcas habilidades como fotógrafo,
acredito que a beleza daquilo só pudesse ser realmente apreciada ao vivo.
Obviamente,
aquilo me fez pensar (um amigo vive me dizendo que eu penso demais, talvez ele
tenha razão... mesmo assim, não me desfaço dos meus pensamentos). Fez pensar
que no mundo a maior parte das coisas está indefinida, que embora a flor nasça
dos altos galhos da árvore com um possível objetivo biológico, ninguém pode
dizer ao certo qual será o fim ao qual ela se prestará.
Florzinhas
amarelas... Completamente efêmeras, assim como nossos sentimentos, assim como
nossos desejos. Se apenas uma delas estivesse flutuando no lago eu não acho que
teria notado. Só o rastro de milhares delas me fez parar e até arriscar uma
fotografia. A raiva de um dia, as palavras caladas ou as ditas
inconsequentemente, um atraso, um fracasso ou uma derrota, sozinhos, eles nada
significam. Deveriam ser, portanto, efêmeros em nossas vidas.
Somos meio
bobos às vezes, achamos que valemos mais ou menos que as flores que caíram no
caminho ou que aquelas que caíram na água, ou mesmo que aquelas que ainda estão
na copa da árvore. Fato: uma hora ou outra, toda flor irá murchar, apodrecer e
voltar ao pó de onde veio. Assim é com todas as coisas, assim é conosco.
O engraçado é
que enquanto a maioria passa apressada, tem sempre algum maluco pra parar e
olhar com bons olhos pra paisagem do lago. Sorri e estava guardando a câmera
quando me virei de volta para frente, mirando no meu próprio caminho. Acabei
tirando outra fotografia:
Gostei das
duas cenas. E agora, pensando mais um pouco sobre tudo isso, percebo que não há
muita diferença entre a flor que cai no caminho e a que cai no lago: um lago
não é um rio que corre, então, qualquer dos grupos de flores está sujeito às
mesmas duas condições: o vento e o movimento dos seres que passam. Conclusão
curiosa...
Max