sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O Despertar

Já faz bastante tempo que não escrevo... Peço desculpas por não ter enviado uma carta sequer por quase um ano. Como é de se esperar, aconteceram muitas coisas nesse longo período. Não seria possível, em uma única carta, enumerar todos os acontecimentos terríveis e magníficos que sucederam, no entanto, para que consiga retomar nossa comunicação, devo falar sobre algumas situações e conclusões desse tempo. Em momento algum pensei em deixar de lhe escrever, porém, fui carregado por uma onda de preocupações, tristezas e problemas que pareciam dominar toda e qualquer ação que não fosse essencialmente necessária. Assim, deixei muitos de meus prazeres para permanecer apenas resolvendo assuntos cada vez mais prementes, no meu modo de pensar, e parte de mim acabou por adormecer.

Perdido, eu vaguei por um mundo de sonhos, todos estranhos, perturbadores e ao mesmo tempo reconfortantes. A comodidade do sonho nos faz não desejar mais enxergar o mundo como ele realmente é. A cada passo dado em direção à profundeza se torna mais difícil despertar. A loucura foi um apelo constante nesse mundo, pois, na incapacidade de resolver os conflitos do mundo externo, mente e coração se inquietavam e passavam a libertar feras soturnas, outrora abrigadas em cantos inomináveis de meu ser.

Dessa vez, não foi o salto no abismo ou o deixar consumir-se nas chamas da Phoenix e nem mesmo a tempestade formada pelas palavras de grandes mestres que me levaram a despertar. Infelizmente precisei de uma grande dose dessas coisas e ainda muitas mais para perceber que todos os monstros que eu imaginava estar vendo pela primeira vez, já haviam sido, há muito, acolhidos por mim. O despertar foi, assim como a queda na profundeza do sonho, lento e gradual.

Sempre defendi a idéia de que somos os únicos responsáveis pelos desdobramentos de nossos atos. Nessa trajetória, provei do gosto amargo das limitações e aceitei as consequências de escolhas antigas. Compreendi que o arrependimento nocivo pode sempre estar a nossa porta, porém somos nós mesmos que decidimos por dar-lhe crédito ou expulsá-lo através da aceitação de nossas limitações. Numa viagem realizada nas últimas férias, eu reencontrei uma tolerância que esquecera e pude, finalmente, vislumbrar a beleza onde havia me convencido só existir treva.

Cada lágrima, sorriso e grito, cada dor sentida ou compartilhada, cada uma das crises de enxaqueca, cada uma das palavras escutadas, das decepções, surpresas e felicidades, cada um dos amigos, tanto presentes quanto ausentes, cada novidade e escolha, cada mudança de postura, cada notícia, boa ou má, cada erro tolerado, admitido e perdoado, tudo isso foi, aos poucos, me fazendo despertar, não como antes, mas novo, com novos poderes.

Pode parecer que essa carta não acrescente nada de novo, pois, como em muitas outras vezes, vivi situações marcantes e elas me ensinaram algo, entretanto, devo dizer que dessa vez me percebi muito mais frágil e passivo de erros, consequentemente, me tornei muito mais forte. O que diferencia os verdadeiros Triunfantes é o fato de aceitarem as adversidades, especialmente aquelas pelas quais eles mesmos são responsáveis, admitindo serem simples seres humanos imperfeitos e, desse modo, se tornarem os mais grandiosos seres humanos buscadores da perfeição. Todos necessitam de ajuda, o tempo todo, basta olhar em volta. Ajude alguém hoje, ajude a si mesmo.

Muito obrigado por não esquecer de mim! Espero sua resposta! Em breve nos corresponderemos novamente!

Maximiliam

Deixe um bilhete