domingo, 7 de agosto de 2011

Areia na margem do rio

A mente possui mil caminhos, portas, passagens, incontáveis segredos que cada um pode desejar guardar ou revelar. Os mistérios são como nuvens amorfas de neblina: turvam nossa visão, gelam nossa espinha e alimentam nossas dúvidas. Despertos de nossos sonhos ainda estamos sob domínio do nosso subconsciente e, muitas vezes, não temos a capacidade de compreender as escolhas que fazemos.
Independente de nossa idade, acredito que somos todos como crianças. Nossas ideias, nosso conhecimento e mesmo nossos desejos podem mudar e envelhecer, mas há atitudes comuns que compartilhamos e repetimos por toda a vida. Oportunidades aparecem no meio da noite, na mesa ao lado, e nós ainda as encaramos com receio, como se fossem fantasmas de névoa.
Tente parar, por alguns instantes, e pensar no que torna cada um realizado. Questione-se: o que cada pessoa no mundo almeja para sentir-se realizada? Quanto maior a abrangência desse questionamento, quanto mais pessoas forem envolvidas nesse seu jogo mental, você perceberá quão pequenas são as suas ambições. Uma família, fama, algum bem material, fortuna, saúde, poder, por maior que possa parecer, nada disso pode ser realmente encarado como algo absolutamente grandioso. Para além dos sonhos, a ilusão do desejo ainda é muito pequena. Somos crianças que se satisfazem com brinquedos simples, por mais reluzentes ou fantásticos que possam parecer.
Ajoelhado na beira do rio, o garoto recolhe a areia com as mãos. Olha para ela como se olhasse para o universo todo, como se tudo pudesse caber naqueles pequenos grãos. Ilusão, mas é a ilusão que satisfaz. Ele não precisa de nada além de seus grãos de areia e, satisfeito, sorri. Corre o rio. Enquanto ele sorria olhando a areia reluzindo na luz do sol, as águas carregaram a areia que escorria pelas suas pequenas mãos. O rio de águas doces sente o gosto salgado das lágrimas da criança. Logo, no entanto, ele voltará a recolher areia na margem do rio sorridente. Ele é criança, assim como nós.


[uma música: Ilusion – Julieta Venegas & Marisa Monte



“Uma vez eu tive uma ilusão
e não soube o que fazer
(...)
E ela se foi
Porque eu a deixei
Por que eu a deixei?
Não sei
Eu só sei que ela se foi”]

Max 

2 bilhetes em resposta, escreva o seu!

Becca disse...

Crianças são curiosas...
Adoro discutir com voce!

disse...

em outra música que remete a ilusões Caetano nos diz:

"Cada um sabe a dor
E a delícia
De ser o que é..."

Estou a pensar sobre isso!